“O que Réquiem, de Giuseppe Verdi (1813-1901), coloca no palco é o confronto do ser humano com a morte. Por mais que tenhamos fé, é momento de grande dúvida. O que será de mim? Para onde vamos? Há vida depois da morte? E, neste sentido, é uma obra muito atual”, explica o maestro Silvio Viegas, de 47 anos. Trata-se de peça dramática, “quase uma ópera”, que se vale da missa dos mortos para falar dos sentimentos em tons sombrios. “É uma obra-prima que não deve nada a qualquer quadro de Michelangelo, drama de Shakespeare ou escultura de Bernini”, compara.
A apresentação de Réquiem traz mais significados. É uma homenagem a Sérgio Magnani (1914-2001), um ídolo de Silvio Viegas. É também a abertura da temporada de 2016 da Orquestra Sinfônica, que já tem programação anunciada: um concerto com Elba Ramalho, no projeto Sinfônica Pop, dias 8 e 9 de abril, além de dois outros dedicados a Mozart e Beethoven, com regência de Sérgio Gomes, também no próximo mês. E para maio, Romeu e Julieta, de Gounot, tendo no elenco Paulo Szot, brasileiro radicado nos Estados Unidos, vencedor, há alguns anos, do Prêmio Emmy na categoria melhor cantor de musicais.
Com Réquiem, Silvio Viegas estreia como novo regente titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG), depois de oito anos no mesmo posto, na Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A proposta de trabalho, explica, é intensificar produções que unifiquem a orquestra, o coral lírico e o grupo de dança da Fundação Clóvis Salgado. “Aumentam as possibilidades de explorar repertório – e há muitas obras que pedem esses grupos, tornam os concertos mais atraentes, nos dão condições de explorar novos coloridos sonoros e cênicos”, observa.
Sílvio Viegas é formado pela Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais e já trabalhou com diversas orquestras no Brasil e no exterior. Foi com a OSMG que fez o primeiro trabalho, aos 21 anos, e o trabalho mais recente com o mesmo grupo foi Lucia di Lammernoor, em 2015. “É uma orquestra que se entrega à música, que se apaixona pela obra, o que é raro”, elogia. A música existe na vida dele desde criança, incentivada, inclusive, por pais que adoravam ópera. Tanto que, já na juventude, acalentava o desejo de se tornar maestro, mas acabou estudando piano.
“Minha opção pela regência veio da minha paixão pelo som das orquestras e da ópera, do meu desejo de estar no meio de universo que me encantava. Desde que comecei a estudar música, a vontade era ser regente, ainda que tivesse, como todo mundo que escolhe uma profissão, visão fantasiosa do ofício”, conta Viegas. “Quando fazemos música é para que alguém nos ouça. Claro que somos profissionais, pensamos na sobrevivência. Mas, quando se escolhe ser artista, é porque temos necessidade de comunicar sentimentos. Não precisa levar alguém às lágrimas, pode ser provocar o riso, a reflexão ou levar a pessoa a se sentir melhor”, defende.
Para Viegas, o mais difícil na atividade é a construção da música. “Ser capaz de informar aos integrantes de orquestra uma ideia musical e ver todos transformando isso em som não é simples”, observa. “Você sabe que quer um verde, mas até chegar ao tom que procura, cobra concentração, dedicação, estudo”, explica. “O melhor momento é quando você sente que fomos justos com o compositor, o que você sente quando vê as pessoas se emocionarem e aplaudir”, conta. Regência, avisa, é interpretação. “Se você ouvir a mesma composição, com dois regentes, vai ouvir coisas completamente diferentes”, garante.
Réquiem, de Giuseppe Verdi
Orquestra Sinfônica e Coral Lírico de Minas Gerais, com regência de Silvio Viegas. Solistas: Eliane Coelho, Ana Lúcia Benedetti, Paulo Mandarino. Terça e quarta-feira, às 20h30. Grande Teatro do Palácio das Artes – Av. Afonso Pena, 1537, Centro, (31) 3236-7400. R$ 30 e R$ 15. Classificação: 10 anos.
NA PONTA DA BATUTA
Autorretrato
“Sou maestro que amo a voz. Sou ligado à opera, ao coral. A voz é o primeiro instrumento musical da humanidade, cada uma tem a sua característica, a sua beleza e é única. Voz toca o coração, fala, se comunica com outro humano de forma natural. Todos bem ou mal cantamos, então, é algo que está dentro de nós, é emoção direta. E isso me encanta.”
Orquestras
“Todas as cidades deveriam ter uma orquestra e lutar por ela. É bem fundamental para o crescimento humano e sinal de compreensão da importância social, humana, da arte e da cultura. Ela mostra o grau de humanidade de uma sociedade. O número de orquestras é, inclusive, um dos aspectos pelo qual se mede a qualidade de vida.”
Reger
“É mais do que comandar. Minha função é inspirar os músicos para que toquem em harmonia, da melhor forma possível. O grau de responsabilidade de todos na orquestra é alto. É trabalho meticuloso, como uma cirurgia. Cada nota tem seu arco, sua sonoridade, dedilhado, respiração. Tudo isso é pensado, nada está ali gratuitamente.”
