A escolha de Villa-Lobos, como explica Fábio Mechetti, vem do fato de ele gostar de abrir as temporadas com autores do Brasil. “Somos uma orquestra brasileira, temos grandes compositores e prestigiamos a nossa criação”, observa. Escolheu o Choro nº 8, que alude inclusive ao carnaval, por achar peça boa para momento em que a folia ainda está na lembrança das pessoas. O maestro explica que, apesar de vir do chorinho, valorizando o sentido de improvisação do gênero, é obra que mescla muitas referências.
Sinfonia n° 2 em mi menor, op. 27, como explica o maestro, dialoga com a composição de Villa-Lobos. “A música de Rachmaninov também revela heranças do nacionalismo musical, só que de forma mais romântica”, conta. Para Mechetti, o momento áureo da estética nacionalista pode ser considerado entre o final do século 19 e as primeiras décadas do 20. São desse período compositores que imortalizaram a proposta com obras clássicas. Entre os autores que representam o gênero, figuram os russos Bela Bartok e Stravinsky, o argentino Ginastera e o norte-americano George Gershwin.
A consideração por raízes musicais populares ou folclóricas, na área erudita, para o maestro, é cíclica. “Minha teoria particular é que momentos de guerra, de conflitos, de pós-guerra trazem um certo apego à música do país, como uma forma de defender o que seria próprio”, observa Mechetti. “Em época de paz, a música se globaliza”, acredita. O regente explica que transformações do mundo, da sociedade, da cultura, e até na forma de compreender esses temas e conceitos praticamente extinguiram a estética nacionalista na cena contemporânea.
NOVIDADE Na temporada de 2016, a novidade são palestras (para 65 pessoas) antes dos concertos das séries Allegro, Vivace, Presto e Veloce, na Sala de Recepções das 19h30 às 20h, antes dos concertos. O tema da estreia é justamente o nacionalismo musical, apresentado através de análise e informações sobre as obras e contextos em que Villa-Lobos e Rachmaninov viveram e criaram. “A proposta é oferecer informações que propiciem audição mais atenta, entrega mais intensa à música”, explica Werner Silveira, percussionista da Filarmônica, que faz a curadoria da atividade.
“Conhecer um pouco das histórias e da época em que viveu cada compositor enriquece a experiência. É como tomar café em venda de quem produz, ouvindo causos, conhecendo o grão, os modos de torrar”, compara Silveira. Ele conta que as pessoas até conhecem um pouco do tema, mas observa que, devido à extensão e à diversidade da programação da Filarmônica (só as séries são 48 concertos por ano), fica difícil conhecer melhor e de forma mais detalhada cada um dos autores. “Vamos complementar o que o programa oferece”, observa.
CONCERTO
Choro nº 8, de Villa-Lobos, e Sinfonia nº 2 em mi menor, op.
Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, com os pianistas Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini. Hoje e amanhã, ás 20h30. Sala Minas Gerais, Rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto, (31) 3219-9000. R$ 34. (balcão, palco e coro), R$ 44. (mezanino), R$ 56. (balcão lateral), R$ 78. (plateia central) e R$ 98, (balcão principal). Meia-entrada para estudantes e maiores de 60 anos. .