Se o mundo real não atrai Rita, ela se joga no universo virtual, para delírio dos fãs. Sua página no Facebook beira 1,8 milhão de seguidores. No Instagram (Litaree_Real), são quase 52 mil.
Afinal de contas, por onde anda Rita? As opiniões de amigos e antigos parceiros divergem, aumentando a curiosidade em torno do mito. “Já, já ela volta a fazer shows”, afirma Manoel Poladian, que calcula ter empresariado cerca de 1,5 mil espetáculos de Rita e do marido, Roberto de Carvalho. Ele se refere a turnês no Brasil, Estados Unidos e na Europa.
Produtor de hits da cantora, Guto Graça Mello garante: “Ela não tem mais o desejo. Desistiu”. Entre outros sucessos, Guto produziu os discos que traziam Chega mais e Lança-perfume, clássicos do pop nacional. “Tenho uma saudade imensa de trabalhar com ela. Do bom humor que é só ela tem”, lamenta.
Guto não é o único parceiro que lamenta a ausência da estrela. Moacyr Franco conta que tem outra música para Rita. “A canção, com abordagem do que estamos vivendo, está pronta para ela ouvir”, afirma o compositor de Tudo vira bosta, outro hit da ex-Mutante.
Produtor do LP Atrás do porto tem uma cidade (1974), Marco Mazzola não esconde o desejo de revê-la. “Claro que dá sempre vontade de encontrar quem foi importante em nossa vida”, diz. Quando lançou sua autobiografia (Ouvindo estrelas), Mazzola pediu depoimentos de artistas que contribuíram para sua carreira. Rita respondeu: “Já faz tanto tempo daquele Menino bonito (uma das 10 faixas de Atrás do porto...), meu primeiro trabalho de estúdio depois que fui expulsa dos Mutantes. Um flop total.
Para matar a saudade
Enquanto ela não dá as caras para arrombar a festa, os fãs podem se jogar ao som dos 21 discos da caixa Rita Lee (Universal). Parte do catálogo da gravadora, o conjunto oferece um panorama de sua carreira desde os tempos dos Mutantes – Build up (1970) é um projeto especial reunindo Rita e os irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista. Há trabalhos dela com a banda Tutti Frutti, álbuns da carreira solo e CD extra com registros em compactos, além de faixas que fizeram parte de trilhas de filmes e novelas.
O disco Entradas e bandeiras completa 40 anos em 2016. O produtor Pena Schmidt diz que o álbum foi um passo importante. “Ele representou a continuidade necessária depois do sucesso do LP Fruto proibido e do megassucesso de rádio Ovelha negra. Era a consolidação da banda Tutti Frutti, que acrescentava estilo e criava um apoio formidável para Rita”, avalia.
No estúdio, porém, as coisas não foram tranquilas. “Rita andava esgotada da estrada, as mixagens sem ela presente eram complicadas, mas conseguimos chegar ao fim com músicas bacanas.
Músicos e produtores elogiam a criatividade e o talento de Rita. Manoel Barenbein, coordenador de produção de Build up, trabalhou também no disco Os Mutantes (1968). Até hoje, lembra a surpresa ao vê-la abrir a mala e tirar dali uma bomba flit de matar insetos, entre outras quinquilharias. “Eu e o pessoal da técnica ficamos olhando aquilo, sem entender nada. Mas ela usou para fazer o chimbau na marcação da bateria. Usou o flit pelo prazer de criar algo diferente”, diz, admirado.
Build up (1970)
>> Manuel Barenbein (produtor)
“Esse disco foi gravado como uma espécie de projeto paralelo à carreira dos Mutantes. Fui o supervisor do trabalho, que teve direção de Arnaldo Baptista. Os três – Rita, Arnaldo e Sérgio Baptista – são de uma criatividade absurda. Juntos, eram fantásticos. Eles sempre me surpreendiam com arranjos feitos entre a casa e o estúdio. Depois do disco, fiquei dois anos na Itália. Quando voltei, cada um já seguia seu caminho e não trabalhei com Rita, a quem continuo admirando.”
Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida (1972)
O álbum traz a última composição de Élcio Dário para Rita Lee. Em Beija-me, amor, ele divide a letra com Arnaldo Baptista. Hoje, Dário é motorista de táxi em São Paulo. Ele preferiu não se pronunciar sobre esse disco e Build up, que traz cinco canções dele. “Não quero falar sobre o assunto”, resumiu.
Atrás do porto tem uma cidade (1974)
>> Mazzola (produtor)
“Trabalhar neste projeto foi muito bom para a minha vida. Recebi o convite do presidente da Polygram, André Midani. Argumentei que não conhecia o trabalho da Rita, só o dos Mutantes. André acreditava muito na carreira dela. E disse: ‘Vai em frente, menino!’”
