É quase possível sentir a falta de uniformidade das pedras gastas pelo tempo debaixo dos pés. As ladeiras fazem o ar faltar dos pulmões, as pernas doerem, o suor brotar da testa. Com Duas cidades, o novo disco do BaianaSystem, transpira-se com o ar pesado e quente do Pelourinho, bairro do centro histórico de Salvador, na Bahia. São 12 canções de saborosos encontros entre a guitarra baiana de Roberto Barreto, as batidas ora eletrônicas, ora orgânicas, o baixo de SekoBass grooveando como se caminhasse conosco pelas subidas e descidas do bairro, e a voz de Russo Passapusso, que despeja o cotidiano em frases, versos e gritos. O visual da banda, obra de Filipe Cartaxo, é parte integrante da proposta do BaianaSystem e cresceu e se expandiu com a banda.
O álbum, lançado em formato digital na semana passada, em sites de música via streaming e download gratuito, é uma continuidade daquilo que se ouviu em BaianaSystem, o primeiro disco do projeto, lançado em 2010, cheio de participações especiais interessantes, como Lucas Santtana, BNegão, entre outros. Há, no novo trabalho, continuações literais. Jah Jah revolta parte 2, que abre Duas cidades, é uma sequência do trabalho anterior e até evoca as batidas dos tambores da antecessora, embora hoje o som do Baiana seja mais intenso e cheio. “Já não estou entendendo, não entendo mais nada / Quem está devendo a risada é a piada”, canta (e protesta) Passapusso. O mesmo acontece com Barra Avenida parte 2, posicionada já no fim do álbum.
Havia uma ferocidade ali, no disco de 2010. Ela ainda está presente, embora surja de uma forma mais lapidada com os anos de experiência nos palcos, sejam eles baianos, de outras cidades do país, e nos Estados Unidos, Japão, China e Europa, e pela produção de Daniel Ganjaman, em mais um trabalho do qual pode orgulhar-se.
PELOURINHO Mas não é por acaso que o Pelourinho esteja presente em Duas cidades. Literalmente, em algumas das letras de Passapusso, ou evocado em um sentimento calorento e suado. O vocalista conta que 70% do que foi produzido e é ouvido no disco nasceu diretamente das apresentações que o grupo fez durante os últimos anos por ali, nas praças Pedro Arcanjo e Tereza Batista. Desde as apresentações por lá no último carnaval, em fevereiro deste ano, o Baiana se retirou dos palcos para organizar as ideias e propostas que surgiram nos últimos seis anos, muitas delas sobre os palcos. “Eram faixas abertas, muitas improvisações”, lembra Passapusso. “Mas conseguimos dar um formato que pudesse se encaixar em um disco. Ali está todo o nosso processo de perguntas e respostas a respeito do samba reggae, o que experimentamos em outros projetos e testamos, tudo o que fazíamos no Pelourinho. Pensamos, vamos registrar isso aí.”
Foi nesse momento que Ganjaman entrou no projeto definitivamente. O caminho de Passapusso e do produtor já haviam se cruzado antes, quando o vocalista estava trabalhando em seu disco solo, Paraíso da miragem, lançado em 2014. “Já depois que saiu meu disco, fizemos um show com o Baiana em São Paulo e fomos jantar com o Ganja”, lembra Passapusso. “Costuramos os retalhos.”
É parte do espírito do BaianaSystem a reconstrução. Ou, como explica Passapusso, a busca de novos significados para cada acorde, batida ou verso. “É como se a gente tirasse um pedaço de uma árvore, para plantar ali do lado, como uma semente, para que outra árvore nasça.”
Duas cidades, o título, é uma referência mais clara a Salvador, à Cidade Alta e à Cidade Baixa, às subidas e descidas do Elevador Lacerda. Há espaço para a análise de Passapusso sobre os êxodos. “Dos grandes e dos pequenos. De gente que sobe a ladeira, de gente que vai até outra cidade para trabalhar. Gente que troca de Estado”, explica o vocalista. O êxodo, afinal, é a conexão, a ligação entre as duas cidades, os dois pontos. O encontro da guitarra baiana com a estética eletrônica. “Isso faz parte da experiência da banda.” (Pedro Antunes, Estadão Conteúdo)
O álbum, lançado em formato digital na semana passada, em sites de música via streaming e download gratuito, é uma continuidade daquilo que se ouviu em BaianaSystem, o primeiro disco do projeto, lançado em 2010, cheio de participações especiais interessantes, como Lucas Santtana, BNegão, entre outros. Há, no novo trabalho, continuações literais. Jah Jah revolta parte 2, que abre Duas cidades, é uma sequência do trabalho anterior e até evoca as batidas dos tambores da antecessora, embora hoje o som do Baiana seja mais intenso e cheio. “Já não estou entendendo, não entendo mais nada / Quem está devendo a risada é a piada”, canta (e protesta) Passapusso. O mesmo acontece com Barra Avenida parte 2, posicionada já no fim do álbum.
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PELOURINHO Mas não é por acaso que o Pelourinho esteja presente em Duas cidades. Literalmente, em algumas das letras de Passapusso, ou evocado em um sentimento calorento e suado. O vocalista conta que 70% do que foi produzido e é ouvido no disco nasceu diretamente das apresentações que o grupo fez durante os últimos anos por ali, nas praças Pedro Arcanjo e Tereza Batista. Desde as apresentações por lá no último carnaval, em fevereiro deste ano, o Baiana se retirou dos palcos para organizar as ideias e propostas que surgiram nos últimos seis anos, muitas delas sobre os palcos. “Eram faixas abertas, muitas improvisações”, lembra Passapusso. “Mas conseguimos dar um formato que pudesse se encaixar em um disco. Ali está todo o nosso processo de perguntas e respostas a respeito do samba reggae, o que experimentamos em outros projetos e testamos, tudo o que fazíamos no Pelourinho. Pensamos, vamos registrar isso aí.”
É parte do espírito do BaianaSystem a reconstrução. Ou, como explica Passapusso, a busca de novos significados para cada acorde, batida ou verso. “É como se a gente tirasse um pedaço de uma árvore, para plantar ali do lado, como uma semente, para que outra árvore nasça.”
Duas cidades, o título, é uma referência mais clara a Salvador, à Cidade Alta e à Cidade Baixa, às subidas e descidas do Elevador Lacerda. Há espaço para a análise de Passapusso sobre os êxodos. “Dos grandes e dos pequenos. De gente que sobe a ladeira, de gente que vai até outra cidade para trabalhar. Gente que troca de Estado”, explica o vocalista. O êxodo, afinal, é a conexão, a ligação entre as duas cidades, os dois pontos. O encontro da guitarra baiana com a estética eletrônica. “Isso faz parte da experiência da banda.” (Pedro Antunes, Estadão Conteúdo)