Enviado especial a Juazeiro - A sanfona, quem diria, une gerações. Pelo menos em Juazeiro, no norte da Bahia, onde hoje termina a quarta edição do Festival Internacional da Sanfona, o instrumento emociona crianças e adultos. Emanuel Teles da Rocha, de 9 anos, que mora no interior do Piauí, e João Araújo, de 99 anos, morador de Juazeiro, não aparentavam cansaço, mesmo depois de quase três horas e meia no teatro do Centro de Cultura João Gilberto, anteontem.
Vibraram com as apresentações do Quinteto Sanfônico da Bahia, de Renato Borghetti e do norte-americano Murl Sanders. “Eles estudaram muito para tocar tão bem assim, com tanta qualidade. E eu, quase com um século de vida, quero ver mais apresentações desse tipo”, disse Seu João, com animação invejável, mesmo amparado por uma bengala e caminhando com dificuldade. Emanuel disse ter adorado tudo. “Eles são grandes tocadores”, comentou o menino, que viajou 530 km, de São Raimundo Nonato, junto com seus colegas do Projeto Acordes do Campestre, para acompanhar o festival.
“Seu” João e Emanuel tinham razão. A noite de abertura do festival foi emocionante, com destaque para o carisma de Murl Sanders, que, mesmo com seu português macarrônico, estabeleceu empatia com a plateia que lotou o teatro e a área externa do centro cultural.
O encerramento do festival está marcado para as 19h de hoje, na orla nova de Juazeiro, às margens do Rio São Francisco. Entre as atrações da noite, Daniel Itabaiana, Flávio Baião, Wanderley do Nordeste, Murl Sanders e Raimundo Fagner. A expectativa da organização é ter a presença de 20 mil pessoas.
REDUÇÃO Idealizador do projeto, Targino Gondim disse que neste ano o festival também foi vítima da crise econômica. Para se adequar à situação, aos 45 minutos do segundo tempo, correu em busca de alternativas por todos os lados. A começar pela redução da programação do festival. No ano passado, foram cinco dias. Este ano, apenas três. O concurso de sanfoneiro também foi suspenso por falta de patrocínio para premiar o campeão. “Mas, em seu lugar, optamos por workshop de improvisação musical com Nelson Faria e Chico Chagas.” O número de atrações também foi enxugado.
“A ideia inicial era, a reboque das Olimpíadas, reunir em Juazeiro cinco acordeonistas dos cinco continentes. Em março, já estava quase tudo certo com o Ministério da Cultura, que propôs inclusive que levássemos os cinco músicos para apresentação no Rio de Janeiro. Com a saída de Dilma e sem o MinC, não deu para levar os planos adiante.”
Mas Targino não desistiu e buscou no poder público municipal apoio para garantir a manutenção do festival.
Mesmo com os percalços, Targino achou melhor ir adiante, ainda que com uma edição reduzida, no lugar de cancelar a quarta edição. O festival nasceu em 2009, prosseguiu em 2010 com verba do Ministério da Cultura, mas parou nos quatro anos seguintes, retornando no ano passado com apoio do BNDES. “Não queria correr o risco de perder a continuidade do festival.”
O repórter viajou a convite da organização do festival.