Se o leitor procura um disco sem falsas surpresas e com música de alta octanagem, baseada em jazz e ritmos brasileiros que giram em torno de bossa a gafieira, o mais recente CD do brasileiro Antonio Adolfo chegou na hora certa. Novo mergulho no passado do pianista, compositor, arranjador e professor de música, Tropical infinito é mais uma prova da ótima fase do artista. Depois de ficar quase 10 anos sem gravar, entre 1995 e 2005, ele vem criando e registrando música de maneira feérica, seja em jornadas solo ou em parceria com a filha, a cantora Carol Saboya.
No recente Temas, Adolfo buscou suas memórias autorais, atualizando temas que ele compôs para trilhas sonoras de TV e cinema. Agora, neste 25º disco, a viagem é sentimental, histórica e cheia de prazer. No texto de apresentação, ele descreve o clima e o cenário que inspiraram o trabalho: “Durante os anos 1960, quando eu tinha 17 anos e me tornei músico profissional, muitos discos dos grandes nomes do jazz incluíam sopros. Esses álbuns influenciaram uma geração inteira de músicos da bossa e do jazz brasileiro. Só uma ou duas lojas do Rio importavam as novidades do jazz americanos, e eu me lembro tentando ser o primeiro a comprar estes LPs. Então, chamava meus amigos músicos para minha casa para ouvir Miles, Coltrane, Bill Evans, The Jazz Messengers, Benny Golson, Art Farmer, Horace Silver, Oliver Nelson e outros, para aprender o vocabulário dos mestres do jazz.”
A menção aos metais é que só recentemente ele incorporou três sopros a seu quinteto tradicional: Jesse Sadoc no trompete, Serginho Trombone e Marcelo Martins no sax. E eles são fundamentais para criar o clima entre boate dos bons velhos tempos, clubes de jazz e gafieira que o CD apresenta. Além da excelente base formada pelo baixista Jorge Helder, o baterista Rafael Barata e o percussionista André Siqueira, ele dialoga, ainda, com a guitarra sofisticada do uruguaio Leonardo Amuedo. O resultado é como se o adolescente dos anos 1960 nos dissesse, depois de 24 discos e centenas de composições gravadas por Stevie Wonder, Dionne Warwick, Sérgio Mendes e muitos outros: “Vejam como foram importantes as tardes e noites ouvindo os mestres”.
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Bem recebido nos Estados Unidos, onde mantém uma escola de música e vive boa parte do tempo, Tropical infinito agradou à crítica americana e vem tocando bem nas rádios de jazz, com um 7º lugar na parada Jazz Week e inclusão no Top 40 da CMJ, além de estar entre as 10 mais no site smoothjazz.com. No Brasil, infelizmente, não deve tocar em mais do que meia dúzia de rádios de bom gosto. Mas vale ser levado para casa, como Antonio Adolfo fazia nos anos 1960, e ser escutado e estudado por jovens músicos à procura de um caminho a seguir.