“Foi uma coincidência incrível. Essa música é dos anos 1980 e traz um sentimento que, de alguma maneira, sempre volta. Sou esperançosa, acredito que crise é transformação e que tudo isso que está ocorrendo é porque estamos expurgando algumas coisas que vão mudar mesmo na macropolítica, na política partidária. Estamos tendo dificuldades de nos sentir representados e já não é de hoje. Está tudo meio desmoronando, ruindo. Uma reforma grande precisa ocorrer para permitir uma nova participação popular, uma nova democracia, viver um novo jeito de atuação, das forças de baixo para cima, porque realmente não tem muito amor lá em cima”, analisa.
O novo trabalho traz esse espírito de amor e de otimismo e é um mergulho profundo na história da cantora, compositora, instrumentista e produtora musical.
Uma das pérolas do CD é a delicada Alta noite, gravada para o primeiro álbum solo de Arnaldo Antunes, Nome, em 1993. Destaque também para a inédita Cama, parceria de Marisa e também Arnaldo e Carlinhos Brown, gravada para a trilha sonora do filme Era uma vez (2008), de Breno Silveira. Marisa Monte diz que pincelar 13 canções num universo tão vasto foi difícil, mas, ao mesmo tempo, natural. “Consegui fazer uma curadoria pessoal que reflete um pouco as minhas relações no meu trabalho com outras culturas, outros artistas nesse arco de tempo grande que vai do começo dos anos 1990 até hoje. A gente ia ouvindo e promovendo um diálogo entre as próprias canções, criando um equilíbrio interno até chegar nesse grupo que tem uma atmosfera bacana, representativa. De alguma maneira, essas músicas criam um novo corpo”, pontua.
POLÍTICA Na semana que passou, a artista carioca, ao lado dos músicos Dadi e Leoni, fez show de graça em escola ocupada pelos estudantes, na Zona Sul do Rio. Marisa foi até o colégio a convite dos alunos e ficou emocionada com o que viu. Saiu de lá com “esperança em uma força transformadora”. “Fui lá para conhecer e encontrei crianças e jovens batalhando pela educação, com amor, organização, uma coisa de baixo pra cima, uma micropolítica amorosa, enfim, um exemplo para todos. Com cada um fazendo a sua parte, a gente consegue evoluir. Acho que política é diálogo e polarização não promove diálogo; é algo que distancia, é mais destrutivo do que construtivo. E, quando vi essa coisa emergindo, com amor na escola, me deu esperança.
Em 2017, a cantora completa 50 anos e assegura que não se preocupa com idade. “O que vale mesmo é viver e ser feliz”. E acrescenta que só tem a agradecer por tudo o que viveu e, sobretudo, tudo o que a música lhe proporcionou ao longo dessas quase três décadas de estrada. “Em todos os momentos de dificuldade e de crise na minha vida, a música sempre me salvou. Fico extremamente feliz de botar música no mundo neste momento. Estou sentindo que está sendo uma coisa refrescante. Na hora em que o coração apertar e o mau humor bater, recomendo botar um som, que é sempre bom”, aconselha.
PARCERIA VISUAL
“Assim como cada uma dessas canções, essa imagem representa um pouco da minha história, me traz boas lembranças e materializa os encontros e as relações que a música e a arte me proporcionaram.” Essa declaração de Marisa Monte resume o sentimento que a cantora teve quando se deparou com a capa de Coleção, uma pintura exclusiva de Francesco Clemente, artista italiano radicado em Nova York. Francesco revelou à artista brasileira que costumava pintar ouvindo Marisa Monte e o resultado, claro, foi uma obra de arte. “Foi fantástico. Ficou muito elegante, chique.
Coleção
>> De Marisa Monte
>> Universal Music
>> R$ 35,90