A paciência é uma virtude que o cantor e compositor carioca de 73 anos, que tocará em BH esta semana, parece cultivar há muito tempo. Com a mesma serenidade com que cantou o Hino nacional brasileiro diante de milhares de pessoas no Maracanã (e revelou o tal detalhe, diga-se, não muito abonador), ele revela estar perto de resolver o impasse (com a gravadora Sony) que o tem atrapalhado de lançar discos. Lá se vão 13 anos sem um álbum com canções inéditas – Meu tempo é hoje foi o último.
“Tudo por causa de questão mal resolvida de direitos autorais. Certos compromissos foram assumidos e ficou uma dúvida sobre quem não havia cumprido o que deveria. Houve uma mudança lá na Sony e fui procurado para conversar. Está quase certo de resolver essa pendência toda e estamos pensando em fazer um novo trabalho”, observa. A intenção é que o próximo disco seja lançado em breve e músicas inéditas (dele e com parceiros), assegura, não faltam.
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De lá pra cá, vieram prêmios, viagens, reconhecimento e, claro, a maturidade. Ao mesmo tempo em que reduziu a marcha dos lançamentos a partir dos anos 1980 (houve hiatos de até seis anos), o artista viu crescer seu reconhecimento de público e crítica, passando a ser visto cada vez mais como um compositor sofisticado, ainda que sem deixar de soar popular. Não por acaso, hoje, é comum associar a figura elegante de Paulinho à alcunha de “Príncipe do Samba”.
“A partir de 1983, quando gravei Prisma luminoso, percebi que as coisas estavam mudando. Conversando com produtores, vi que não deveria me preocupar tanto com essa obrigação de mostrar coisa nova. Só fui lançar disco de novo em 1989, Eu canto samba, e aí a coisa foi se espaçando. Não estava mais com essa necessidade, meu trabalho foi se desenvolvendo mais e o público mais jovem começou a me procurar mais”, relata.
Inéditas O artista promete o mesmo repertório para as apresentações de sexta e sábado, no Teatro Bradesco, na capital mineira. A seleção de canções é baseada na que apresentou no espetáculo anterior, com o qual comemorou meio século de carreira, ano passado. Há algumas não tão óbvias para o público, a exemplo de Dama de espadas e Nova ilusão, ao lado de sucessos como Dança da solidão e músicas muito regravadas, como Coração leviano. Já Vela no breu, Quando bate uma saudade e Choro negro ele não cantava há tempos.
ORQUESTRA
Em junho, Paulinho
Da Viola esteve na Holanda, onde se apresentou com a Orquestra Filarmônica de Roterdã. “O violonista Yamandu Costa fez a primeira parte e eu a segunda. Meu filho também participou. Tivemos um único ensaio. Houve tensão, mas foi lindo e o público se mostrou muito generoso. Gostaram tanto que há a hipótese de tocarmos de novo no ano que vem. Eles querem vir ao Brasil”, conta o artista. Há a possibilidade de a performance virar disco.
Filhos seguem trilha da música
Paulinho tem celular e computador, mas diz não fazer muito esforço para ficar conectado. “Falo com meus filhos que não tenho pique para essa quantidade de informação. Se eu fosse mexer com computador, não faria mais nada na vida. O que recebo de solicitação é uma coisa que você não tem ideia. Além disso, hoje não tem conversa e as pessoas estão sempre com celular na mão, digitando alguma coisa”, conta. O artista afirma que seus dois filhos o ajudam nisso, mas sem fazer deles secretários seus.
A propósito, suas crias também seguiram o caminho da música. João Rabello é violonista, enquanto Beatriz Rabello, cantora, se prepara para lançar um disco – ambos costumam acompanhar o pai com frequência em shows. No caso de João, ele chegou a tocar com o avô César Faria (pai de Paulinho), violonista do grupo de choro Época de Choro, morto em 2007. Compositor, ele já gravou dois discos autorais.
“Quis que ele tivesse bebido nessa fonte. Gravou discos e vimos que o universo dele é diferente, mas ficou comigo porque somou ao trabalho que fazemos. Ele tem outra visão, menos tradicional, como era meu pai, que veio da escola do choro. Já minha filha, gravamos juntos uma música no disco dela e fiz um samba para ela, que encerra o trabalho”, diz Paulinho. Beatriz, que tem atuado em musicais e recentemente participou de SamBra, de Gustavo Gasparini, deverá lançar o álbum ainda este ano.
Ele se define como “um homem do século de 19, um marceneiro”. Não é força de expressão: fazer móveis e objetos de madeira, além de reparar instrumentos musicais, é o passatempo predileto dele. Ou, pelo menos, era. “Para você ter ideia, fechei minha oficina por conta do tanto de compromisso que ando tendo. Olha que faço isso desde garoto e isso faz parte do meu universo, me faz muito bem. Desde o começo do ano não mexo com madeira, é desagradável”, desabafa. Há que ter paciência, ele sabe bem.
Paulinho da Viola
Sexta-feira e sábado, às 21h, no Teatro Bradesco (Rua Bahia, 2.244, Lourdes).
Ingressos: R$ 250 (inteira) e R$ 125 (meia), à venda na bilheteria, de segunda a sábado, das 12h às 20h. Informações: (31) 3516-1360.