“As notícias que o resto do país via pela televisão a gente já sabia bem antes.
Renato Russo – em reminiscências registradas no álbum duplo Legião Urbana, nova edição do disco de estreia da banda, de 1985 – apresenta um cenário repressivo de uma geração que cresceu na capital federal sob o domínio militar. Cenário que boa parte do público que está indo à turnê Legião Urbana – XXX anos, iniciada em outubro, só conheceu nos livros de história.
Vinte e nove apresentações mais tarde, a turnê chega a Belo Horizonte com dois shows no Chevrolet Hall, quinta (14/04) e sexta (15/04) (este com ingressos esgotados). Ao longo de duas horas e meia, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá – os dois remanescentes do grupo que decretou seu final em 1996, dias após a morte de Renato Russo –, celebram a música da mais importante formação de rock dos anos 1980. É uma turnê comemorativa dos 30 anos do álbum de estreia, com previsão de terminar no fim deste ano. Finalizado o período, cada um vai seguir para o seu lado.
No palco, Dado e Bonfá terão a seu lado André Frateschi (voz), Lucas Vasconcellos (guitarra), Mauro Berman (baixo) e Roberto Pollo (teclados). Assim como em todos os shows, haverá participações especiais. Em BH, a convidada é Paula Toller, que vai cantar Antes das seis e O mundo anda tão complicado. Além dela, participam o cearense Jonnata Doll e a carioca Marina Franco, que estão fazendo todas as apresentações da turnê.
São 30 músicas, divididas em dois momentos. O inicial traz as 11 canções do álbum de estreia, executadas na ordem do disco. Já a segunda parte reúne sucessos como Há tempos, Eu sei, Pais e filhos, O teatro dos vampiros, Quase sem querer, Índios e Faroeste caboclo. O bis conta com Perfeição e Que país é este?.
As letras de Renato Russo, já diz o senso comum, funcionam como hinos de uma geração inconformada. Ao deixar para o final duas das canções mais contundentes, a banda faz uma ponte com dois momentos distintos do . “O que tem acontecido com frequência nesse momento é uma entrega das pessoas, uma catarse coletiva.
Trinta e sete anos depois de composta, Que país é este? é uma das canções mais ouvidas em manifestações pró-impeachment. Diz o guitarrista: “A Legião sempre foi vista como uma banda politicamente engajada. Mas não é. Nunca vi o Renato falar ‘eu sou PT’, ele nunca fez política partidária. Quando houve as Diretas-já, a esquerda pegava na bandeira do Brasil e cantava Que é este?. Hoje, virou símbolo coxinha. Acho tudo muito esquizofrênico. Mas vamos falar sério: o está degradado, vivendo uma convulsão política e esse maniqueísmo dividiu o Brasil em dois.” Para Bonfá, hoje com 50 anos, Que país é este? é como um hino. “E não tem como não tocar essa música com muita energia.”
1977
Deixando as polêmicas de lado, Dado e Bonfá têm tocado como nunca. “A gente não fazia tanto show (nos anos 1980 e 1990).
As apresentações vêm sendo registradas em vídeo. O projeto é lançar um DVD com um documentário sobre a turnê. Disco ou alguma nova composição estão descartados. “O Bonfá está lançando um disco novo, eu quero entrar em estúdio daqui a pouco para lançar o meu no ano que vem”, afirma Dado. Há alguns anos Bonfá começou a produzir a cachaça artesanal Perfeição em seu sítio, no sul de Minas. Reuniu-se com o filho, João Pedro, e gravou versões para canções de Jorge Mautner, Vanguart e Itamar Assumpção, entre outros, que versam sobre a branquinha. Assim nasceu o Música de Alambique.
Muito mais do que a polêmica sobre se uma nova formação é ou não a Legião Urbana – algo semelhante ao que os Mutantes viveram há dez anos, quando o grupo foi reeditado com Zélia Duncan nos vocais – foi uma questão judicial envolvendo Dado e Bonfá que retardou a volta da banda aos palcos. Desde 27 de março de 2015 os dois estão liberados para usar o nome Legião Urbana. Giuliano Manfredini, filho único e herdeiro de Renato Russo, havia impedido, por meio de ação na Justiça, que os legionários usassem a marca. O nome Legião Urbana foi registrado por Russo.
Os dois remanescentes da banda, junto à gravadora Universal Music, planejaram o lançamento de um projeto que traria um álbum com sobras de estúdio e gravações demo, além do disco de estreia. A cereja do bolo do projeto seria a canção inédita 1977, cuja letra deu origem a Fábrica e Tempo perdido. Ela não está no disco, lançado em março. Manfredini impediu, pela justiça, sua inclusão no trabalho (já que o registro oficial está em nome somente de Renato Russo).
“O embate continua, a questão que foi resolvida é que podemos ser quem nós somos e conseguimos botar o show na rua. O que nos deixou muito p...foi que 1977 é uma das primeiras composições que eu, Renato e Bonfá fizemos juntos. Lembro perfeitamente quando – foi na casa dos meus pais, onde ensaiávamos, em 1983. Foi antes do Negrete entrar. Então, sobre isto o que posso dizer é que me roubaram uma música”, finaliza Dado.
AUTÓGRAFOS
Quarta (13/04), das 17h30 às 20h, Dado e Bonfá autografam, na Fnac do BH Shopping, o álbum Legião Urbana – XXX anos. A partir das 10h haverá distribuição de senhas (200 ao todo) para cada pessoa que comprar o CD ou apresentar o álbum. Não serão autografados outros itens da banda.
LEGIÃO URBANA – XXX ANOS
Quinta (14/04) e sexta (15/04), às 22h, no Chevrolet Hall, Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, (31) 4003-5588. Ingressos (somente para quinta, sexta já esgotado): Pista premium: 1º lote: R$ 160 e R$ 80 (meia); pista comum: 2º lote: R$ 100 e R$ 50 (meia)..