As canções de Sentidor – que podem ser classificadas como qualquer coisa entre a música eletrônica, experimental e ambiente – recentemente foram executadas em grandes rádios estrangeiras, como a KEXP (Seattle) e Vocalo (Chicago), além da italiana Popolare.
“A ideia de que a música instrumental é inacessível se deve muito mais aos lugares em que ela toca, ou melhor, em que não toca”, diz ele, referindo-se à carência de divulgação desse tipo de música em território nacional. Carvalho conta que, em Belo Horizonte, apenas a rádio UFMG Educativa já abriu espaço para as suas composições. “Quando divulguei meu último disco, uma outra rádio falou sobre o lançamento, mas não tocou a música”, conta.
Até agora, os discos Dilúvio (2015) e Notícias do mundo nosso (2014) foram ao ar de forma independente, mas, no último mês, Sentidor assinou com o selo peruano Surrounding Label, pelo qual deverá lançar outro álbum, ainda neste semestre. No ano passado, o compositor também viu o disco Sibö (2015), lançado em parceria com o costarriquenho Nillo, ganhar uma reedição bancada pelo site britânico Sounds and Colours.
O nome Sentidor já dá uma pista do tipo de libertação que a música representa para ele, mas as músicas, bastante melódicas e cuidadosas com timbres e texturas, também são a representação da memória e de sonhos. “Dilúvio é claramente uma forma de lidar com a depressão, mas também é fruto de experiências espirituais e sonhos. É uma representação de processos mentais e, por mais que não tenha letra, as pessoas sabem muito bem dessa questão”, conta.
AVÓ
A prova de que as músicas são acessíveis vem de dentro de casa.
A ideia inicialmente despretensiosa de se aventurar pelas composições eletrônicas veio de bandas que introduziam esses elementos no rock, como os britânicos Radiohead e outras cheias de ambientação, como os islandeses Sigur Rós. Outra inspiração foi a banda mineira Constantina, pela qual João conheceu um dos integrantes, o compositor Barulhista, que se tornaria seu principal parceiro na música eletrônica em Belo Horizonte. “Por meio dele, vi que tinha gente fazendo esse mesmo tipo de música e conseguindo. Além da inspiração musical, tinha essa questão da demonstração de que era possível ter reconhecimento.”
O músico Barulhista também faz parte do peruano Surrounding Label e foi um dos responsáveis pela adesão de Carvalho ao selo. “Desde 2008, percebo um interesse muito mais internacional do que local nesse nosso nicho. E olha que não negamos nenhum ritmo brasileiro, pelo contrário”, diz Barulhista. Ele avalia que, em parceria com Sentidor, tem cumprido um papel de tentar aumentar o alcance desse tipo de música para o público nacional. “Temos virado referência, porque somos poucos e trabalhamos com uma música muito específica”, diz.
Barulhista criou um jeito peculiar de rotular esse tipo de composição: música para dançar sentado. “É uma música para se criar a partir do que se ouve e não simplesmente entender o que se escutou.