Para quem disser que ele voltou americanizado, vale lembrar que Ed Motta já começou a carreira dizendo que gostava de música americana e que ia ao baile dançar todo fim de semana. Agora, quase três décadas e 12 discos depois, o tijucano faz seu primeiro disco americano.
Gravado em cinco dias, em setembro do ano passado, no estúdio de Nolan Shaheed, em Pasadena, na Califórnia, com produção de Kamau Kenyatta (Gregory Porter), o álbum conta com uma banda formada por estrelas do jazz americano, como Patrice Rushen e Greg Philliganes nos teclados, o baixo de Cecil Beee Tony Dumas, Marvin “Smithy” Smith na bateria e sopros de Hubert Laws, Rockey Woodward, Curtis Taylor e Charles Owens.
Composto por 10 músicas, todas com letra e música do sobrinho de Tim Maia, o álbum funciona como um disco de vinil, uma das preferências do gourmet musical e colecionador de bolachas. O lado A, batizado de soul gate, honra o nome e dá ênfase às referências ao soul, ao funk, ao pop jazzístico do Steely Dan, ao rythm’n’blues e pontes com o suingue de brasileiros como Marcos Valle e João Donato e o soul inventivo de Stevie Wonder e Donny Hattaway, entre muitos outros. O lado B, jazz gate, aproxima Ed do chamado spiritual jazz e flerta com o lado mais elétrico de George Duke, Herbie Hancock e afins, dialogando com a tradição de Dave Brubeck, Art Blakey e outros jazzistas que nunca descuidaram do ritmo como elemento fundamental de suas criações.
Com versos de uma poesia particular, tratando com fino humor e imagens bem construídas casos e ideias sobre amor, cotidiano e navios e cidades em chamas, Perpetual gateways, que chega agora ao Brasil, foi lançado em fevereiro na Europa e no Japão, com ótimas críticas de sites e publicações de jazz. Por aqui, estreou no primeiro lugar no iTunes e tem tudo para agradar aos fãs de discos mais recentes e maduros, como AOR, Aystelum e Dwitza. Se é um disco de exportação, para inglês ver, inglês viu, ouviu e gostou. E também alemão, italiano, japonês...
Do jazz explícito de The owner, A town in flame, I remember Julie e Overblow overweight ao pop sofisticado de Captain’s refusal, Hypocondriac’s fun e Heritage deja vú, passando pelo irresistível groove crossover de Good intentions e pelas sofisticadas baladas Reader’s choice e Forgotten nickname, Ed Motta se mostra um compositor seguro e um intérprete maduro, com a voz sob controle, com doses equilibradas e emoção nas horas certas e sem firulas desnecessárias. Aos 45 anos, o artista que declara nunca ter tido adolescência e ter nascido “com 50 anos de idade” fez de Perpetual gateway talvez seu melhor disco. Se não é verdade, é bem provável.
de todas as idades Ed Motta continua bem-humorado, objetivo e sem rodeios. Por 20 minutos ele falou ao Estado de Minas, por telefone, de algum ponto do Rio de Janeiro, sobre o disco novo, suas influências e o momento da carreira. Colecionador de long plays, gostou de saber que, no mercado internacional, o vinil anda vendendo mais do que o formato digital.
Feliz por não ter, até agora, tido nenhuma interrupção de show por conta de celulares, elenca países como Itália, França e Inglaterra como lugares onde o público tem recebido bem sua música. Um público de todas idades e gostos musicais. Não apenas de jazz ou de música pop.
A polêmica sobre os brasileiros que vão a seu show para pedir Manuel e não respeitam a fase atual da sua carreira ficou no passado. “Hoje virou piada”, decretou, sem espaço para continuar o assunto.
Leia os principais
trechos da entrevista
• MELHOR DISCO
Os caras colocaram no release que eu acho meu melhor disco, mas não falei isso. Gosto muito dos outros também. Mas é o mais recente e a gente tem uma atenção especial.
