

As versões arranjadas com maestria por Cristóvão Bastos, Gilson Peranzzetta, Gabriel Gestzi e Jota Moraes, que se revezam ao piano e dialogam com outros oito músicos – entre eles, o baterista Ricardo Costa, o baixista Zeca Assumpção, o guitarrista Leonardo Amuedo e o violonista Romero Lubambo –, soam como se Senise tivesse seguido a máxima de Young. Com experiência e talento, além da pegada aprimorada em discos dedicados a Noel Rosa, Sueli Costa, Dolores Duran e Edu Lobo, ele permite ao ouvinte cantar as letras de Gil, deliciando-se com interpretações que acrescentam cores e temperos às gravações originais.
Fiel à diversidade de gêneros e ritmos da extensa obra do compositor, ele vai do lirismo de Flora e Drão ao jogo de corpo de Ladeira da Preguiça, Procissão e Expresso 2222 com a mesma eficiência. E ainda surpreende ao convidar Gil para recitar, no início da longa versão de nove minutos, a letra de Preciso aprender a só ser. Luxo só.
Aos 66 anos – e 44 de carreira –, Mauro Senise se divide “matematicamente” entre os instrumentos nas primeiras 12 faixas. Em quatro empunha o sax-alto. Em outras quatro, o soprano. No restante, leva a vida na flauta. Para terminar, assume a flauta piccolo na animada folia de Expresso 2222. Como um Erê, encerra o álbum em festa, assim como fez muitas vezes com o bruxo Hermeto Pascoal, com quem tocou por muitos anos.
Com momentos de leveza exemplar – presentes nas faixas Se eu quiser falar com Deus e Oriente –, o CD é um exemplo de coerência e concisão. E ainda apresenta, como bônus, DVD com making of em que reverencia novos e antigos amigos.