“Ela é fã da Emilinha/ Não sai do César de Alencar/ Grita o nome do Cauby/ E depois de desmaiar/ Pega a Revista do Rádio/ E começa a se abanar.” Em 1958, a marchinha de carnaval Fanzoca de rádio, de Miguel Gustavo (1922-1972), ganhou o concurso da Rádio Nacional e traduziu bem o “cartaz” do cantor Cauby Peixoto. A emissora era uma potência, o programa, o maior sucesso, e Cauby, o astro de primeira grandeza por quem as fãs se descabelavam.
Na verdade, antes de falecer na noite de domingo, em São Paulo, aos 85 anos, Cauby já se tornara imortal. Fez história com as canções Conceição (eu me lembro muito bem...), Bastidores (chorei, chorei, até ficar com dó de mim...) e suas interpretações apoteóticas de New York, New York.
No recém-lançado livro A noite do meu bem, o escritor mineiro Ruy Castro deu bem a dimensão do sucesso de Cauby Peixoto, que ficou na ribalta por mais de seis décadas. Sempre abusando dos paetês nos figurinos – como se a vida fosse (e era, claro) um luxo só! Castro narra o auge de Cauby, sua ida para os Estados Unidos, onde tentou carreira com o nome de Ron Coby, e detalhes curiosos que ajudaram a construir a fama de astro, especialmente nas décadas de 1940 e 1950. Para “facilitar” a vida das fãs enlouquecidas, as roupas eram alinhavadas – e não costuradas –, permitindo que paletós virassem frangalhos em poucos segundos nas mãos das admiradoras.
Muito antes de Roberto Carlos se tornar o “Rei”, Cauby já era majestade, com um séquito de súditas fiéis. Imperava soberano nas ondas do rádio. A cada apresentação, mostrava que a arte é feita de talento, mas também de muita sedução.
Maior revista do país em meados do século 20, O Cruzeiro acompanhou a trajetória de Cauby – inclusive nos Estados Unidos. Fotos em preto e branco mostram suas caras e bocas ao lado de estrelas como a pequena notável Carmen Miranda e o cantor norte-americano Bing Crosby. Tudo registrado pela primeira correspondente brasileira em Hollywood, a jornalista Dulce Damasceno de Brito.