Sérgio Magnani
“Sou discípulo dele. Foi um humanista com capacidade para articular música, arquitetura, filosofia, sentimentos humanos. Foi homem de conhecimento e sensibilidade excepcional. E homem de simplicidade difícil de encontrar em pessoa com tantas qualidades. Foi um dos maiores maestros e conhecedores de ópera que o Brasil já conheceu.”
O maestro explica que a peça conserva características únicas, graças a duas singularidades do compositor. Verdi era ateu e tinha predileção pela composição de óperas. Essas influências, de acordo com Viegas, são perceptíveis na composição. “Ele transforma o texto litúrgico em um verdadeiro libreto de óperas. Trata a obra não como uma liturgia, mas com peça de teatro, pontuando os dramas do indivíduo”, explica. “É um réquiem laico, mostrando o ser humano consciente da realidade inevitável da morte e não temeroso de Deus e, nesse sentido, diferente do réquiem de Mozart, que é crédulo”, analisa.
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Com Réquiem, Silvio Viegas estreia como novo regente titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG), depois de oito anos no mesmo posto, na Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A proposta de trabalho, explica, é intensificar produções que unifiquem a orquestra, o coral lírico e o grupo de dança da Fundação Clóvis Salgado. “Aumentam as possibilidades de explorar repertório – e há muitas obras que pedem esses grupos, tornam os concertos mais atraentes, nos dão condições de explorar novos coloridos sonoros e cênicos”, observa.
Sílvio Viegas é formado pela Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais e já trabalhou com diversas orquestras no Brasil e no exterior. Foi com a OSMG que fez o primeiro trabalho, aos 21 anos, e o trabalho mais recente com o mesmo grupo foi Lucia di Lammernoor, em 2015. “É uma orquestra que se entrega à música, que se apaixona pela obra, o que é raro”, elogia. A música existe na vida dele desde criança, incentivada, inclusive, por pais que adoravam ópera. Tanto que, já na juventude, acalentava o desejo de se tornar maestro, mas acabou estudando piano.
“Minha opção pela regência veio da minha paixão pelo som das orquestras e da ópera, do meu desejo de estar no meio de universo que me encantava. Desde que comecei a estudar música, a vontade era ser regente, ainda que tivesse, como todo mundo que escolhe uma profissão, visão fantasiosa do ofício”, conta Viegas. “Quando fazemos música é para que alguém nos ouça. Claro que somos profissionais, pensamos na sobrevivência. Mas, quando se escolhe ser artista, é porque temos necessidade de comunicar sentimentos. Não precisa levar alguém às lágrimas, pode ser provocar o riso, a reflexão ou levar a pessoa a se sentir melhor”, defende.
Para Viegas, o mais difícil na atividade é a construção da música. “Ser capaz de informar aos integrantes de orquestra uma ideia musical e ver todos transformando isso em som não é simples”, observa. “Você sabe que quer um verde, mas até chegar ao tom que procura, cobra concentração, dedicação, estudo”, explica. “O melhor momento é quando você sente que fomos justos com o compositor, o que você sente quando vê as pessoas se emocionarem e aplaudir”, conta. Regência, avisa, é interpretação. “Se você ouvir a mesma composição, com dois regentes, vai ouvir coisas completamente diferentes”, garante.
Réquiem, de Giuseppe Verdi
Orquestra Sinfônica e Coral Lírico de Minas Gerais, com regência de Silvio Viegas. Solistas: Eliane Coelho, Ana Lúcia Benedetti, Paulo Mandarino. Terça e quarta-feira, às 20h30. Grande Teatro do Palácio das Artes – Av. Afonso Pena, 1537, Centro, (31) 3236-7400. R$ 30 e R$ 15. Classificação: 10 anos.
NA PONTA DA BATUTA
Autorretrato
“Sou maestro que amo a voz. Sou ligado à opera, ao coral. A voz é o primeiro instrumento musical da humanidade, cada uma tem a sua característica, a sua beleza e é única. Voz toca o coração, fala, se comunica com outro humano de forma natural. Todos bem ou mal cantamos, então, é algo que está dentro de nós, é emoção direta. E isso me encanta.”
Orquestras
“Todas as cidades deveriam ter uma orquestra e lutar por ela. É bem fundamental para o crescimento humano e sinal de compreensão da importância social, humana, da arte e da cultura. Ela mostra o grau de humanidade de uma sociedade. O número de orquestras é, inclusive, um dos aspectos pelo qual se mede a qualidade de vida.”
Reger
“É mais do que comandar. Minha função é inspirar os músicos para que toquem em harmonia, da melhor forma possível. O grau de responsabilidade de todos na orquestra é alto. É trabalho meticuloso, como uma cirurgia. Cada nota tem seu arco, sua sonoridade, dedilhado, respiração. Tudo isso é pensado, nada está ali gratuitamente.”
Sérgio Magnani
“Sou discípulo dele. Foi um humanista com capacidade para articular música, arquitetura, filosofia, sentimentos humanos. Foi homem de conhecimento e sensibilidade excepcional. E homem de simplicidade difícil de encontrar em pessoa com tantas qualidades. Foi um dos maiores maestros e conhecedores de ópera que o Brasil já conheceu.”