À sua maneira, Mano Brown transformou o palco do Racionais MCs, na madrugada deste domingo, em comemoração do Dia dos Pais. Desta vez, o BH Hall não ficou lotado, como ocorreu há dois anos, quando o grupo de rap mais importante do país trouxe à capital mineira a turnê comemorativa de seus 25 anos. Naqueles tempos de fartura, ingressos já haviam acabado no dia da apresentação, fazendo a alegria dos cambistas. Agora, a crise econômica bateu forte, sobretudo junto à garotada fã do grupo, mas também não nocauteou a "Família Racionais", formada preponderantemente por jovens da periferia.
Com pista cheia e arquibancadas pela metade -- com inteiras inicialmente a partir de R$ 100 e estratégico preço promocional de R$ 60 desde o dia 4 --, Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay empolgaram o público com antigos hits -- Negro drama, Vida loka, A vida é desafio e Jesus chorou, entre outros --, apresentando também as faixas do disco Cores e valores, lançado em 2014.
Mano Brown interrompeu o show várias vezes para conversar com o público. Disse ter necessidade de falar naquele momento, já Dia dos Pais. Contou ter sido criado apenas pela mãe, dona Ana, que não mediu sacrifícios para sustentar sozinha o filho único na São Paulo em que "Deus é uma nota de 100", como diz a letra de Vida loka.
Ele parabenizou os pais "de verdade", advertiu adolescentes para a responsabilidade de formar uma criança. "A favela amadurece cedo", comentou, referindo-se à paternidade precoce. E elogiou os colegas de palco como bons pais, brincando com Edi Rock, conservadíssimo e de cabelo descolorido -- "tá gostoso", segundo Brown.
FAMÍLIA Ovacionado, afirmou que a Boogie Naipe, produtora dos shows do Racionais, é uma espécie de extensão do lar. "Invisto a minha família no rap. Minha vida está enterrada nisso, mas não no rap de papelão", disse o rapper, pai de dois filhos e casado com Eliane Dias, executiva e advogada à frente da empresa, que acompanhava tudo nos bastidores. Visivelmente satisfeito com a empolgação da plateia, fez uma espécie de pesquisa, pedindo para quem tinha 20, 30 e 40 anos levantar a mão. Jovens formavam a maioria, comprovando que os quarentões do Racionais renovaram seu público. A moçada cantou as letras quilométricas dos clássicos dos anos 1990 e 2000 que falam de racismo, injustiça social e violência. Entre as novatas, Mal e o bem (com afinado duo de Edi Rock e Lino Krizz), Finado neguim e Eu te disse, eu te disse caíram no gosto dos fãs.
Mano Brown também criticou a intolerância. Fez outra enquete com os fãs, quis saber quem era católico, evangélico, protestante e do candomblé. Não poupou as seitas evangélicas que se julgam no direito de perseguir e agredir adeptos de religiões de matriz africana. Defendeu a tese de que Deus está na atitude de cada um -- de quem ajuda uma senhora a atravessar a avenida, de quem cata o lixo que outros jogam na rua. O diabo, afirmou, mora dentro daqueles que se julgam no direito de atropelar alguém e fugir.
Não teve "Fora Temer!" nem "Fica querida!", mas o rapper lamentou que o pobre se veja novamente punido, excluído do processo de divisão da riqueza do país. No fim do show, o Racionais brindou seu público como sempre faz: jogou champanhe nos fãs, ao som de Vida loka (parte 2). "Porque o guerreiro de fé/ Nunca gela/ Não agrada o injusto/ E não amarela", diz a letra.
CONVIDADOS Antes do Racionais MCs, apresentou-se o mineiro Das Quebradas, que aposta na mistura de rap com funk carioca e tem extenso fã-clube na internet; DJ Zeu, encarregado de abrir o baile; e Karol Conka, a sensação do rap feminino, com suas letras em defesa do respeito à diversidade, do empoderamento das mulheres e do feminismo. Uma das atrações da solenidade de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a curitibana faz literalmente a cabeça das garotas. Várias fãs ostentavam longas tranças cor-de-rosa, assim como a dona do hit Tombei. Carismática, ela arrasa no palco.
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Mano Brown interrompeu o show várias vezes para conversar com o público. Disse ter necessidade de falar naquele momento, já Dia dos Pais. Contou ter sido criado apenas pela mãe, dona Ana, que não mediu sacrifícios para sustentar sozinha o filho único na São Paulo em que "Deus é uma nota de 100", como diz a letra de Vida loka.
Ele parabenizou os pais "de verdade", advertiu adolescentes para a responsabilidade de formar uma criança. "A favela amadurece cedo", comentou, referindo-se à paternidade precoce. E elogiou os colegas de palco como bons pais, brincando com Edi Rock, conservadíssimo e de cabelo descolorido -- "tá gostoso", segundo Brown.
FAMÍLIA Ovacionado, afirmou que a Boogie Naipe, produtora dos shows do Racionais, é uma espécie de extensão do lar. "Invisto a minha família no rap. Minha vida está enterrada nisso, mas não no rap de papelão", disse o rapper, pai de dois filhos e casado com Eliane Dias, executiva e advogada à frente da empresa, que acompanhava tudo nos bastidores. Visivelmente satisfeito com a empolgação da plateia, fez uma espécie de pesquisa, pedindo para quem tinha 20, 30 e 40 anos levantar a mão. Jovens formavam a maioria, comprovando que os quarentões do Racionais renovaram seu público. A moçada cantou as letras quilométricas dos clássicos dos anos 1990 e 2000 que falam de racismo, injustiça social e violência. Entre as novatas, Mal e o bem (com afinado duo de Edi Rock e Lino Krizz), Finado neguim e Eu te disse, eu te disse caíram no gosto dos fãs.
Mano Brown também criticou a intolerância. Fez outra enquete com os fãs, quis saber quem era católico, evangélico, protestante e do candomblé. Não poupou as seitas evangélicas que se julgam no direito de perseguir e agredir adeptos de religiões de matriz africana. Defendeu a tese de que Deus está na atitude de cada um -- de quem ajuda uma senhora a atravessar a avenida, de quem cata o lixo que outros jogam na rua. O diabo, afirmou, mora dentro daqueles que se julgam no direito de atropelar alguém e fugir.
Não teve "Fora Temer!" nem "Fica querida!", mas o rapper lamentou que o pobre se veja novamente punido, excluído do processo de divisão da riqueza do país. No fim do show, o Racionais brindou seu público como sempre faz: jogou champanhe nos fãs, ao som de Vida loka (parte 2). "Porque o guerreiro de fé/ Nunca gela/ Não agrada o injusto/ E não amarela", diz a letra.
CONVIDADOS Antes do Racionais MCs, apresentou-se o mineiro Das Quebradas, que aposta na mistura de rap com funk carioca e tem extenso fã-clube na internet; DJ Zeu, encarregado de abrir o baile; e Karol Conka, a sensação do rap feminino, com suas letras em defesa do respeito à diversidade, do empoderamento das mulheres e do feminismo. Uma das atrações da solenidade de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a curitibana faz literalmente a cabeça das garotas. Várias fãs ostentavam longas tranças cor-de-rosa, assim como a dona do hit Tombei. Carismática, ela arrasa no palco.