Leva o nome de Jackson do Pandeiro, o rei do ritmo a caixa com 15 CDs e mais de duas centenas de músicas que coloca à disposição do público a obra de um compositor que está entre os maiores que o Brasil já teve e que, mesmo que não se note, tem presença marcante nos últimos 50 anos de MPB. Ouvir as músicas é impactante. A perícia do artista cantando (e não só músicas dele), compondo, cuidando dos arranjos etc. fica evidente. A qualidade das letras, na sua atrevida crônica da cultura popular, é extraordinária, tanto no conteúdo quanto na forma, merecendo inclusive análise literária.
A inventividade do artista é apresentada com tal simplicidade, bom humor e argúcia que ombreia com o que há de melhor realizado pelos fundadores da música popular brasileira. Pela diversidade e amplitude, seu acervo soa até superior ao de Luiz Gonzaga, sem que isso implique tirar a grandeza do Lua. Rodrigo Faour, organizador da caixa, discorda da comparação com o autor de Asa-branca: “Luiz Gonzaga é maior do que Jackson do Pandeiro. É dele o mérito de ter aberto caminho, no Sudeste do Brasil, para os gêneros, ritmos e a cultura nordestina. Jackson do Pandeiro já atua em trilha aberta”, argumenta, contando que havia rivalidade entre os dois artistas. “Jackson acrescenta mais animação, humor e um reforço na teatralidade que Gonzaga não tinha”, observa.
Para Faour, são emblemas da arte de Jackson do Pandeiro o ritmo, o bom uso do português, a voz agradável que se ouve sem cansar. “Há um preciosismo na escolha do repertório que faz com que a obra dele tenha unidade, do primeiro ao último disco”, afirma. O curador conta que o paraibano sabia exatamente o que queria e realizou seu projeto, inclusive levando para estúdio canções de amigos que, às vezes, “retocava”. Por seu enorme envolvimento com a cultura nordestina, transformou sua residência no Rio de Janeiro em referência para quem chegava do Nordeste. Num momento de ostracismo, tornou-se, na maior humildade, músico de estúdio, para surpresa dos colegas, atitude que, comenta Faour, demonstra sua “grandeza”.
ÍCONE “Jackson do Pandeiro é um dos maiores ícones da música nordestina, mas autor pouco conhecido para além das duas dezenas de sucessos dele”, diz Faour. Ele lembra que o artista estourou logo no primeiro disco e, a cada lançamento, emplacava mais um ou dois sucessos. A caixa O rei do ritmo reúne 70% da obra de Jackson do Pandeiro, segundo a estimativa de seu organizador. Traz as fases do artista nas gravadoras Copacabana e Phillips. A última é considerada a mais rara e obscura da discografia de Jackson do Pandeiro, já que nunca foi reeditada, nem mesmo em LP. Somado a outro conjunto de discos, editado pelo selo Discobertas, o lançamento repõe em circulação a obra completa do artista.
Jackson do Pandeiro foi porta-voz da música do Nordeste, “mas sem pretensão, com simplicidade”, observa Faour. A introdução da música nordestina no Sudeste, a partir dos anos 1940, teve impacto sobre o meio musical. “Foi uma abertura para novos ritmos, temas novos e, com eles, a revelação de outros comportamentos, outra geografia, que tocam profundamente os brasileiros. Tanto que Armando Cavalcanti e Klecius Caldas vão escrever Boiadeiro, sucesso de Luiz Gonzaga, sem nunca ter ido ao Nordeste.” O ritmista paraibano influenciou duas gerações que o sucederem, gente como Gilberto Gil, Alceu Valença, João Bosco, Chico Buarque, Lenine e até Raul Seixas (que convidou Jackson para participar do disco dele).
Rodrigo Faour já realizou aproximadamente uma dúzia de caixas com discos de autores brasileiros. “Muita coisa do reunido eu já conheço, mas cada trabalho traz aprofundamento que leva a outra compreensão da música brasileira”, conta. “A música brasileira é um baú sem fundo. São tantos artistas pouco conhecidos, tanta riqueza musical que quem se dedica a estudá-la fica deslumbrado com o que descobre”, garante. Situação, não esconde, que traz uma ponta de melancolia, já que é um patrimônio “que está se perdendo, porque ninguém dá atenção a ele”. Considera que a digitalização, que permite maior difusão, traz esperança de que não se perca mais do que já foi perdido
Chama a atenção ainda o modo como o artista articula formas e ritmo criando, inclusive, gêneros novos ou desenhando o protótipo deles (como o samba rock). Há quem suspeite que o forró, como o conhecemos hoje, é uma criação de Jackson do Pandeiro.
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Para Faour, são emblemas da arte de Jackson do Pandeiro o ritmo, o bom uso do português, a voz agradável que se ouve sem cansar. “Há um preciosismo na escolha do repertório que faz com que a obra dele tenha unidade, do primeiro ao último disco”, afirma. O curador conta que o paraibano sabia exatamente o que queria e realizou seu projeto, inclusive levando para estúdio canções de amigos que, às vezes, “retocava”. Por seu enorme envolvimento com a cultura nordestina, transformou sua residência no Rio de Janeiro em referência para quem chegava do Nordeste. Num momento de ostracismo, tornou-se, na maior humildade, músico de estúdio, para surpresa dos colegas, atitude que, comenta Faour, demonstra sua “grandeza”.
ÍCONE “Jackson do Pandeiro é um dos maiores ícones da música nordestina, mas autor pouco conhecido para além das duas dezenas de sucessos dele”, diz Faour. Ele lembra que o artista estourou logo no primeiro disco e, a cada lançamento, emplacava mais um ou dois sucessos. A caixa O rei do ritmo reúne 70% da obra de Jackson do Pandeiro, segundo a estimativa de seu organizador. Traz as fases do artista nas gravadoras Copacabana e Phillips. A última é considerada a mais rara e obscura da discografia de Jackson do Pandeiro, já que nunca foi reeditada, nem mesmo em LP. Somado a outro conjunto de discos, editado pelo selo Discobertas, o lançamento repõe em circulação a obra completa do artista.
Jackson do Pandeiro foi porta-voz da música do Nordeste, “mas sem pretensão, com simplicidade”, observa Faour. A introdução da música nordestina no Sudeste, a partir dos anos 1940, teve impacto sobre o meio musical. “Foi uma abertura para novos ritmos, temas novos e, com eles, a revelação de outros comportamentos, outra geografia, que tocam profundamente os brasileiros. Tanto que Armando Cavalcanti e Klecius Caldas vão escrever Boiadeiro, sucesso de Luiz Gonzaga, sem nunca ter ido ao Nordeste.” O ritmista paraibano influenciou duas gerações que o sucederem, gente como Gilberto Gil, Alceu Valença, João Bosco, Chico Buarque, Lenine e até Raul Seixas (que convidou Jackson para participar do disco dele).
Rodrigo Faour já realizou aproximadamente uma dúzia de caixas com discos de autores brasileiros. “Muita coisa do reunido eu já conheço, mas cada trabalho traz aprofundamento que leva a outra compreensão da música brasileira”, conta. “A música brasileira é um baú sem fundo. São tantos artistas pouco conhecidos, tanta riqueza musical que quem se dedica a estudá-la fica deslumbrado com o que descobre”, garante. Situação, não esconde, que traz uma ponta de melancolia, já que é um patrimônio “que está se perdendo, porque ninguém dá atenção a ele”. Considera que a digitalização, que permite maior difusão, traz esperança de que não se perca mais do que já foi perdido