O encontro de violões do Brasil, Argentina e Chile no disco 'Cuerdas del sur'

Os brasileiros Juarez Moreira, Toninho Horta e Chiquito Braga se unem ao argentino Luis Salinas e ao chileno Christian Gálvez na gravação do disco e na apresentação do show Cuerdas del sur

por Eduardo Tristão Girão 17/02/2016 08:25

Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
Os músicos Luis Salinas, Juarez Moreira, Chiquito Braga, Toninho Horta e Christian Gálvez ensaiam para o show Cuerdas del sur, que será apresentado amanhã, em BH (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Foi nos anos 1980 que o violonista argentino Luis Salinas escutou Toninho Horta pela primeira vez. A música era Waiting for Angela, que o também violonista – e ícone do violão mineiro – gravou no disco Diamond land. Os solos agradaram, claro, mas foi a inconfundível maneira de criar harmonias que o impressionou e de tal maneira que ele passou a buscar tudo o que havia do artista para ser escutado. Não tardou para que a admiração fosse ampliada para a música de Minas Gerais.

Ano passado, Salinas soube pelo baixista chileno Christian Gálvez que Chiquito Braga, espécie de pai do violão mineiro, tocaria em Santiago. Certo de que seria imperdível, viajou para conhecê-lo: encantou-se não apenas com a musicalidade, mas também com a humildade dele. Surgiu, então, a ideia de reunir o argentino, o chileno e os mineiros num disco, projeto que Juarez Moreira, outro gigante do violão daqui, se encarregou de viabilizar. No momento, estão todos gravando em BH e tocarão juntos no Teatro Bradesco, amanhã à noite.

Batizado de Cuerdas del sur, o disco terá 10 músicas, sendo duas de cada participante e com diferentes formações. Será um registro importante não apenas por fazer ponte entre três países, mas por reunir três dos principais talentos do violão mineiro, celebrando a relevância que essa estética tem ainda hoje no cenário internacional. Em se tratando da seção mineira do repertório, será um apanhado de clássicos (como Pilar, de Horta, e Baião barroco, de Moreira) e pérolas pouco acessíveis, como Passeando nas nuvens, de Braga.

Aliás, justamente essa composição parecia tirar os pés de Salinas do chão durante a sessão de gravação anteontem. “É tão bonito que a gente vai ouvindo e não quer que termine mais. É o momento mais fino do disco até agora. Nunca ouvi nada igual”, elogiou o extasiado argentino, enquanto não parava de gesticular a cada solo ou virada na harmonia. Por essas e por outras, resolveu trazer consigo o filho Juan, de 16 anos, que também toca violão.

PRESENTE
“Estamos vivendo uma experiência maravilhosa, isso é um presente de Deus. Quis que o meu filho conhecesse tudo isso também, pois além de ótimos músicos, os mineiros são exemplos como pessoas. Quando conheci o Chiquito, por exemplo, me impressionei com a humildade dele. Não dá para explicar isso para o meu filho. Precisava trazê-lo para ver”, explica Salinas. Os mineiros não apenas foram gentis com o jovem, como estão falando em convidá-lo a gravar uma das faixas.

“Isso é muito especial como músico e pai”, emociona-se Salinas. Sua ligação com a música mineira é tão forte que ele conta ter guardado como recordação a mensagem que recebeu de Juarez Moreira para oficializar o convite. “Pensei que fosse mentira”, confessa. Hoje um amante da música brasileira, coleciona histórias com artistas do país, como o violonista Baden Powell, que o chamou de “louco e genial”, e o multi-instrumentista Hermeto Pascoal, que lhe deu uma bronca ao perceber que Salinas estava com medo de aceitar o convite para tocarem juntos.

Na opinião dele, o violão mineiro se destaca pelo seu “lirismo harmônico”: “Ele não é quadrado. Vão nascendo coisas e tudo é lindo. Os violonistas mineiros praticamente fazem orquestração sobre o que estão tocando. Tocar violão é uma coisa, fazer música com ele é outra”. Um dia depois de ter chegado à capital mineira, sexta passada, a empolgação era tamanha que ele escreveu uma música inspirado pela experiência que estava começando a viver. A composição, claro, foi batizada de Belo Horizonte.

 

Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
Juarez Moreira será o anfitrião no show marcado para quinta (18/02) (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
MÚSICOS TIRAM A MÃO PARA NÃO EMBOLAR

 

O show desta quinta (18/02) funcionará como aperitivo do disco. Juarez Moreira será o anfitrião, recebendo, ao lado de sua banda (o baixista Kiko Mitre e o baterista Neném), cada um dos quatro participantes do álbum. Isso porque, na avaliação de Moreira, o processo de gravação, que termina no final desta semana, não permitiu rotina de ensaios para reproduzir o repertório do álbum na íntegra. Entretanto, o público ouvirá amanhã algumas das faixas que estão sendo registradas em estúdio, como Via chic, de Braga, e Você chegou sorrindo, de Moreira.

“É um negócio meio louco de dar certo, mas está dando”, conta Juarez. Ele conta que, numa gravação com tantos violões envolvidos, é preciso ter sempre em mente a necessidade de “tirar a mão”, ou seja, tocar de maneira discreta ou mesmo nem tocar o instrumento para não causar a sensação de cordas emboladas. A ordem é evitar excessos para evidenciar as nuances de cada participante, cada uma no momento certo. É a segunda vez que ele, Horta e Braga gravam juntos, pois lançaram Quadros modernos, em 2000.

No caso de Salinas, completa Moreira, há características importantes a serem destacadas no registro. “Ele é um músico de espírito portenho, que toca com muito sentimento. Dá para sentir mesmo a América. É um grande melodista, um grande improvisador. Todas as frases musicais são muito bem colocadas e articuladas, com originalidade e sem ceder ao virtuosismo”, afirma.

Waiting for Angela, a música que deu origem a toda a história, está confirmada no repertório desta quinta.

 

JUAREZ MOREIRA TRIO
Show com a participação de Luis Salinas, Toninho Horta, Chiquito Braga e Christian Gálvez. Quinta (18/02), às 21h, no Teatro Bradesco (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingresso: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada), à venda na bilheteria, das 12h às 21h. Informações: (31) 3516-1360

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