Samuel Rosa e Lô Borges lançam CD e DVD gravado ao vivo em BH

Parceria dá origem a som próprio que mescla características de ambos. DVD do show conjunto sai com documentário que inclui saborosas reminiscências do Clube da Esquina

por Mariana Peixoto 08/04/2016 09:37
Weber Pádua/Divulgação
Samuel Rosa e Lô Borges durante gravação do disco, ano passado, em BH (foto: Weber Pádua/Divulgação)
É recorrendo ao título de um conto de Guimarães Rosa, que virou filme de Nelson Pereira dos Santos e música de Milton Nascimento e Caetano Veloso, que Lô Borges (A terceira margem do rio) traduz sua parceria com Samuel Rosa, agora registrada em CD e DVD.

“Foi muito bom a gente não ter gravado nada naquele momento (1999, quando os dois iniciaram uma série de shows). Existia uma discrepância estética. O Samuel fazia uma música ligada ao ska, à eletrônica. E com o passar dos anos, a música dele se aproximou da minha. Mas, mesmo que as pessoas falem que é uma mistura de Clube da Esquina com Skank, a gente criou uma terceira história”, afirma Lô.

Samuel Rosa & Lô Borges – Ao vivo no Cine Theatro Brasil, CD (com 14 faixas) e DVD (20 faixas, documentário e dois clipes), gravado em agosto passado em Belo Horizonte, chega agora às lojas pela Sony Music. É um trabalho que realmente não seria possível naquele momento inicial, já que parte do repertório é posterior.

É claro que estão presentes clássicos do Clube da Esquina (Feira moderna, O trem azul, Clube da Esquina nº 2, Um girassol da cor do seu cabelo), as canções que aproximaram Samuel da sonoridade forjada por Milton Nascimento (que participa do show, cantando Para Lennon e McCartney), Lô, Beto Guedes, Toninho Horta, Fernando Brant e tantos outros.

Já no longínquo 1998, Samuel falava de uma busca pelo “lado canção”, que estreou em Resposta, quase um corpo estranho no festivo repertório de Siderado, quarto álbum da banda. E há ainda a produção criada depois que ele e Lô se encontraram. Um exemplo é Dois rios (Samuel/Lô/Nando Reis), lançada pelo Skank em 2003. Tal canção só existe porque, a partir da virada do século, a banda rompeu com a sonoridade festiva dos primeiros anos, buscando a harmonia trabalhada que se tornou marca da chamada música mineira.

O show que resultou no CD e DVD é, na opinião de Samuel, mais sóbrio do que as “ensolaradas” apresentações da primeira fase da dupla. Hoje, a banda que os acompanha é formada por Alexandre Mourão (baixo), Doca Rolim (guitarra e violão), Robinson Matos (bateria) e Telo Borges (piano e teclado). Os dois últimos tocam com Lô. Doca acompanha o Skank há pelo menos uma década.

“Na época do primeiro show, a formação era diferente. Tinha uma guitarra a menos e mais percussão (a cargo de Paulo Santos, ex-Uakti). Os músicos eram outros, e a gente fez roupagem meio Skank para as músicas do Lô. Era um show mais tropical, com swing, a gente desconstruiu os arranjos originais (do Clube). Agora, o show está mais rock, menos Skank e mais Lô”, comenta Samuel.

Além do registro ao vivo, há dois de estúdio. No Minério de Ferro, estúdio do Jota Quest, eles gravaram Lampejo (Samuel/Nando Reis) e Dupla chama (Lô/Chico Amaral).

LEMBRANÇAS
A parceria nos palcos, que ao longo dos anos gerou canções como Nenhum segredo e Horizonte vertical, se mostra afinada fora do palco. O DVD, dirigido por Oscar Rodrigues Alves (que assinou uma série de clipes do Skank), traz como extra o documentário BH e a música de Samuel & Lô.

Muitas das histórias são conhecidas pelos fãs do Clube, mas ouvi-las de um entusiasmado Lô Borges faz uma diferença e tanto. Samuel faz o papel de repórter, “puxando a língua” de Lô para lembranças de 50 anos atrás. A dupla visita basicamente a área central de BH, de onde vêm as reminiscências.

Do Cine Brasil partem para o Edifício Levy, onde o Clube foi gestado. “Vamos pedir para entrar?”, pergunta Lô, que não pisava havia três décadas no prédio onde viveu com a família. E onde conheceu Milton Nascimento. A família Borges viveu no apartamento 1704. Um dia, Lô não tinha mais do que 10 anos, sua mãe, Maricota, pediu a ele para comprar pão. Ele foi pelas escadas e parou ao ouvir Milton cantando.

As lembranças levam a dupla a Santa Tereza, à casa onde a família Borges também viveu. Lô continua contando que ouviu, dali, os primeiros ensaios do Sepultura (numa casa vizinha). Juntos, ele e Samuel vão até a esquina das ruas Paraisópolis e Divinópolis, onde o Clube foi criado. De lá, partem para o Parque das Mangabeiras, onde, no teatro de arena, Samuel fez seu primeiro show com público. Na época, um garoto de 16 anos, comandava a banda The Wafers.

TURNÊ
Com o lançamento do CD/DVD, Samuel e Lô dão partida agora à turnê. A estreia será no próximo dia 15, no Vivo Rio. Em BH, o show será em 25 e 26 de junho, no mesmo Cine Theatro Brasil onde foi gravado. “A turnê vai correr em paralelo (ao Skank), assim como foi a gravação. E apesar de estarmos num momento desfavorável, os shows (da banda) estão muito legais. Então, devemos trabalhar até o fim do ano o Velocia, com o show do Lô andando junto. Até porque, o Skank faz entre seis e oito shows por mês”, afirma Samuel.

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