Grammy: onde vale mais a performance do que a vitória

No prêmio da indústria fonográfica americana o mais importante não é a lista de vencedores, mas as performances dos artistas na cerimônia de premiação.

17/02/2016 08:52
FOTOS: ROBYN BECK/AFP
Taylor Swift durante a performance no Grammy 2016 (foto: FOTOS: ROBYN BECK/AFP)
Por que assistir ao Grammy? Para ver os shows, claro. Diferentemente das grandes premiações da indústria, o prêmio maior da música importa mais pelas performances do que pelo resultado de quem levou o quê. É o oposto de seu equivalente no cinema. No Oscar, você assiste à longuíssima cerimônia (e torce), suportando números musicais geralmente infernais, para ver quem ganhou em cada categoria.


O 58º Grammy distribuiu na noite de anteontem, em Los Angeles, 83 troféus. Desses, apenas oito foram entregues no palco do Staples Center. Quando a festa começou (às 23h do Brasil), a maioria dos agraciados já tinha sido revelada.

Terminada a cerimônia, três horas e meia depois, falou-se muito mais da ausência de Rihanna e da desafinada de Adele (que foi até o Twitter para justificar a escorregadela, justificando-a por “problemas técnicos”) do que propriamente do troféu de álbum do ano, o mais importante do Grammy, para 1989, de Taylor Swift. Kendrick Lamar levou cinco Grammys? Pois muito mais relevante foi a performance espetacular do rapper no palco, sem dúvida o ponto alto da noite.

Então, revelados os principais troféus da noite – gravação do ano para Uptown funk, de Mark Ronson e Bruno Mars; música do ano para Thinking out loud, de Ed Sheeran, além do álbum de Taylor, levou outros dois prêmios –, o que ficou foi uma edição morna, com alguns poucos grandes momentos.

Nos EUA, o hip-hop é grande indústria. Em meio à série de rappers que despontam a cada temporada, Kendrick Lamar, com seu terceiro álbum, To pimp a butterfly (2015), passou a ser chamado o “John Coltrane do hip-hop”, dada a costura azeitada que fez do rap com o jazz nesse trabalho (que contou com grandes músicos dos dois gêneros). Campeão de indicações desta edição (11 ao todo), Lamar levou para o palco a melhor tradução desse álbum.

Com dançarinos e músicos, ele executou na primeira parte do show a faixa The Blacker the Berry. O cenário era uma prisão, e o rapper estava acorrentado. Nas celas, os metais acompanhavam uma batida dura. Essa música foi emendada em outra, Alright, e a cena foi tomada por uma grande fogueira no palco. Ao final, a palavra Compton (referência à cidade californiana berço do hip-hop, que entregou, na última semana, sua chave a Lamar) apareceu em destaque no meio do mapa da África. Maior simbologia que essa, impossível.

TRIBUTO A noite também foi boa para Lionel Richie, artista homenageado do Grammy, que recebeu tributo de John Legend e Tyrese Gibson (muito melhores do que Demi Lovato). Nada como a perspectiva temporal para revalorizar artistas. Da plateia, Dave Grohl era dos mais animados com as versões para Hello e Easy, entre outros.

Com a série de mortes recentes na música, este Grammy teve um forte tom póstumo. A despeito das homenagens a BB King e Maurice White, cofundador do Earth, Wind & Fire, o tributo mais emocionante foi o realizado pelos Eagles e Jackson Browne a Glenn Frey – tanto no palco quanto na plateia havia uma quantidade boa de olhos marejados.

No entanto, a maior expectativa era de como Lady Gaga homenagearia David Bowie. Houve controvérsias (e muita divisão nas redes sociais, incluindo os comentários de “mentalmente confusa”, maneira como Duncan Jones, filho de Bowie, se referiu à cantora no Twitter).

Deixando as paixões de lado, a performance foi mais uma série de covers do que propriamente um tributo. Gaga reuniu alguns dos maiores sucessos dele – Space oddity, Fame, Heroes etc. – e, a bordo de uma peruca alaranjada, buscou encarná-lo, fosse na maneira de cantar, fosse na maneira de dançar. Ficou diferente, algo estranho, mas a cara dela. Melhor mesmo foi a performance na abertura, com imagens que emulavam as várias faces de Bowie no rosto da cantora.

E numa noite em que a música fala mais alto do que as palavras, dois discursos ficam para a história da premiação. Stevie Wonder, comentando sobre as diferenças, leu o vencedor de música do ano. “Vocês não podem ler, vocês não leem em Braille, na-na-na-na-na.”

E Taylor, ao final, ao receber o Grammy de álbum do ano, lembrou-se de que é a primeira mulher a levar duas vezes o principal troféu da premiação. “Quero dizer a todas as jovens mulheres por aí: haverá gente ao longo do caminho que tentará minar seu sucesso ou levar o crédito por suas realizações ou sua fama.” Sem dar nome aos bois, a loirinha lançou essa farpa a Kanye West, cuja música, Famous, diz que os dois poderiam fazer sexo porque ele teria feito “aquela vadia famosa”. Ri melhor quem ri por último.

PIANISTA DO BRASIL


Também diferentemente do Oscar, o Grammy já premiou, ao longo de sua história, alguns brasileiros. Nesta edição, a vencedora foi a pianista e cantora paulista Eliane Elias (que foi indicada outras seis vezes). Radicada desde os anos 1980 nos EUA, ela recebeu o troféu de melhor álbum de jazz latino por Made in Brazil. O álbum vencedor, o primeiro que ela gravou em São Paulo, contou com a participação de Ed Motta e Roberto Menescal.


>> OLHA ELEEEEEEES!

Confira os principais premiados pelo Grammy 2016


>> ÁLBUM DO ANO

1989, Taylor Swift
>> GRAVAÇÃO DO ANO
Uptown funk, Mark Ronson
e Bruno Mars
>> CANÇÃO DO ANO
Thinking out loud, Ed Sheeran
>> ARTISTA REVELAÇÃO
Meghan Trainor (EUA)
>> MELHOR ÁLBUM DE RAP
To pimp a butterfly, Kendrick Lamar
>> MELHOR ÁLBUM DE ROCK
Drones, Muse
>> MELHOR ÁLBUM VOCAL POP
1989, Taylor Swift
>> MELHOR ÁLBUM DE MÚSICA ALTERNATIVA
Sound and color, Alabama Shakes

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