O empresário e músico mineiro Rond Gaspar, de 38 anos, é fã privilegiado da Legião e garantiu seu lugar na plateia. Gaspar tocou guitarra por quatro anos no projeto solo de Marcelo Bonfá e também é amigo de Dado Villa-Lobos. “A primeira banda de que eu gostei foi a Legião. O show deles em 1994 no Parque das Mangabeiras foi o primeiro que vi na vida”, conta.
Ele conheceu o baterista da Legião Urbana há cerca de nove anos, no extinto Lapa Multishow, em Belo Horizonte. “Minha antiga banda, a Antenafobia, tocou lá no mesmo dia do Bonfá. Ficamos amigos e, depois de um ano, ele disse que o guitarrista estava saindo da banda e me perguntou se eu não gostaria de substituí-lo. Era engraçado. Nos primeiros dias de ensaio na casa dele eu pensava ‘o que é que eu estou fazendo aqui?’”, conta.
Rond diz que hoje ele não tem dúvidas sobre a legitimidade da empreitada Legião Urbana – 30 anos. “Se eu não conhecesse o Dado e o Bonfá, talvez achasse essa reunião nada a ver. Mas pude presenciar o quanto eles gostam das músicas. Acho uma sacanagem eles não poderem tocar. No entanto, olhando como fã, é impossível substituir o Renato. Como é só um show comemorativo, acho válido”, avalia.
O músico diz ainda que mudou sua visão sobre a Legião após tocar com Bonfá. “Antes disso, achava que o Renato fazia tudo na banda. Depois de conhecer a musicalidade do Marcelo, vi que ele sabe todos os arranjos de todos os instrumentos. Vi a mesma coisa com o Dado na guitarra. Os dois tinham com certeza absoluta papel fundamental na hora de compor”, conclui.
O objetivo principal de Rond era viver da música, mas hoje ele administra o Bar 80, na Savassi. O empresário pretende convidar os amigos da Legião Urbana para uma cerveja no estabelecimento. “O Bonfá provavelmente irá passar lá para levar a cachaça que ele está fabricando, chamada Perfeição – título de uma das faixas do disco O descobrimento do Brasil, da Legião Urbana.”
CARREIRA “Particularmente, acho que eles levaram a carreira pra um lugar legal depois que o Renato morreu. Muito melhor do que fazem outras bandas, ao se reunir todo ano com novo vocalista”, diz o músico Marcus Evaristo. Hoje, aos 30 anos, o vocalista da banda Aldan lembra que, no auge do grupo, ainda era uma criança e, apesar de ainda não entendê-las muito bem, já conhecia as músicas do disco Dois, que a irmã mais velha não parava de escutar. O fanatismo pela Legião Urbana chegou ao extremo durante a adolescência. “Ganhei a coletânea Mais do mesmo em um amigo-oculto e, a partir daí, virou uma doença. Fui atrás de todos os vinis e comprava qualquer coisa que tinha a Legião na capa”, conta. Evaristo diz que começou a compor aos 13 anos e, ao final de cada música, sempre se perguntava: “Será que o Renato Russo iria gostar disso?”. Mas Renato Russo o influenciou não só na música. “Eu ia atrás de tudo que ele falava ter visto ou lido. Isso foi ótimo, porque ele era muito ligado em outras artes também”, diz.
O músico lembra que, em sua época de colégio, as bandas que estavam mais em evidência eram Charlie Brown Jr. e Raimundos. Apesar de até gostar desses grupos, as músicas não tinham a ver com as questões que ele vivia na adolescência. “Essas bandas não falavam de questões existenciais. Não precisava ouvir isso para provar que tinha testosterona. A Legião era diferente. As músicas eram corajosas. Era você e o mundo, o mundo e você”, afirma.
O músico relembra as três ocasiões nas quais chegou mais perto de “um show da Legião Urbana”. Em 1999, ele foi ao Festival Pop Rock Brasil, no Estádio Independência, no qual todas as bandas deveriam colocar uma música da Legião no repertório. Em 2000, foi ao show dos Paralamas do Sucesso, no Palácio das Artes, no qual Dado Villa-Lobos tocou guitarra. “Fui só pra ver o Dado”, brinca. Três anos depois, conseguiu ver uma apresentação solo de Marcelo Bonfá. “Agora vai ter esse show no Chevrolet Hall. Acho que eles sempre tiveram a noção de que sem o Renato Russo não dá, mas uma hora ou outra fariam uma homenagem. Acho que é mais para celebrar do que uma ideia de manter a Legião. Eles podem, estão aí novos e vivos”, conclui.
DEPOIMENTOS
SOU A FAVOR,
MAS NEM TANTO...
“Vi a banda no Parque das Mangabeiras, em 1994, e era de fato uma espécie de religião urbana, hipnotizava o público. A Legião Urbana acabou com a morte de Renato e não teria como ser diferente. A banda devia deixar claro que os shows atuais são em homenagem aos 30 anos da banda e não shows da banda. A banda não existe mais, é preciso respeitar isso e não usar o nome para fins promocionais ou financeiros. Não me recusaria a ir ao show, mas que ficasse claro que se trata de show em homenagem e não uma tentativa de ressuscitar a banda.”
ANTONIO ESPESCHIT,
54 anos, ex-bancário
“A volta da banda seria semelhante ao Queen sem o Freddie Mercury. Ao contrário do Titãs, que tinha inúmeros vocalistas, a Legião só tinha o Renato, e ele é insubstituível. Um show-tributo é interessante, sim, mas, para voltar acho que os fãs logo se cansariam. Acho que eles têm todo o direito de seguir com o projeto, mas se lançarem discos, não vou comprar. Prefiro continuar comprando as raridades da Legião com o Renato”
RICARDO ADRIANO,
40 anos, funcionário público
“A banda encerrou as atividades quando Renato morreu, por respeito a ele. Mas a própria banda tem um ditado: “Urbana Legio omnia vincit”, o que significa “Legião Urbana a tudo vence”. As pessoas querem relembrar como são as músicas ao vivo. São canções que tocam o coração, que inspiram, e é por isso que ainda hoje a Legião Urbana tem milhares de fãs Brasil afora. Tempo perdido será especial”
DEIVISSON PEREIRA,
33 anos, engenheiro
A volta da Legião Urbana para uma série de shows em comemoração aos 30 anos do lançamento do primeiro disco da banda traz com ela uma pergunta: “Mas uma volta sem o Renato Russo?”. Para alguns fãs mais ardorosos pode até parecer um sacrilégio que Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos subam ao palco – desta vez acompanhados pelo cantor e ator André Frateschi – sob o nome da banda liderada por Renato. Mas para uma boa parcela, a reunião é uma oportunidade de ouro para sentir mais forte os sintomas da febre que a banda causou nas décadas de 1980 e 1990. Tanto é assim que a passagem da turnê por Belo Horizonte rendeu um show extra (ontem), já que os ingressos para a apresentação de hoje no Chevrolet Hall (inicialmente a única prevista) esgotaram-se e a procura por eles não.