Foco, força e fé não é apenas o título do último disco de Projota e do show que gerou seu primeiro DVD ao vivo. A frase também dá nome à música que abre o registro e é um mantra para a vida e carreira do rapper. Ao longo dos últimos anos, o músico conquistou uma base leal de fãs e reconhecimento em todo o Brasil como parte da safra mais jovem de rappers brasileiros. Aos 30 anos, lançou, no mês passado, o DVD 3Fs – Ao vivo e colhe agora os frutos de canções que se tornaram sucessos no rádio e na TV, além de parcerias que ajudaram a firmar seu nome.
Subir ao palco do Espaço das Américas, em São Paulo, e cantar para milhares de fãs é, definitivamente, algo que o Projota de alguns anos atrás não imaginava ser possível. “Não sonhava com nada disso. Nunca pensei que tocaria em shows lotados, que teria uma música no rádio. Nada disso era meu sonho. Só queria fazer música e viver dela, com a ideia de que o que viesse dali seria lucro”, conta. “Subir no palco e ver milhares de pessoas gritando seu nome e cantando sua música é uma sensação inigualável”, completa.
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MENOS PICUINHA Na música-título de seu novo trabalho, Projota fala de um hip hop com “menos ladainha e menos caras pensando que são reis”. A afirmação bate com a forma com a qual ele vem carregando a vida e a carreira: de cabeça erguida e sem tirar os pés do chão. “Vivi as coisas bem devagar e em momento algum tirei meu pé do chão. Isso se tornou essencial para mim”, conta o artista, fazendo uma retrospectiva desde o início de sua carreira até os dias de hoje. “Continuo a fazer música porque é minha essência. Se tornou algo natural para mim”.
Com três mixtapes (coletânea de músicas gravadas de maneira independente) e um disco de estúdio, Projota acumula várias parcerias de sucesso nos últimos anos. Jota Quest, Negra Li, Luiza Possi e Anitta são alguns dos nomes que já cantaram com o rapper – sendo a última parceria quase constante. O flerte com o pop tem sido um trunfo para ele, embora as críticas daqueles que esperam sempre um rap de raiz sejam frequentes. “O importante é fazer música por amor. Fazer música por música, arte pela arte. E se você fizer as coisas que tem vontade, que você sente ser o certo e que acelera o seu coração, você está fazendo certo”, conta o rapper. “Onze20, Luiza Possi, Negra Li, Anitta, tanta gente que tenho música junto acelera meu batimento e, quando ouço a música, me faz sentir diferente”, continua o artista. “A Anitta, por exemplo, mexe bastante comigo e por isso gosto tanto de trabalhar com ela.”
O cantor avalia ainda que esse movimento de popularização que vem ocorrendo com o hip hop só tem a acrescentar. Para ele, é uma forma de abrir portas para quem ainda está começando e que, com certeza, vai usufruir do que está sendo feito hoje. “Lá fora, nos Estados Unidos, isso é comum e se tornou um trunfo grande nas mãos de rappers. Por que não fazer aqui? Você enriquece a música e o resultado fica muito mais legal”, avalia. E se pensa que as críticas o abalam, está enganado. Projota deixa claro que, se tem algo que aprendeu ao longo dos anos, é não se deixar abater por isso: “À medida que fui crescendo, como artista e homem, aprendi a lidar com estes prós e contras, a não tirar os pés do chão e a lidar com as críticas”.
SOCIAL Nem só de música pop e romance é feito o trabalho de Projota. Em O portão do céu, por exemplo, o rapper canta claras críticas à política. Além disso, a preocupação com a sociedade reforçou o lado de sua música como expressão de engajamento social. Em janeiro, lançou Ela só quer paz, música contra o machismo. “O rap tinha essa coisa de ser música mais machista”, afirma, atribuindo essa característica ao fato de, naquele momento, ter poucas mulheres no movimento. “Hoje, quando se vê uma cantora de rap, ela se faz forte e mostra presença, o que tem feito muito bem para o cenário”, avalia Projota, que cita Karol Conka e Flora Matos como dois nomes fortes no estilo. “Acredito que o homem tem que se colocar e apoiar esse movimento que, puro como é, se tornou importante e válido para a sociedade.”
Projota avalia que seu estilo se deve às suas influências. “Tenho me inspirado em Cazuza, Chorão e Renato Russo, principalmente nesse lance de fazer música romântica e música política. Tenho inspiração suficiente para seguir nisso e não ligar para as críticas. Eles são eternos e, infelizmente, não estão mais com a gente, mas têm um legado eternizado. O que eu quero é ser 10% do que eles foram”, finaliza.