A história poderia ter ficado por aí não fosse um convite para que Valle participasse, no Rio, de um show em comemoração aos 80 anos do Cristo Redentor. Não pensou duas vezes em convidar Stacey para dividir o palco com ele. Cantaram juntos pela primeira vez, no final de 2011, Samba de verão (1964), uma das mais conhecidas composições de Valle.
O primeiro encontro rendeu uma turnê, que rendeu um disco ao vivo (lançado em 2013, celebrando os 50 anos de carreira e 70 de idade de Valle) e uma grande amizade, que é referendada em um novo trabalho, Marcos Valle & Stacey Kent – Live at Birdland – New York City (CD e dois DVDs, um com show e outro com um documentário, Sony Music, R$ 64,90).
No encontro no palco, Stacey se debruça, com graça, no repertório bossa-novista. De Valle, estão canções essenciais do compositor que é parte da segunda geração da Bossa Nova.
PARCERIA Em vida, Vinicius, pródigo em parceiros, nunca assinou nada com Valle. Pois muito recentemente a parceria se concretizou, pelas mãos de Carlos Lyra, na música Amando demais (gravada ao vivo e em estúdio). É o próprio Valle quem conta: “Alguém da imprensa entregou para a família de Vinicius, que entregou para o Carlinhos uma letra (do próprio Vinicius). Embaixo, havia a anotação: ‘Carlos Lyra’. Aí ele pensou que não faria a música, mas sim criaria uma parceria que não tinha existido”. Pois num encontro em 2013 para celebrar o centenário de Vinicius, Carlinhos Lyra se levantou, fez um pequeno discurso e entregou a letra a Valle, que veio a registrá-la agora com Stacey.
Como não queria fazer apenas mais um disco com a cantora, Valle aumentou o projeto: um documentário que registrasse o encontro dos dois. Charles Gavin se responsabilizou pelo registro, gravado em Tóquio e Nova York. Com uma câmera onipresente, o ex-Titã acompanha os dois mais seus respectivos pares (a cantora é casada com o saxofonista Jim Tomlinson, seu parceiro constante), os músicos (a banda que viaja com eles é a de Valle) e tudo o que cerca uma turnê.
O respeito dos japoneses pela bossa nova é notório. Mas é interessante observá-los de perto e no tempo certo, com uma câmera respeitosa – seja o garoto que pede para tirar uma foto numa loja de discos; seja o crítico japonês analisando a música em um português com sotaque. “O japonês te ouve em silêncio total. Quando você acaba, eles são empolgadíssimos, mas, na hora que volta a tocar, sequer respiram”, conta Valle.
Depois de terem CD e DVDs em mãos, Valle e Stacey voltaram outra vez aos palcos na semana passada, com apresentações em São Paulo e no Rio de Janeiro. Por ora, não há previsão de mais shows.