Porcelana é o nome do mais recente álbum da cantora e compositora carioca, dividido com o pernambucano Gonzaga Leal. Sagitarianos – ele nascido em 1º de dezembro; ela no dia 8 – começaram a se entender em 2004, quando Gonzaga convidou Alaíde para participar no CD E o nosso prazer é cantar. Mas foi há uma década, quando ela fez uma sequência de shows em Recife, que eles se tornaram amigos.
Desde então, costumam se reunir todo ano para um show de comemoração do duplo aniversário. Aqui está a base do disco. Nas palavras dele, o CD “busca cumprir uma função dramatúrgica atrelada ao tempo, à amizade”. Para isso, foram, aos poucos, selecionando repertório, burilando arranjos e gravando-os com alguns músicos atuantes na cena da capital pernambucana, como o guitarrista Marcos FM, o baterista Ebem Perrelli e o baixista Cacá Barreto.
Com pouco mais de 50 minutos de duração e 15 músicas distribuídas em 13 faixas, Porcelana contempla repertório de um Capiba dos anos 1950 (Quando se vai um amor) a autores contemporâneos, como Consuelo de Paula (Bem-me-quer, Água doce do mar), Zé Miguel Wisnik (Fim do ano), João Cavalcanti (Frevo do contra-êxodo, Em tempo) e Sérgio Pererê (Oiá). E Moisés Santana, responsável pela faixa que dá nome ao projeto e retrata um fim de caso com poética original e desconcertante.
Num dos textos do encarte, o português Tiago Torres da Silva, autor do belíssimo fado Meu amor abre a janela, lembra que a dupla e ele gostam de tristeza. E por isso se deram tão bem. Porcelana não é um disco alegre, no sentido festeiro da palavra, mas convida ao silêncio, à atenção, ao acompanhamento cheio de sinuosas delicadezas que o próprio Tiago compara, com felicidade, a “um objeto muito belo, mas muito frágil, como uma renda feita com fio de seda que pudesse quebrar a qualquer momento”. Mas essa fragilidade rima com cuidado e risco, nunca com inconsistência.
Com interpretações tão ajustadas que, às vezes, fica difícil dizer com certeza quem está cantando qual parte, o disco, além de ostentar beleza na diversidade, redimensiona dois clássicos contemporâneos que andavam um pouco esquecidos: Solidão, de Alceu Valença, e Divinamente nua, a lua, rara parceria de Caetano Veloso e Orlando Morais.