Fruto proibido (1975)
O álbum tem duas parcerias de Rita com Paulo Coelho – Esse tal de roque enrow e O toque. Traz clássicos da carreira dela, como Luz del Fuego e Ovelha negra.
O disco foi gravado com a banda Tutti Frutti, formada por Luis Carlini, Lee Marcucci, Franklin Paolillo, Paulo Maurício, Gilberto e Rubens Nardo.
Entradas e bandeiras (1976)
>> Pena Schmidt (produtor)
“Foi o terceiro disco de Rita pós-Mutantes, ela já tinha repertório, voz e estilo próprios. Rita sempre foi uma pessoa de altíssimo astral, amorosa e alegre. Sabia o que queria, sabia conquistar as pessoas. Não conheço inimigos de Rita, a reta. Não tenho mais contato com ela, mas só porque a correria não deixa.”
Refestança ao vivo (1977)
>> Caetano Veloso (cantor e compositor)
“Só o fato de saber que ela gostava de uma canção minha sempre teria uma importância para mim. Rita é a deusa do pop rock brasileiro. Desde novinha, ela apresentava uma inteligência musical luminosa, um humor poético único, um grande talento performático. É um tesouro da nossa história.”
Babilônia (1978)
Das nove faixas, Miss Brasil, Disco voador, Agora é moda e Jardins da Babilônia se tornaram hits da carreira de Rita Lee. Todas são parceria dela com Lee Marcucci. Modinha, que fecha o disco, é divertida, mas não emplacou. A letra de Rita diz assim: “Acho bom lembrar/ Que o passarinho na gaiola/ Não esquece de cantar/ Que uma criança nunca briga/ Se ela aprende a brincar e amar.”
Rita Lee (1979)
>> Guto Graça Mello (produtor)
“Quando ela entrou na Som Livre, procurei descobrir por que uma cantora tão importante vendia tão pouco. Foi aí que descobri: pais linha-dura não deixavam os filhos ouvirem Rita pelo fato de ela ter sido presa. A solução foi colocar as canções nas novelas. Aos poucos, ela foi caindo no gosto popular. Sempre foi uma delícia trabalhar com Rita e Roberto.”
Rita Lee (1980)
>> Manoel Poladian (empresário)
“Elis Regina me pediu para cuidar ‘dessa menina’, que ela adorava. Gostava tanto que a filha se chama Maria Rita. Até hoje, cuido da ‘menina’ quando ela faz show. Em 55 anos, fiz cerca de 1,5 mil shows com Rita Lee e Roberto de Carvalho. A turnê deste disco fez Rita Lee explodir no Brasil na sequência de Mania de você. Rita e Roberto sempre me ensinaram muito.”
Saúde (1981)
>> Max Pierre (produtor)
“Foi meu primeiro disco produzido para Rita e Roberto, gravado no estúdio da Som Livre construído especialmente para eles. Uma vez por ano, os dois tinham prioridade lá. Saúde foi marcante em nossas carreiras. Sempre fui fã da Rita, ainda mais depois do casamento com Roberto, que a contaminou com seu rock latino. Os dois se conheceram depois que ele fez arranjo para a música dela (Bandido corazón), do disco Bandido, de Ney Matogrosso.”
Rita e Roberto (1982)
>> Ricardo Feghali (músico da banda Roupa Nova)
“Foi uma emoção sem tamanho e um prazer gravar com a Rita. Sempre fomos fãs dela e ficamos lisonjeados com o convite. Rita é de suma importância para a cultura musical e para o Brasil. Ela é um ícone, referência para toda uma geração e para nossos filhos, netos e por aí vai. Seria uma honra trabalhar com ela novamente. Quem sabe em projetos futuros?”
Bombom (1983)
A capa vem com tarja proibindo a execução de Arrombou o cofre e Degustação. A primeira, de Rita e Roberto, fala dos escândalos da época. “Governadores, deputados, vereadores/ Saqueando bancos e bancando defensores/ Ninguém se ilude mais/ Que a comida está no fim/ Olhem
só a pança/ Do sinistro Delfim/ Tá cheia de cupim”, diz a letra. Degustação, por sua vez, é um festival escatológico de embrulhar os estômagos mais sensíveis.
Rita e Roberto (1985)
Apesar do hit Vírus do amor, não foi um disco de sucesso. Lá está a divertida Glória F. (“Me empalharam/ Embalsamaram/ E até que o trabalho não ficou tão mal assim/ Pois hoje/ Quando saio lá do meu covil/ Os gatos do subúrbio fazem fiu, fiu!/ Meu bem/ Sou Glória Frankenstein”). O “paralamas” João Barone toca bateria em Vítima, Molambo souvenir e Não titia. Herbert Vianna faz solo de guitarra em Glória F.
