- Foto: Carl Court / AFP PHOTO
Três dias depois do encerramento da histórica visita do presidente Barack Obama ao país, os cubanos se preparam para outro evento de proporções inéditas na ilha: o megashow da banda britânica Rolling Stones, ícones do rock, que, durante décadas, foi condenado pelo Partido Comunista como uma influência nefasta do imperialismo.
O cineasta Eduardo Del Llano, de 53 anos, estará entre as 500 mil pessoas esperadas no concerto desta sexta-feira, dia 25, que será gratuito. "É mais uma porta que se abre em Cuba", disse Del Llano.
Fã dos Stones desde os 15 anos, ele se lembra da dificuldade de acesso ao rock durante a sua adolescência. A música estava censurada em Cuba e era impossível comprar discos dos Stones e de outras bandas condenadas pelo governo. "Vez ou outra, ouvíamos que o pai de alguém havia voltado do exterior com um álbum e corríamos para copiá-lo em fitas cassetes."
A venda legal de CDs de rock ainda é uma raridade em Cuba, mas é possível ter acesso a versões piratas de quase tudo em pequenas lojas, que se multiplicam no país. Além disso, a música antes banida, hoje é tocada em rádios e shows de artistas estrangeiros começam a ser mais frequentes no país.
Há três semanas, centenas de milhares de jovens se reuniram na Tribuna Anti-Imperialista (que fica em frente da Embaixada dos Estados Unidos) para dançar ao som de música eletrônica apresentada por um DJ europeu.
Como o dos Stones, o show foi gratuito. Atualmente, a economia é uma restrição maior que a política para a apresentação de bandas estrangeiras em Cuba, onde o salário médio é de US$ 20.
Luiz Manuel Molina é um dos primeiros roqueiros da ilha e começou a tocar nos anos 1970, quando esse estilo de música era proibido na ilha. "Na época, vivíamos em um mundo underground, com apresentações nas casas das pessoas e em festas privadas", lembrou Molina em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo.
A tolerância ao rock começou a se ampliar no fim dos anos 1980. Agora, Molina está em contagem regressiva para ver os Stones pela primeira vez em um cenário inimaginável em sua juventude: Havana. "Estou muito emocionado. A expectativa é que o concerto marque uma nova era artística em Cuba."
Com uma carreira dedicada ao registro de bandas de rock, a inglesa Jill Furmanovsky está em Cuba e assistirá ao show dos Stones. "Eles já fizeram de tudo e tocar em Cuba será algo histórico", afirmou Jill ao jornal O Estado de S.Paulo, depois de fazer uma projeção cronológica de seu trabalho desde os anos 1960 e apresentar 60 fotos dos Stones feitas por vários fotógrafos. Na plateia, cerca de cem cubanos, que exclamavam alguns nomes na medida em que as imagens eram mostradas na tela.
Mas nem todos estão entusiasmados com os Rolling Stones. Gorki Águila, dissidente e integrante da banda de punk Pornô para Ricardo, acredita que o grupo não deveria ir a Cuba, em protesto contra o regime de partido único. Já que vão, ele gostaria de vê-los criticar o governo de Raúl Castro.
Águila passou dois anos na prisão na década passada e uma câmera vigia a entrada do prédio onde vive. Ainda assim, ele pretende estar na plateia desta sexta, 25, se a polícia deixar. "Sinto emoções contraditórias. Quero muito ver os Stones, mas também quero viver em um país onde haja liberdade", acrescentou..