Hoje ela é cantora. Amanhã, pode ser atriz. Depois, quem sabe? “Gosto muito de contar histórias. Vou me apaixonando pelo projeto do momento”, afirma Clarice Falcão. O momento então é de Problema meu. Seu segundo álbum foi lançado em fevereiro. Há dois meses em turnê, chega hoje a Belo Horizonte para apresentar duas sessões deste trabalho (sábado e domingo) no Teatro Sesiminas.
Cantora, compositora, escritora, atriz e (ufa!) roteirista, Clarice, aos 26 anos, tem emendado um trabalho no outro há pelo menos dez. “Não sou formada em nada. Entrei para a faculdade de cinema, mas quando comecei a trabalhar não consegui terminar. Comecei a fazer curtas, gostei de atuar e passei a fazer as músicas para esses trabalhos. Assim que entrei para o Porta dos Fundos, fiquei muito empolgada com atuação. Foram três anos muito bons, mas decidi fazer um CD, me apaixonei pelo projeto. Então sigo meio assim”, acrescenta.
Com a música, que a fez deixar o grupo de humor no fim do ano passado, ela faz tudo à sua própria maneira. Lançou em 2013 seu álbum de estreia, Monomania. Ganhou cunho de cantora fofa na época. “Tem gente que não entendeu, achou que era música romântica para adolescente.” Pois não, então lá foi ela testar algo diferente em Problema meu. “Não tenho vontade de fazer a mesma coisa.”
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Para produzir o álbum, Clarice convidou Kassin. A intenção era clara: que ele conseguisse dar a maior diversidade possível à sonoridade. Por isso mesmo Problema meu brinca com vários estilos e temas.
Vagabunda (a canção preferida dela) tem um tom de crônica num clima de disputa feminina; Banho de piscina (de autoria de João Falcão, pai de Clarice) é um brega delicioso, com letra imagética; A volta do mecenas, um rock; Duet, em inglês, é outra canção de pura ironia. Seria um dueto, se a outra parte não tivesse desaparecido.
“Não sou uma cantora, no sentido da intérprete. Não tenho a menor intenção de ser aquela que canta outros autores. Mas estou aprendendo muito no show ao vivo. É uma prática que você só pega na hora. É muito doido, pois você sente no ar o que funciona”, comenta.
ESCOLA
O jeito com que Clarice tem levado a carreira remete muito à sua relação com a arte – é filha do diretor e roteirista João Falcão e da escritora e também roteirista Adriana Falcão. “Ganhei meu primeiro violão aos 10 anos, cresci com meu pai em rodinha de violão. E o acompanhava montando suas peças. Quando mostrava meus textos para ele, ouvia que estava horrível ou não. Tive uma escola dentro de casa, então quando entrei na faculdade fiquei meio entediada, já tinha vontade de fazer alguma coisa.”
Cantora agora, mas atriz logo ali. Clarice não participou das filmagens do recém-estreado Contrato vitalício (o primeiro longa-metragem do Porta dos Fundos, que estreou anteontem) porque, na época, estava em plena gravação do álbum. Antes dele, no entanto, filmou a comédia romântica Desculpe o transtorno, que tem lançamento previsto para 15 de setembro.
Na história, divide a cena com o ex, Gregório Duvivier, e com Dani Calabresa. Como o personagem de Duvivier tem dupla personalidade, por vezes ele ama sua noiva controladora (papel de Calabresa). Quando relaxa, ele quer mais é saber de uma carioca descolada que conheceu (a personagem de Clarice). “Já fiz uns quatro, cinco filmes. Mas este é o primeiro lançamento nacional em que sou uma das protagonistas”, diz.
O cinema, para Clarice, nasceu na verdade na internet. Foi em 2007 que ela estreou o curta Laços, que ganhou o primeiro lugar em um concurso mundial de curtas realizado pelo Google. “Dou muita sorte com a internet, que sempre me trouxe coisa boa. Desde este curta, depois das minhas músicas, também lançadas lá. E foi por causa disso que fui chamada para o Porta dos Fundos.” Ela tenta retribuir. Problema meu, por exemplo, foi lançado em fevereiro exclusivamente no Spotify.
A internet é boa, mas também traz dores de cabeça. “Especialmente com a mulher, costuma ser cruel. Mas conforme vamos aprendendo a lidar, vamos desviando dos buracos”, afirma Clarice. Hoje, por exemplo, ela não costuma ler comentários nos posts. “Sua vida melhora 100%.”
Com a visibilidade que tem junto ao público jovem, Clarice sabe que nada pode ser gratuito, principalmente com as meninas. “Feminismo é um papo muito importante, vou fazer sempre o possível para me posicionar de um jeito que acredito. Mas não tenho a pretensão de ser um ícone feminista nem nada do gênero. Tem gente por aí que tem muito mais bagagem para falar sobre o assunto do que eu. Mas a gente tem que realmente pensar sobre o assunto, porque ainda reproduzimos muito o machismo.”
Política é um assunto também caro a ela. “É difícil hoje não se posicionar, mas o tal ‘isentão’, como se fala na internet... Não vejo problema se você não se interessa por um assunto, não o compreende. Por exemplo, não entendo de economia, mas entendo um pouco de política social. Então vou me posicionar até onde sei. E hoje todo o mundo é especialista em tudo. Acho bonito quem diz, com humildade: ‘não sei’.”
CLARICE FALCÃO
Show hoje, às 21h, e amanhã, às 18h, no Teatro Sesiminas, Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia, (31) 3889-2003. Ingressos: Setor 1 – R$ 80 e R$ 40 (meia); Setor 2 – R$ 70 e R$ 35 (meia).