A rapper paulista Tássia Reis, de 27 anos, acaba de lançar o disco Outra esfera, em que se destacam as letras maduras e bem estruturadas. “Retrato coisas que vejo, vivo e sinto. Mulher negra, já vivenciei boa parte do que transmito em minhas músicas. O racismo não me deixou ter um estágio na época da faculdade, por exemplo. Quando me dei conta de que estava à margem da sociedade, agarrei a oportunidade com unhas e dentes. Parei de ser enganada. Não estava tudo bem. E, desde então, me vi capaz de fazer alguma coisa para mudar. Posso falar de amor, mas sei que o amor para uma jovem negra tem outra conotação. Existe o machismo e o racismo. Os recortes estão ali o tempo inteiro e mudam o enredo da história”, diz ela. Milton Nascimento participa de concerto-homenagem com professores da UFMG Domingos Montagner ganha homenagem no Circovolante, em Mariana Daniel mistura roça e paixão em seu novo álbum de inéditas Mineiro de Uberlândia, Gilberto Araújo Faria Júnior, o Rato, disputa a final mundial do campeonato de b-boys Badi Assad abandona conforto instrumental e canta em novo disco
As sete faixas do álbum mostram uma artista heterogênea, consciente da sonoridade que é capaz de produzir. Em Não é proibido, Tássia exibe sua versatilidade com beats leves e psicodélicos. Se avexe não, por outro lado, aproxima a rapper da MPB. Nessa faixa, ela externa seu lado “vozeirão”, algo, até então, inédito para ela. A canção termina em samba, gênero que a influencia desde criança.saiba mais
Tássia nunca se viu como cantora. Queria ser jornalista. Pouco tempo depois de concluir o ensino médio, passou a frequentar uma oficina de redação na periferia de Jacareí e aprendeu a escrever poemas. Sem dinheiro para presentear a professora no dia do aniversário, resolveu homenageá-la com três textos. “Ela falou que aquelas palavras tinham ritmo, que aquilo, na verdade, era música. Não acreditei, mas o tempo foi passando e senti vontade de escrever cada vez mais”, relembra.
MULHER O principal tema das canções de Tássia é o empoderamento feminino. As letras falam abertamente sobre o controle do corpo da mulher negra e do machismo enfrentado por elas diariamente.
“O machismo está dentro do próprio rap, de todas as formas possíveis. Cite ao menos cinco rappers que você costuma ouvir. Aposto que são todos homens. Não vem mulher na sua cabeça, mas isso não significa que elas não existam no mundo do hip-hop”, afirma.
Para Tássia, as rappers estão em posição secundária e nunca vão ocupar o grupo da elite porque o sistema não permite que isso ocorra. “Há várias artistas que fizeram história no rap nacional, mas não são conhecidas. A invisibilidade é cruel e não permite que as mulheres cheguem lá. Os line-ups de festivais são bons exemplos disso: só tem homem! A mulher precisa sempre ficar provando que é capaz de estar lá. Não odeio os homens, muito pelo contrário, mas quero a minha parte, minha vez, meu pedaço do bolo”, afirma.
Para Tássia, o diálogo está mais aberto, mas ainda falta chegar lá. “Só vou dizer que melhorou quando a mulher tiver as mesmas possibilidades de um homem. Isso, infelizmente, está muito longe de acontecer”, conclui.
OUTRA ESFERA
De Tássia Reis
Independente
iTunes: US$ 6,93
www.tassiareis.com.br