Flerte fatal (1987)
>> Kid Vinil (cantor)
“Trabalhar com Rita sempre foi muito legal. Ela é tranquila e superacessível. No disco Kid Vinil e os heróis brasileiros, produzido por Roberto de Carvalho, ela fez backing vocal na faixa Fútil rock and roll. Ficamos muito próximos até ela me convidar para o coro de Músico problema. Rita e Roberto formam a melhor parceria do rock brasileiro. Eles têm harmonia em tudo.”
Zona zen (1988)
O disco não estourou, mas mesmo assim se destacaram as faixas Cecy bom, versão da canção francesa C’est si bon, e Cruela cruel, composta por Rita e Roberto. As outras seis canções não empolgaram os fãs.
Rita Lee e Roberto de Carvalho (1990)
>> Gringo Cardia (cenógrafo e designer)
“A capa deste disco foi minha última em parceria com Luiz Stein. Depois, fiz mais três discos de Rita, além de cenários de shows e vídeos. O convite surgiu logo depois da capa que fizemos para As aventuras da Blitz. A ideia era usar a foto dos dois transformados em bonequinhos, pois naquela época eles eram ícones pop. Foi ótimo trabalhar com Roberto e Rita, de quem sou fã desde sempre.”
Santa Rita de Sampa (1997)
>> Guinga (compositor e violonista)
“Fiquei lisonjeado em receber o convite para trabalhar com Rita. Ao mesmo tempo, fiquei temeroso por trabalharmos em áreas distintas. Ela é pop no sentido de excelência, eu trafego na música brasileira ‘clássica’. Mas Rita foi demais. Elogiou meu trabalho pelos quatro cantos. Nunca mais vou esquecer esse projeto.”
Rita Lee e Roberto de Carvalho (1990)
>> Gringo Cardia (cenógrafo e designer)
“A capa deste disco foi minha última em parceria com Luiz Stein. Depois, fiz mais três discos de Rita, além de cenários de shows e vídeos. O convite surgiu logo depois da capa que fizemos para As aventuras da Blitz. A ideia era usar a foto dos dois transformados em bonequinhos, pois naquela época eles eram ícones pop. Foi ótimo trabalhar com Roberto e Rita, de quem sou fã desde sempre.”
Santa Rita de Sampa (1997)
>> Guinga (compositor e violonista)
“Fiquei lisonjeado em receber o convite para trabalhar com Rita. Ao mesmo tempo, fiquei temeroso por trabalharmos em áreas distintas. Ela é pop no sentido de excelência, eu trafego na música brasileira ‘clássica’. Mas Rita foi demais. Elogiou meu trabalho pelos quatro cantos. Nunca mais vou esquecer esse projeto.”
Acústico Rita Lee (1998)
Nos anos 1990, Beto Lee sempre acompanhou os pais nas turnês. Nesse projeto acústico, proposto pela MTV, o rapaz teve o prazer de ver a mãe gravar uma de suas canções, O gosto do azedo. O disco contou com participações de Cássia Eller, Paula Toller, Milton Nascimento, Titãs, Oswaldinho e Armandinho. Foi um dos maiores sucessos da carreira de Rita.
3001 (2000)
>> Fernanda Takai (cantora)
“Gravamos demo só de guitarra e voz com uma cartinha contando que era presente pra ela e Roberto. Qual não foi a nossa surpresa quando ela disse que
ia gravar e queria que a gente participasse. Deu um nervosinho gostoso gravar com ela, uma sensação boa de estar junto dessa mulher tão importante para a história da nossa música. Uma artista que admiramos demais e tivemos a alegria de conhecer mais de perto. Rita Lee é única, exclusiva e não desbota!”
Ao vivo (2004)
>> Moacyr Franco (ator e compositor)
“Estava no meu estudiozinho, entre uma guarânia e outra, quando mostrei a música a Marcelo Nova para que ele a gravasse. Mas ele tomou um susto (risos) e não quis. Mandei para Rita, sem esperança, até que um dia ouvi a mensagem deixada por ela em meu celular: ‘Ouvi e gravei’. Fiquei muito contente, sempre fui fã dela.”
Rita Lee – Pérolas (2016)
A coletânea reúne canções bacanas: Caçador de aventura, Lá vou eu e Status, do compacto Rita Lee (1976); Dias melhores virão, da trilha do filme homônimo de Cacá Diegues (1989); e músicas que fizeram parte de trilhas das novelas Sassaricando e Loco-motivas. Há também versões de Rita para Samba do Arnesto, de Adoniran Barbosa e Alocin, e O que é que a baiana tem?, de Dorival Caymmi.