Ano passado, Salinas soube pelo baixista chileno Christian Gálvez que Chiquito Braga, espécie de pai do violão mineiro, tocaria em Santiago. Certo de que seria imperdível, viajou para conhecê-lo: encantou-se não apenas com a musicalidade, mas também com a humildade dele. Surgiu, então, a ideia de reunir o argentino, o chileno e os mineiros num disco, projeto que Juarez Moreira, outro gigante do violão daqui, se encarregou de viabilizar. No momento, estão todos gravando em BH e tocarão juntos no Teatro Bradesco, amanhã à noite.
Batizado de Cuerdas del sur, o disco terá 10 músicas, sendo duas de cada participante e com diferentes formações. Será um registro importante não apenas por fazer ponte entre três países, mas por reunir três dos principais talentos do violão mineiro, celebrando a relevância que essa estética tem ainda hoje no cenário internacional.
Aliás, justamente essa composição parecia tirar os pés de Salinas do chão durante a sessão de gravação anteontem. “É tão bonito que a gente vai ouvindo e não quer que termine mais. É o momento mais fino do disco até agora. Nunca ouvi nada igual”, elogiou o extasiado argentino, enquanto não parava de gesticular a cada solo ou virada na harmonia. Por essas e por outras, resolveu trazer consigo o filho Juan, de 16 anos, que também toca violão.
PRESENTE “Estamos vivendo uma experiência maravilhosa, isso é um presente de Deus. Quis que o meu filho conhecesse tudo isso também, pois além de ótimos músicos, os mineiros são exemplos como pessoas. Quando conheci o Chiquito, por exemplo, me impressionei com a humildade dele. Não dá para explicar isso para o meu filho. Precisava trazê-lo para ver”, explica Salinas. Os mineiros não apenas foram gentis com o jovem, como estão falando em convidá-lo a gravar uma das faixas.
“Isso é muito especial como músico e pai”, emociona-se Salinas. Sua ligação com a música mineira é tão forte que ele conta ter guardado como recordação a mensagem que recebeu de Juarez Moreira para oficializar o convite. “Pensei que fosse mentira”, confessa. Hoje um amante da música brasileira, coleciona histórias com artistas do país, como o violonista Baden Powell, que o chamou de “louco e genial”, e o multi-instrumentista Hermeto Pascoal, que lhe deu uma bronca ao perceber que Salinas estava com medo de aceitar o convite para tocarem juntos.
Na opinião dele, o violão mineiro se destaca pelo seu “lirismo harmônico”: “Ele não é quadrado.
O show desta quinta (18/02) funcionará como aperitivo do disco. Juarez Moreira será o anfitrião, recebendo, ao lado de sua banda (o baixista Kiko Mitre e o baterista Neném), cada um dos quatro participantes do álbum. Isso porque, na avaliação de Moreira, o processo de gravação, que termina no final desta semana, não permitiu rotina de ensaios para reproduzir o repertório do álbum na íntegra. Entretanto, o público ouvirá amanhã algumas das faixas que estão sendo registradas em estúdio, como Via chic, de Braga, e Você chegou sorrindo, de Moreira.
“É um negócio meio louco de dar certo, mas está dando”, conta Juarez. Ele conta que, numa gravação com tantos violões envolvidos, é preciso ter sempre em mente a necessidade de “tirar a mão”, ou seja, tocar de maneira discreta ou mesmo nem tocar o instrumento para não causar a sensação de cordas emboladas. A ordem é evitar excessos para evidenciar as nuances de cada participante, cada uma no momento certo.
No caso de Salinas, completa Moreira, há características importantes a serem destacadas no registro. “Ele é um músico de espírito portenho, que toca com muito sentimento. Dá para sentir mesmo a América. É um grande melodista, um grande improvisador. Todas as frases musicais são muito bem colocadas e articuladas, com originalidade e sem ceder ao virtuosismo”, afirma.
Waiting for Angela, a música que deu origem a toda a história, está confirmada no repertório desta quinta.
JUAREZ MOREIRA TRIO
Show com a participação de Luis Salinas, Toninho Horta, Chiquito Braga e Christian Gálvez. Quinta (18/02), às 21h, no Teatro Bradesco (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingresso: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada), à venda na bilheteria, das 12h às 21h. Informações: (31) 3516-1360