Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá chegam a BH com turnê 'Legião Urbana XXX Anos'

Com André Frateschi nos vocais, shows da Legião Urbana na capital mineira têm Paula Toller como convidada; Jonnata Doll e Marina Franco também fazem participações

por Mariana Peixoto 13/04/2016 08:13
Rogério Avelino / Divulgação
Dado Villa-Lobos chama de 'esquizofrênico' o uso da canção 'Que país é este?' e critica o maniqueísmo do debate atual (foto: Rogério Avelino / Divulgação)

“As notícias que o resto do país via pela televisão a gente já sabia bem antes. Era o trocador do ônibus que tinha um irmão motorista do Ministério da Fazenda, ou então o porteiro do bloco que conhecia a menina que era telefonista do Itamaraty. A gente sempre sabia de tudo. E a gente sempre morria de medo dos PMs. Eles viviam enchendo o saco nas nossas festas de rock’n’roll, nas lanchonetes, até quando a gente saía para andar de bicicleta. Estado de sítio. Nossa, eles cercaram a cidade inteira e ninguém podia nem sair, nem entrar direito. Coitados dos estudantes, viviam levando porrada. E não faz tanto tempo assim.”

Renato Russo – em reminiscências registradas no álbum duplo Legião Urbana, nova edição do disco de estreia da banda, de 1985 – apresenta um cenário repressivo de uma geração que cresceu na capital federal sob o domínio militar. Cenário que boa parte do público que está indo à turnê Legião Urbana – XXX anos, iniciada em outubro, só conheceu nos livros de história.

Vinte e nove apresentações mais tarde, a turnê chega a Belo Horizonte com dois shows no Chevrolet Hall, quinta (14/04) e sexta (15/04) (este com ingressos esgotados). Ao longo de duas horas e meia, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá – os dois remanescentes do grupo que decretou seu final em 1996, dias após a morte de Renato Russo –, celebram a música da mais importante formação de rock dos anos 1980. É uma turnê comemorativa dos 30 anos do álbum de estreia, com previsão de terminar no fim deste ano. Finalizado o período, cada um vai seguir para o seu lado.

No palco, Dado e Bonfá terão a seu lado André Frateschi (voz), Lucas Vasconcellos (guitarra), Mauro Berman (baixo) e Roberto Pollo (teclados). Assim como em todos os shows, haverá participações especiais. Em BH, a convidada é Paula Toller, que vai cantar Antes das seis e O mundo anda tão complicado. Além dela, participam o cearense Jonnata Doll e a carioca Marina Franco, que estão fazendo todas as apresentações da turnê.

São 30 músicas, divididas em dois momentos. O inicial traz as 11 canções do álbum de estreia, executadas na ordem do disco. Já a segunda parte reúne sucessos como Há tempos, Eu sei, Pais e filhos, O teatro dos vampiros, Quase sem querer, Índios e Faroeste caboclo. O bis conta com Perfeição e Que país é este?.

As letras de Renato Russo, já diz o senso comum, funcionam como hinos de uma geração inconformada. Ao deixar para o final duas das canções mais contundentes, a banda faz uma ponte com dois momentos distintos do . “O que tem acontecido com frequência nesse momento é uma entrega das pessoas, uma catarse coletiva. Mas não vejo algo como manifestação política”, afirma Dado, hoje com 51 anos.

Trinta e sete anos depois de composta, Que país  é este? é uma das canções mais ouvidas em manifestações pró-impeachment. Diz o guitarrista: “A Legião sempre foi vista como uma banda politicamente engajada. Mas não é. Nunca vi o Renato falar ‘eu sou PT’, ele nunca fez política partidária. Quando houve as Diretas-já, a esquerda pegava na bandeira do Brasil e cantava Que  é este?. Hoje, virou símbolo coxinha. Acho tudo muito esquizofrênico. Mas vamos falar sério: o  está degradado, vivendo uma convulsão política e esse maniqueísmo dividiu o Brasil em dois.” Para Bonfá, hoje com 50 anos, Que país é este? é como um hino. “E não tem como não tocar essa música com muita energia.”




1977

Deixando as polêmicas de lado, Dado e Bonfá têm tocado como nunca. “A gente não fazia tanto show (nos anos 1980 e 1990). Hoje, tocamos pelo menos duas vezes por semana (nesta, três, já que no sábado haverá apresentação em Juiz de Fora). Preciso de pelo menos dois dias para me recompor, mas logo tenho saudade da estrada”, conta Bonfá. Pela primeira vez na história do grupo, a Legião vai visitar cidades do Norte e Nordeste em que não esteve com Renato Russo.

As apresentações vêm sendo registradas em vídeo. O projeto é lançar um DVD com um documentário sobre a turnê. Disco ou alguma nova composição estão descartados. “O Bonfá está lançando um disco novo, eu quero entrar em estúdio daqui a pouco para lançar o meu no ano que vem”, afirma Dado. Há alguns anos Bonfá começou a produzir a cachaça artesanal Perfeição em seu sítio, no sul de Minas. Reuniu-se com o filho, João Pedro, e gravou versões para canções de Jorge Mautner, Vanguart e Itamar Assumpção, entre outros, que versam sobre a branquinha. Assim nasceu o Música de Alambique.

Muito mais do que a polêmica sobre se uma nova formação é ou não a Legião Urbana – algo semelhante ao que os Mutantes viveram há dez anos, quando o grupo foi reeditado com Zélia Duncan nos vocais – foi uma questão judicial envolvendo Dado e Bonfá que retardou a volta da banda aos palcos. Desde 27 de março de 2015 os dois estão liberados para usar o nome Legião Urbana. Giuliano Manfredini, filho único e herdeiro de Renato Russo, havia impedido, por meio de ação na Justiça, que os legionários usassem a marca. O nome Legião Urbana foi registrado por Russo.

Os dois remanescentes da banda, junto à gravadora Universal Music, planejaram o lançamento de um projeto que traria um álbum com sobras de estúdio e gravações demo, além do disco de estreia. A cereja do bolo do projeto seria a canção inédita 1977, cuja letra deu origem a Fábrica e Tempo perdido. Ela não está no disco, lançado em março. Manfredini impediu, pela justiça, sua inclusão no trabalho (já que o registro oficial está em nome somente de Renato Russo).

“O embate continua, a questão que foi resolvida é que podemos ser quem nós somos e conseguimos botar o show na rua. O que nos deixou muito p...foi que 1977 é uma das primeiras composições que eu, Renato e Bonfá fizemos juntos. Lembro perfeitamente quando – foi na casa dos meus pais, onde ensaiávamos, em 1983. Foi antes do Negrete entrar. Então, sobre isto o que posso dizer é que me roubaram uma música”, finaliza Dado.

AUTÓGRAFOS
Quarta (13/04), das 17h30 às 20h, Dado e Bonfá autografam, na Fnac do BH Shopping, o álbum Legião Urbana – XXX anos. A partir das 10h haverá distribuição de senhas (200 ao todo) para cada pessoa que comprar o CD ou apresentar o álbum. Não serão autografados outros itens da banda.

LEGIÃO URBANA – XXX ANOS
Quinta (14/04) e sexta (15/04), às 22h, no Chevrolet Hall, Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, (31) 4003-5588. Ingressos (somente para quinta, sexta já esgotado): Pista premium: 1º lote: R$ 160 e R$ 80 (meia); pista comum: 2º lote: R$ 100 e R$ 50 (meia).

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