É hora de a cantora paulistana de recém-completados 24 anos voltar à carreira solo, interrompida em 2013. Depois de uma canção que soltou na internet há pouco mais de um mês, Casa pronta, ela deixa Portugal, onde fixou residência com Camelo, para Saudade, dois shows de voz e violão realizados em São Paulo e no Rio. “É bem estranho estar no palco e não tê-los comigo. Mas, ao mesmo tempo, isso é o que faço desde que me reconheço por gente: tocar meu violão para as pessoas ouvirem”, diz Mallu, hoje mãe de um bebê, Luísa, de oito meses, fruto de sua relação com Marcelo Camelo.
Um apanhado de músicas de seus três álbuns solo e do disco da Banda do Mar, Saudade traz como novidade a bossa nova Casa pronta , canção que dá pistas sobre o álbum de inéditas que ela começa a preparar para o ano que vem. “As composições vão bastante nesse caminho (do Casa pronta). E vou procurar músicos que me ajudem a atingir esse resultado.
Tanto na nova canção quanto em Quando ela olha pra você (que Gal Costa gravou em seu disco do ano passado, Estratosférica), percebe-se que a musa folk, depois de uns flertes com o samba, aderiu a uma pulsação diferente – algo até um tanto benjoriano, admite.
“Esse suingue vai entrando na gente e, quanto mais a gente escuta, mais a gente balança”, poetiza ela, que incluiu no show até um samba de Almir Guineto, Motivo. “Eu tinha um contato com o samba paulista, de Adoniran Barbosa, mas com o samba carioca a relação é mais recente. E o fato de eu morar fora do país me fez escutar muita música brasileira. Muito Jorge Ben, Caetano, Gal, Almir e aqueles primeiros discos do Zeca Pagodinho.”
No meio do caminho, veio ainda uma leve (mas significativa) mudança de instrumento. “Como no começo da carreira eu escutava mais folk e rock, era o violão de cordas de aço que eu tocava. Mas aí fui gostando mais de MPB e tocando mais o de cordas de nylon. Hoje, é só ele que tenho em casa. Na hora de compor, isso acaba meio sugerindo um tipo de música”, explica.
METAS
Com Luísa a tiracolo na viagem, Mallu lamenta que a turnê Saudade seja tão curta. “Neste momento, tenho que colocar metas atingíveis”, assume. “Preparei-me pra caramba, tive o maior trabalho de fazer o cenário e marquei só dois shows. Fico pensando muito nos fãs que não podem ir ao Rio ou a São Paulo. Mesmo nessas duas cidades, em que tenho apoio da família, é difícil.”
De certa forma, Saudade serve a Mallu como uma espécie de laboratório para o disco.
Reiterando a sua finalidade de “fazer um disco bonito com músicas bonitas”, e não de, simplesmente, sair em busca de um público mais amplo, Mallu adianta que o novo trabalho terá produção de Camelo (“A gente se deu bem no estúdio, ele é um ótimo produtor, e esse é também um jeito de estarmos juntos. Além do mais, se tem uma pessoa que conhece samba carioca e música brasileira, é o Marcelo”). E será feito metade no Brasil, metade em Portugal, com músicos dos dois países.
A saudade que dá nome ao show de Mallu não só é real como é também forte. “No ano passado a gente acabou a Banda do Mar, depois o Marcelo teve shows com os Hermanos, e aí a gente voltou a Portugal para ter a nenê. Fiquei muitos meses lá, sem voltar para cá, e aí sim eu senti falta do Brasil”, conta ela, que aproveitou bastante os três anos de vida lisboeta. “Poucas pessoas têm o privilégio de ir atrás do lugar onde se sentem bem.