A sonoridade é atual, sem soar modernosa, e leva o ouvinte que quiser captar os detalhes a seguir o mandamento que está no meio do encarte: experimente com fone de ouvido. Maturado entre 2010 e 2015 e gravado no estúdio Observatório dos Ecos, que Yuka tem na Tijuca, no Rio de Janeiro, o álbum traz apenas oito faixas e foi totalmente composto ao violão para depois receber tratamento, como informa o texto de divulgação, com “ferramentas típicas do hip-hop”, em que sintetizadores e baterias eletrônicas dialogam com guitarras, cítara, violoncelo, escaleta e baixo, quase sempre no limite da economia.
O resultado final soa como se quem ouve (principalmente com fone de boa qualidade) testemunhasse uma exposição de motivos em ambiente pequeno, quase gravação daquelas velhas fitas demo.
A chave para a compreensão pode estar na terceira faixa, Todas as cores, aberta com um refrão que funciona como mantra – loka samastha sukino bhavantu –, ou seja: que todos os seres, em toda parte, encontrem a felicidade.
Na abertura, o samba cool Ensina-me a viver fala de recuperar um amor antigo. Ligeiramente mais animado, O batuque pede licença para a batucada descer a ladeira todos os dias, vibrando e quebrando a barreira do som.
Não abala é mais política, trata da insensibilidade do homem atual, mas termina falando da possibilidade de encontros. Com o cello de Katunga criando clima diferenciado, o samba Ano bom abre a série final falando de seguir nova viagem. Fechando o disco, o contraste de violão meio bossa com guitarra rascante e efeitos faz de Esperando o amanhã o encerramento ideal para a empreitada coesa e coerente, diferenciando estar só de estar solitário.
Simples, mas não fácil, Caixa de música tem concepção e execução que lembram as caixas de música tradicionais, que podem soar ingênuas para uns, inspiradoras para outros. Mas quem embarcar na viagem do artista terá motivos para descobrir suas delicadezas..