• CONVITE
Eles me procuraram e me pediram um disco em inglês, gravado nos Estados Unidos, misturando soul, funk e o que eu sempre fiz com algo jazzístico. Aí saiu como um disco de vinil, com metade num lado soul, metade
num lado jazz. A ideia veio a partir das músicas que eu
já tinha feito. O repertório ditou a estética.
• LETRAS
Pude colocar algumas coisas que eu tinha, da minha personalidade. Nunca liguei muito para letra. Elas sempre funcionaram meio que como uma legenda da música. Comecei a fazer meio por brincadeira. Agora quero fazer a mesma coisa em português, que é muito mais difícil. É uma língua mais complexa.
• FILME
O título me lembra ficção científica. O disco é meio que um roteiro de filme, mas não é futurista. Olha para mais
para o meu passado do que para o futuro.
• TURNÊ
Os músicos que gravaram comigo não podem ir para uma turnê, cada tem sua carreira. Montei uma banda na Europa e estou montando uma banda brasileira. Ainda não posso dizer os nomes. Mas quero ir para estrada em breve.
• GUITARRA
Fazer um disco sem guitarra foi ideia do produtor. Mas tem o som do clavinete, que é como uma guitarra distorcida. É como fazer feijoada vegetariana com tofu no lugar de linguiça. (rs)
• MOMENTO GOURMET
Tenho um projeto com o chefe Fred, do Restaurante Trindade, que já tem uns dois anos. A gente vai na casa da pessoa, cozinha, eu harmonizo com os vinhos e no final toco umas duas músicas.
• ARRANJOS
Quando cheguei para gravar, já estavam prontos. Fomos trabalhando nas músicas e nos arranjos aos poucos, pelo Skype.
• FAVORITA
Gosto especialmente da balada Forgotten nickname, que é meio dramática. Tem influência da música brasileira, de Edu Lobo, Francis Hime, e até de música clássica.
• INFLUÊNCIAS
Todas que os críticos apontam, como Steely Dan, Stevie Wonder, Al Jarreau, estão corretas. São minhas referências desde sempre.
Gravado em cinco dias, em setembro do ano passado, no estúdio de Nolan Shaheed, em Pasadena, na Califórnia, com produção de Kamau Kenyatta (Gregory Porter), o álbum conta com uma banda formada por estrelas do jazz americano, como Patrice Rushen e Greg Philliganes nos teclados, o baixo de Cecil Beee Tony Dumas, Marvin “Smithy” Smith na bateria e sopros de Hubert Laws, Rockey Woodward, Curtis Taylor e Charles Owens.
Composto por 10 músicas, todas com letra e música do sobrinho de Tim Maia, o álbum funciona como um disco de vinil, uma das preferências do gourmet musical e colecionador de bolachas. O lado A, batizado de soul gate, honra o nome e dá ênfase às referências ao soul, ao funk, ao pop jazzístico do Steely Dan, ao rythm’n’blues e pontes com o suingue de brasileiros como Marcos Valle e João Donato e o soul inventivo de Stevie Wonder e Donny Hattaway, entre muitos outros. O lado B, jazz gate, aproxima Ed do chamado spiritual jazz e flerta com o lado mais elétrico de George Duke, Herbie Hancock e afins, dialogando com a tradição de Dave Brubeck, Art Blakey e outros jazzistas que nunca descuidaram do ritmo como elemento fundamental de suas criações.
Com versos de uma poesia particular, tratando com fino humor e imagens bem construídas casos e ideias sobre amor, cotidiano e navios e cidades em chamas, Perpetual gateways, que chega agora ao Brasil, foi lançado em fevereiro na Europa e no Japão, com ótimas críticas de sites e publicações de jazz. Por aqui, estreou no primeiro lugar no iTunes e tem tudo para agradar aos fãs de discos mais recentes e maduros, como AOR, Aystelum e Dwitza. Se é um disco de exportação, para inglês ver, inglês viu, ouviu e gostou. E também alemão, italiano, japonês...
