“Festa junina é manifestação cultural que está enraizada na cultura mineira. Não há nada mais gostoso que curtir uma noite de inverno comendo doces e outras delícias tão comuns a esta época do ano. Daí esse sucesso em Belo Horizonte”, conta Mariângela Lima, que deu o pontapé inicial para festas produzidas em espaços abertos, arrastando multidões. Ela reconhece que muita coisa mudou, especialmente o público, mas comemora o fato de poder voltar a fazer sua festa ao ar livre.
Se a balada ferve com os eventos típicos do mês, as festas juninas movimentam bairros da cidade o ano inteiro. “As escolas de samba estão para o carnaval do Rio de Janeiro assim como as quadrilhas – sem desmerecer as agremiações carnavalescas da cidade – estão para as festas juninas em Belo Horizonte”, teoriza Danilo Martins, diretor do Núcleo Mineiro Feijão Queimado de Cultura ou simplesmente Feijão Queimado. O grupo tem o maior números de vitórias no Arraiá de Belô, tradicional concurso de quadrilhas da cidade.
Com 36 anos de criação, o Feijão Quimado tem 12 troféus de primeiro lugar no campeonato promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte. A luta agora é para conquistar mais um torneio e ficar com o tricampeonato. “Queremos conseguir a façanha”, torce o diretor do grupo, que tem 60 integrantes e, desde de maio, faz ensaios de cinco horas aos sábados, domingos, feriados e “durante a semana – quando precisamos acertar alguma coisa na coreografia – são apenas duas horinhas”.
A comparação com uma escola de samba fica mais evidente ao perceber que as quadrilhas desenvolvem um tema ou, no caso da Feijão Queimado, prestam alguma homenagem durante a evolução da coreografia. “Em 2014, lembramos os tropeiros; no ano passado, a homenagem foi pelos 35 anos de fundação do Feijão Queimado. O deste ano, por enquanto, é segredo. A concorrência é muito grande”, afirma Danilo, reforçando a comparação com as escolas de samba, em que os maiores detalhes são guardados entre os integrantes do grupo.
Para se manter, eles fazem o que podem para aumentar o caixa. A administração pública oferece uma subvenção – a União Junina Mineira –, repassada às quadrilhas que compõem o grupo especial e o de acesso. “Mas o valor, de quase R$ 6 mil, é pouco em vista dos nossos gastos, que chegam em torno de R$ 20 mil”, contabiliza Danilo, lembrando que, durante todo o ano, o grupo promove diversos eventos para levantar fundos.
O desenhos dos vestidos e ternos dos homens são de responsabilidade de Lúcia Helena Coelho, presidente e fundadora do Feijão Queimado. A seu lado tem uma equipe de costureiras da comunidade Itatiaia, na Região da Pampulha. Depois das apresentações no Arraiá de Belô, em festas fechadas e pelo interior do estado, o figurino é guardado no acervo até ser reaproveitado em novas edições da festa.
Quem também não perde tempo com ensaios é a turma do Grêmio Recreativo Arraial São Gererê, do Bairro São Geraldo. “Desde janeiro entramos com tudo. Ensaiamos nos finais de semana e feriados cerca de quatro horas”, diz Jadison Nantes, diretor artístico e o noivo da quadrilha. Tricampeã e nove vezes dona do segundo lugar do Arraiá de Belô, o grupo conquistou o segundo lugar no Arraía do Brasil, ano passado, em Palmas. “Concorremos com quadrilhas de todo o país”, comemora Jadison, que não revela qual o tema deste ano. “Se contar, alguém pode pegar a ideia para ele”, diz, bem-humorado. “Manter o segredo é mais superstição do que uma realidade. A turma prefere não divulgar”, emenda o noivo da São Gererê, que reune 65 integrantes, entre dançarinos e equipe técnica.
O Arraiá de Belô será dividido em dois finais de semana. As quadrilhas do Grupo de Acesso farão apresentações dias 24, às 19h30, e 25 e 26, às 16h. O local não havia sido determinado até o fechamento desta edição.