"Nessa videoaula nós vamos aprender a segurar o violão, os primeiros acordes, o primeiro ritmo.
Aos 18 anos, o estudante de jornalismo Guilherme Resende aprendeu quase tudo o que sabe em seu quarto, na companhia apenas do notebook. Há cinco anos, ele ganhou um violão de seu pai. Desde então, tenta tirar sozinho as músicas de que gosta.
“Cheguei a sentir falta de um professor e pedi para entrar nas aulas, mas logo vi que não era aquilo que eu queria. Para o que desejo ser como músico, é muito importante aprender as coisas sozinho, tirar as músicas de ouvido”, afirma o jovem. A inspiração veio das bandas que ouviu durante toda a adolescência e que trazem consigo um pouco do espírito “faça você mesmo”, como Nirvana e Pearl Jam.
Os métodos on-line também foram a escolha de Matheus Daniel, de 14. O adolescente está nos primeiros passos do aprendizado do violão, mas já tem ótimas influências. Sua maior inspiração é o compositor norte-americano Elliott Smith, mas ele também cita Syd Barrett, do Pink Floyd, e Thom Yorke, do Radiohead. “Quis aprender a tocar violão quando comecei a pesquisar mais sobre os artistas de que gostava. Isso me deu muita vontade de fazer minha própria música.”
Daniel conta que, além das cifras, assiste aos ídolos tocando ao vivo para tentar aprender os acordes. Ele está satisfeito com os métodos e também não tem a intenção de procurar um professor. “Na internet, você pode aprender na hora que quiser. Depois do violão, quero aprender a tocar outros instrumentos”, diz.
Mesmo sendo inegável que o aprendizado on-line contribuiu para a bagagem dos alunos, educadores ponderam que esse tipo de método não substitui o professor. O coordenador do colegiado de graduação do curso de música da UFMG, Rogério Vasconcelos, defende que na escola há uma grande riqueza de experiências musicais a ser compartilhada. “Penso nesses recursos como complementares e acredito que poderiam ser utilizados como ferramentas de ensino-aprendizagem pelos próprios professores da universidade, complementando suas aulas presenciais com ensino a distância”, afirma.
Na opinião de Vasconcelos, os conhecimentos adquiridos via internet são importantes, principalmente nos primeiros estágios de técnica. Ele ressalta que a teoria continua sendo um ponto fundamental e que a universidade não cogita, por exemplo, mudar os quesitos de avaliação do vestibular. “O que se exige de teoria (no vestibular de música) é bastante fácil de aprender com algum tempo de dedicação.
Marcelo Chiaretti, professor da Fundação de Educação Artística, diz que acha o conceito de autodidata curioso, já que é difícil imaginar alguém que não aprenda com outras pessoas. “Mesmo no caso do instrumentista que aprende com o vídeo, é preciso lembrar que ele está aprendendo com outro músico”, pontua.
O docente pensa que a internet é uma ferramenta valiosíssima, que acaba proporcionando ao aluno conhecimentos musicais de lugares a que ele dificilmente teria acesso. No entanto, diz que, como toda ferramenta de pesquisa, é preciso de orientação para usá-la. “Acho que o contato com o professor e a prática musical coletiva é o que mais faz com que o aluno se desenvolva musicalmente. Uma coisa não substitui a outra, mas pode complementar – e muito”, afirma.
Para Chiaretti, os novos métodos virtuais não são muito diferentes do que se fazia antigamente. “Esse tipo de transmissão existiu, talvez, desde o início do fonógrafo. Mesmo estudando por métodos alternativos, o instrumento vai ser tocado é na companhia de outros músicos.
O professor conta que deu aula no Clube de Choro de Paris e notou que músicos de todo o mundo usavam a internet para aprender música brasileira. “Uma das minhas alunas posteriormente veio a Belo Horizonte e se deparou com uma roda de choro a que ela assistiu muitas vezes pelo computador. É preciso buscar, mais do que a música, o ambiente musical onde ela está de verdade.”
HENRIQUE BRETTAS*
Com 6 anos, ganhei um pequeno violão. Naquela época, era o lado da curiosidade que prevalecia, nada mais relevante do que isso – a paixão pela música permanecera inconsciente. Aos 15, em meados da adolescência, explode o Big Bang da curiosidade. E então decidi me aventurar no universo do violão.
Comecei com algumas revistas. Amigos músicos me incentivavam. Naquela época, a internet era apenas uma turista que despertava nossas imaginações. Com apoio de minha mãe, surge um novo violão, já que o antigo cedera ao desgaste do tempo. Por coincidência, o próprio vendedor acabou sendo meu professor. Foram dois meses de aulas enriquecedoras, e tive a certeza de que queria muito me dedicar ao mundo mágico que a música poderia me proporcionar.
Parei com as aulas e, passado um certo tempo, comecei a me inteirar mais das novidades na internet. Nesse cenário diferente e moderno, as revistinhas eram sucatas nas bancas. A era das “cifras e tablaturas on-line” inventou a autodidática, um aprendizado gratuito e de fácil acesso.
Com esse leque aberto, percebi que aprender música só dependeria de um fator importantíssimo: a dedicação. A colheita de tanto estudo veio no ensino médio. Ao lado de um grande amigo, venci um festival no colégio na categoria revelação. Empolgado, sigo estudando, e a internet continua sendo a fonte mais abundante.
Comecei a me dedicar a criar, compor e também treinar tudo a que assistia na rede. Depois de participar de algumas bandas, me ancorei em uma recém-formada, a Drive Sete. Com a responsabilidade de vocal e guitarra- base, voltei a estudar. Fiz alguns meses de aula de canto e fui incentivado por um repertório rico do rock. Estou aprendendo outra vez.
Percebi que a estrada musical, mesmo que sinuosa por seus desafios, acaba num pote de vasto conhecimento, um prazer a que nada se compara. Sozinho, com ajuda de amigos ou da internet, em qualquer tempo, a música é um aprendizado infinito.
*Henrique Brettas é músico amador
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