Natural de Orós, no interior do Ceará, Fagner diz que sua paixão pela sanfona surgiu quando era criança. “Ela retrata muito bem a minha região, o lugar onde nasci. Representa o sentimento do nordestino não só na alegria, mas na tristeza também.” Dos ídolos sanfoneiros, Fagner aponta três preferidos: “Ouvir Gonzagão, Sivuca e Dominguinhos é uma maravilha. O conjunto da obra deles é esplendoroso”.
Com 70 discos gravados, entre álbuns de carreira e compilações, Fagner conta que está preparando “devargarzinho” o próximo CD de inéditas. Três faixas já estão gravadas. Na agenda, há também o projeto de gravar serestas com um grupo de choro de Brasília.
Além desses planos, os olhos do cearense brilham ao citar um projeto em parceria com Zeca Baleiro.
Se o mercado fonográfico está em crise, Fagner não se deixa abater. Prossegue trabalhando. “Dou conta da minha agenda e me preocupo com a qualidade dos meus shows. Quero corresponder à expectativa do público. Isso me dá vitalidade para seguir”, diz.
FUNDAÇÃO O cantor e compositor não limita suas atividades à música. Com orgulho, comemora o sucesso da fundação criada por ele há mais de 15 anos, reconhecida pelo Unicef e pela Unesco. ‘’É uma outra energia, que me faz viver intensamente”, explica.
A dedicação ao próximo é uma tradição familiar. “Meus pais sempre receberam quem precisava de apoio. Minhas irmãs, professoras, também recrutavam crianças para estudar. Molequinho, eu tentava ensinar o que aprendia na escola. A fundação veio da sugestão de um amigo. A ideia tomou forma quando conheci Ayrton Senna e a irmã dele, Viviane.
CAPITAL Realizado anualmente na terra natal do cantor João Gilberto, o festival transforma Juazeiro em “capital oficial” da sanfona, atraindo alguns dos instrumentistas mais importantes do país, além de nomes de relevância do exterior. Iniciado na quarta-feira passada, o evento mobilizou a cidade de 260 mil habitantes, que fica à beira do Rio São Francisco.
Tendo o sanfoneiro Targino Gondim como curador, o festival comprova o ecletismo do instrumento, marca registrada da cultura brasileira. Ele tanto faz parte da tradição nordestina quanto da música gaúcha. Milton Nascimento, o líder do mineiro Clube da Esquina, não se cansa de exibir, orgulhosamente, a sanfoninha que ganhou ainda criança.
Entre os convidados estrangeiros do festival estava o americano Murl Sanders, que fez sucesso com sua versão para um clássico dos Beatles, Ob-la-di, Ob-la-da.
O filho ilustre da terra, claro, foi reverenciado em Juazeiro. A interpretação de Chega de saudade – clássico de João Gilberto e da bossa nova – ficou a cargo do Quinteto Sinfônico da Bahia e de Targino Gondim. Composições de Luiz Gonzaga e Dominguinhos marcaram presença. E o gaúcho Renato Borghetti, em dobradinha com o violeiro Daniel Sá, conquistou o público com sua versão para outro clássico: Felicidade, do conterrâneo Lupicinio Rodrigues.
O repórter viajou a convite do 4º Festival Internacional da Sanfona.