Do jazz explícito de The owner, A town in flame, I remember Julie e Overblow overweight ao pop sofisticado de Captain’s refusal, Hypocondriac’s fun e Heritage deja vú, passando pelo irresistível groove crossover de Good intentions e pelas sofisticadas baladas Reader’s choice e Forgotten nickname, Ed Motta se mostra um compositor seguro e um intérprete maduro, com a voz sob controle, com doses equilibradas e emoção nas horas certas e sem firulas desnecessárias. Aos 45 anos, o artista que declara nunca ter tido adolescência e ter nascido “com 50 anos de idade” fez de Perpetual gateway talvez seu melhor disco. Se não é verdade, é bem provável.
de todas as idades Ed Motta continua bem-humorado, objetivo e sem rodeios. Por 20 minutos ele falou ao Estado de Minas, por telefone, de algum ponto do Rio de Janeiro, sobre o disco novo, suas influências e o momento da carreira. Colecionador de long plays, gostou de saber que, no mercado internacional, o vinil anda vendendo mais do que o formato digital.
Feliz por não ter, até agora, tido nenhuma interrupção de show por conta de celulares, elenca países como Itália, França e Inglaterra como lugares onde o público tem recebido bem sua música. Um público de todas idades e gostos musicais. Não apenas de jazz ou de música pop.
A polêmica sobre os brasileiros que vão a seu show para pedir Manuel e não respeitam a fase atual da sua carreira ficou no passado. “Hoje virou piada”, decretou, sem espaço para continuar o assunto.
Leia os principais
trechos da entrevista
• MELHOR DISCO
Os caras colocaram no release que eu acho meu melhor disco, mas não falei isso. Gosto muito dos outros também. Mas é o mais recente e a gente tem uma atenção especial.
• CONVITE
Eles me procuraram e me pediram um disco em inglês, gravado nos Estados Unidos, misturando soul, funk e o que eu sempre fiz com algo jazzístico. Aí saiu como um disco de vinil, com metade num lado soul, metade
num lado jazz. A ideia veio a partir das músicas que eu
já tinha feito. O repertório ditou a estética.
• LETRAS
Pude colocar algumas coisas que eu tinha, da minha personalidade. Nunca liguei muito para letra. Elas sempre funcionaram meio que como uma legenda da música. Comecei a fazer meio por brincadeira. Agora quero fazer a mesma coisa em português, que é muito mais difícil. É uma língua mais complexa.
• FILME
O título me lembra ficção científica. O disco é meio que um roteiro de filme, mas não é futurista. Olha para mais
para o meu passado do que para o futuro.
• TURNÊ
Os músicos que gravaram comigo não podem ir para uma turnê, cada tem sua carreira. Montei uma banda na Europa e estou montando uma banda brasileira. Ainda não posso dizer os nomes. Mas quero ir para estrada em breve.
• GUITARRA
Fazer um disco sem guitarra foi ideia do produtor. Mas tem o som do clavinete, que é como uma guitarra distorcida. É como fazer feijoada vegetariana com tofu no lugar de linguiça. (rs)
• MOMENTO GOURMET
Tenho um projeto com o chefe Fred, do Restaurante Trindade, que já tem uns dois anos. A gente vai na casa da pessoa, cozinha, eu harmonizo com os vinhos e no final toco umas duas músicas.
• ARRANJOS
Quando cheguei para gravar, já estavam prontos. Fomos trabalhando nas músicas e nos arranjos aos poucos, pelo Skype.
• FAVORITA
Gosto especialmente da balada Forgotten nickname, que é meio dramática. Tem influência da música brasileira, de Edu Lobo, Francis Hime, e até de música clássica.
• INFLUÊNCIAS
Todas que os críticos apontam, como Steely Dan, Stevie Wonder, Al Jarreau, estão corretas. São minhas referências desde sempre.