A obra de Pixinguinha (1897-1973) costuma ser tratada, muitas vezes, com um excesso de reverência que não permite a alguns de seus intérpretes póstumos oferecer leituras alternativas de seu trabalho imortal. Em 2013, para lembrar as quatro décadas sem o autor de Carinhoso, os produtores Fran Carlo e Peterson Mello resolveram convidar o baixista e arranjador Marcos Paiva para criar um espetáculo dedicado ao repertório de Pixinguinha que fosse marcante. No início apenas instrumental, o projeto evoluiu, com a entrada da voz de Vânia Bastos e dos músicos Nelton Essi (vibrafone), César Roversi (sopros) e Jônatas Sansão (bateria).
Sucesso absoluto, com entradas esgotadas, o show continuou em cartaz por várias cidades e chegou a incluir vozes convidadas de Selma Reis e Maria Alcina. Maduro, após uma trajetória quase três anos, o espetáculo foi registrado ao vivo, em estúdio, no início do ano, e agora sai em CD, pelo recém-criado selo Conexão Musical, de Fran Carlo.
Concerto para Pixinguinha, com 13 faixas, é uma sólida incursão por uma seleção de temas que vão dos sempre indispensáveis Urubu malandro, Lamentos, Rosa e Carinhoso a outros que costumam ser desfilados apenas por especialistas, como São Lourenço no vinho, Displicente e Recordações. A impressão que se tem é que Vânia, que já fez belos trabalhos com autores como Edu Lobo, Arrigo Barnabé, Caetano e Tom Jobim, estava afiando o estilo para chegar a Pixinguinha. E Marcos Paiva traz para palco e disco o misto de jazz e bossa que ostentou com sucesso no disco Meu samba no prato – Tributo a Edison Machado, de 2012, em que celebrava a música do baterista Edison Machado (1934-1990), um estilista que marcou a batida do samba moderno e da bossa nova.
O disco abre com Isso é que é viver, em que, após feérica e curta abertura instrumental, Vânia conduz a melodia e a letra de Hermínio Bello de Carvalho com todo sentimento, com o quarteto tecendo delicada textura que vai crescendo, com paciência e firmeza. O clima segue em Rosa (com letra de Otávio Souza) e explode na instrumental Seu Lourenço no vinho (parceria com Benedito Lacerda), como fosse uma jam session de final de noite, num antigo nightclub. Antes de um Carinhoso econômico e contido, vem Fala baixinho (também com letra de Hermínio), em que o intimismo dos versos (pra eu fala baixinho só ouvir) ganha equivalência na interpretação estudada delicadeza.
Com uma abertura que soa meio jobiniana, Cochichando é outro acerto instrumental, com o baixo conduzindo o grupo em diálogos bem construídos. No meio do caminho, Lamentos (com letra de Vinícius) vira puro jazz brasileiro com andamento quase solene. Também com versos do Poetinha, Mundo melhor coloca Vânia no patamar das boas cantoras brasileiras dos anos 1950 e 1960 e a faixa seguinte, Displicente, tem efeito semelhante para o Marcos Paiva Quarteto. As duas impressões se unem no sotaque de Samba de fato (com letra de Cícero de Almeida) e Gavião calçudo, remetendo aos shows antológicos do Beco das Garrafas. Leny e Elis agradecem.
O disco chega à reta final com a nostalgia cheia de imagens da instrumental Recordações e fecha com uma leitura com jeito de encerramento de musical de Urubu malandro (João de Barro/Louro), derradeira demonstração de que a empreitada foi bem sucedida e merece o sucesso que vem tendo entre plateias de fino trato.
Sucesso absoluto, com entradas esgotadas, o show continuou em cartaz por várias cidades e chegou a incluir vozes convidadas de Selma Reis e Maria Alcina. Maduro, após uma trajetória quase três anos, o espetáculo foi registrado ao vivo, em estúdio, no início do ano, e agora sai em CD, pelo recém-criado selo Conexão Musical, de Fran Carlo.
Concerto para Pixinguinha, com 13 faixas, é uma sólida incursão por uma seleção de temas que vão dos sempre indispensáveis Urubu malandro, Lamentos, Rosa e Carinhoso a outros que costumam ser desfilados apenas por especialistas, como São Lourenço no vinho, Displicente e Recordações. A impressão que se tem é que Vânia, que já fez belos trabalhos com autores como Edu Lobo, Arrigo Barnabé, Caetano e Tom Jobim, estava afiando o estilo para chegar a Pixinguinha. E Marcos Paiva traz para palco e disco o misto de jazz e bossa que ostentou com sucesso no disco Meu samba no prato – Tributo a Edison Machado, de 2012, em que celebrava a música do baterista Edison Machado (1934-1990), um estilista que marcou a batida do samba moderno e da bossa nova.
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Com uma abertura que soa meio jobiniana, Cochichando é outro acerto instrumental, com o baixo conduzindo o grupo em diálogos bem construídos. No meio do caminho, Lamentos (com letra de Vinícius) vira puro jazz brasileiro com andamento quase solene. Também com versos do Poetinha, Mundo melhor coloca Vânia no patamar das boas cantoras brasileiras dos anos 1950 e 1960 e a faixa seguinte, Displicente, tem efeito semelhante para o Marcos Paiva Quarteto. As duas impressões se unem no sotaque de Samba de fato (com letra de Cícero de Almeida) e Gavião calçudo, remetendo aos shows antológicos do Beco das Garrafas. Leny e Elis agradecem.
O disco chega à reta final com a nostalgia cheia de imagens da instrumental Recordações e fecha com uma leitura com jeito de encerramento de musical de Urubu malandro (João de Barro/Louro), derradeira demonstração de que a empreitada foi bem sucedida e merece o sucesso que vem tendo entre plateias de fino trato.