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Marisa Monte lança 'Coleção', álbum que reúne vários momentos de sua carreira

Apesar da crise no país, cantora diz estar otimista e esperançosa depois de cantar em escola ocupada por estudantes

Ana Clara Brant
Nu com a minha música é uma composição de Caetano Veloso lançada em 1981, no disco Outras palavras, e descreve o cotidiano dos artistas na estrada.
Apesar de ter sido criada há 35 anos, a canção tem um verso emblemático que se encaixa como uma luva nos dias de hoje: “Vejo uma trilha clara pro meu Brasil, apesar da dor”. Foi essa a faixa escolhida por Marisa Monte para abrir o seu mais novo projeto, Coleção, primeira coletânea de sua carreira e que acaba de ser lançada pela Universal Music.


“Foi uma coincidência incrível. Essa música é dos anos 1980 e traz um sentimento que, de alguma maneira, sempre volta. Sou esperançosa, acredito que crise é transformação e que tudo isso que está ocorrendo é porque estamos expurgando algumas coisas que vão mudar mesmo na macropolítica, na política partidária. Estamos tendo dificuldades de nos sentir representados e já não é de hoje. Está tudo meio desmoronando, ruindo. Uma reforma grande precisa ocorrer para permitir uma nova participação popular, uma nova democracia, viver um novo jeito de atuação, das forças de baixo para cima, porque realmente não tem muito amor lá em cima”, analisa.


O novo trabalho traz esse espírito de amor e de otimismo e é um mergulho profundo na história da cantora, compositora, instrumentista e produtora musical.
O disco reúne 13 canções que Marisa registrou para projetos paralelos, trilhas sonoras de filmes e discos de outros artistas que não integram a sua discografia, formada por nove álbuns, entre trabalhos de estúdio e gravações ao vivo, lançados ao longo de quase 30 anos de trajetória. Há alguns clássicos da MPB: Carinhoso (Pixinguinha e Braguinha) – parte do repertório de Meu tempo é hoje, documentário sobre a vida e a obra de Paulinho da Viola –; Águas de março (Tom Jobim), faixa que integra o primeiro Red Hot %2b Rio, projeto para levantar fundos para a pesquisa e a prevenção da Aids, de que ela participou em 1996 junto com o músico norte-americano David Byrne; e É doce morrer no mar (Dorival Caymmi e Jorge Amado), que conta com a participação de Cesária Évora e foi produzida para o álbum Café atlântico, da artista cabo-verdiana.

Uma das pérolas do CD é a delicada Alta noite, gravada para o primeiro álbum solo de Arnaldo Antunes, Nome, em 1993. Destaque também para a inédita Cama, parceria de Marisa e também Arnaldo e Carlinhos Brown, gravada para a trilha sonora do filme Era uma vez (2008), de Breno Silveira. Marisa Monte diz que pincelar 13 canções num universo tão vasto foi difícil, mas, ao mesmo tempo, natural. “Consegui fazer uma curadoria pessoal que reflete um pouco as minhas relações no meu trabalho com outras culturas, outros artistas nesse arco de tempo grande que vai do começo dos anos 1990 até hoje. A gente ia ouvindo e promovendo um diálogo entre as próprias canções, criando um equilíbrio interno até chegar nesse grupo que tem uma atmosfera bacana, representativa. De alguma maneira, essas músicas criam um novo corpo”, pontua.

POLÍTICA Na semana que passou, a artista carioca, ao lado dos músicos Dadi e Leoni, fez show de graça em escola ocupada pelos estudantes, na Zona Sul do Rio. Marisa foi até o colégio a convite dos alunos e ficou emocionada com o que viu. Saiu de lá com “esperança em uma força transformadora”. “Fui lá para conhecer e encontrei crianças e jovens batalhando pela educação, com amor, organização, uma coisa de baixo pra cima, uma micropolítica amorosa, enfim, um exemplo para todos. Com cada um fazendo a sua parte, a gente consegue evoluir. Acho que política é diálogo e polarização não promove diálogo; é algo que distancia, é mais destrutivo do que construtivo. E, quando vi essa coisa emergindo, com amor na escola, me deu esperança.
É disso que esse país está precisando”, anseia.

Em 2017, a cantora completa 50 anos e assegura que não se preocupa com idade. “O que vale mesmo é viver e ser feliz”. E acrescenta que só tem a agradecer por tudo o que viveu e, sobretudo, tudo o que a música lhe proporcionou ao longo dessas quase três décadas de estrada. “Em todos os momentos de dificuldade e de crise na minha vida, a música sempre me salvou. Fico extremamente feliz de botar música no mundo neste momento. Estou sentindo que está sendo uma coisa refrescante. Na hora em que o coração apertar e o mau humor bater, recomendo botar um som, que é sempre bom”, aconselha.

PARCERIA VISUAL


“Assim como cada uma dessas canções, essa imagem representa um pouco da minha história, me traz boas lembranças e materializa os encontros e as relações que a música e a arte me proporcionaram.” Essa declaração de Marisa Monte resume o sentimento que a cantora teve quando se deparou com a capa de Coleção, uma pintura exclusiva de Francesco Clemente, artista italiano radicado em Nova York. Francesco revelou à artista brasileira que costumava pintar ouvindo Marisa Monte e o resultado, claro, foi uma obra de arte. “Foi fantástico. Ficou muito elegante, chique.
Francesco é muito intuitivo e transcendental e adora não só a minha música, como a MPB de uma maneira geral. A música brasileira é muito potente. E todas as relações que estão no disco ocorreram por causa dela”, declara.



Coleção

>> De Marisa Monte
>> Universal Music
>> R$ 35,90

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