A trajetória de sucesso da banda começou em 1996, a partir do ideal do estudante da Universidade de Brasília (UnB) Alexandre Carlo. De pais cariocas, ele cresceu sob uma vasta influência de estilos, de sambas de João Nogueira, Jorge Ben, passando por Gilberto Gil até o pop romântico de Fábio Jr. O reggae só foi aparecer em sua vida mais tarde, aos 18 anos, por meio do irmão, que o apresentou a uma fita cassete de Legend, de Bob Marley. “Quando ouvi a primeira vez, já me tocou. E, talvez, por eu não ter uma formação técnica e por ser um estilo mais simples, comecei com as primeiras composições”, explicou Alexandre, em uma entrevista dada em 2014 ao Correio Braziliense.
A partir dessas primeiras músicas, o caminho para montar uma banda surgiu naturalmente, com ajuda de amigos da UnB também interessados em “levar um som”. Primeiro, juntaram-se ao time Juninho (bateria), Luis Maurício (baixo) e Bruno Dourado (percussão). Depois, Izabella Rocha (backing vocals) e Kiko Peres (guitarra) — que substituiu André Carneiro — completaram a formação dos primeiros anos de sucesso da banda que primeiramente foi chamada de Nativus.
A mistura do reggae roots tocado pela banda com elementos de música brasileira e do pop não demorou para se traduzir em shows cada vez maiores e no primeiro disco, Nativus (1997), que, impulsionado pelos sucessos Surfista do lago Paranoá, Presente de um beija-flor e, principalmente, Liberdade pra dentro da cabeça, vendeu 40 mil cópias de forma independente até chamar a atenção das grandes gravadoras. Quando relançado pela EMI, o trabalho atingiu a marca de 450 mil cópias.
“Foi tudo muito rápido. Quando chegamos à EMI, já éramos estourados em algumas capitais. Não tivemos aquele processo de sofrer as mazelas da estrada para chegar ao sucesso. Foi um fenômeno instantâneo, porém com conteúdo”, afirma o fundador, líder e principal compositor, Alexandre Carlo.
Trabalhando com grandes produtores, como Liminha e Tom Capone, e com sucessos tocando com frequência nas rádios, a banda passou os anos seguintes fazendo grandes shows, turnês e se tornou habitué de programas de auditório populares, algo raro para bandas de reggae do Brasil.
Em 1999, uma banda de música regional de Santa Catarina chamada Os Nativos entrou com um processo contra o grupo brasiliense por deter os direitos do nome e suas variações, obrigando Alexandre e Cia. a rebatizar a banda como Natiruts
A menina do reggae
“Desde as reuniões no quartinho da casa do Luís, o Nativus já fazia sucesso entre os amigos mais próximos, convidados para ouvi-los tocar”, lembra Izabella Rocha, ex-vocalista do grupo de reggae. Ela foi convidada para o primeiro ensaio na casa do amigo, onde conheceu Alexandre e Juninho, e de lá para o palco foi uma questão de tempo. “Nunca imaginei que dois anos depois estaríamos estourados no Brasil inteiro”, recorda.
No show oficial de lançamento, em 1996, foram vendidos quase mil ingressos, “um fenômeno de público para quem estava começando”, segundo ela. Izabella destaca que o Natiruts marcou uma geração, como fizeram Legião Urbana e Raimundos em épocas diferentes: “Esse sucesso de bilheteria, desde o princípio, ainda não aconteceu com nenhuma outra banda brasiliense”.
Única mulher do grupo, Izabella acredita ter cumprido um papel importante na harmonia do grupo ao levar a essência feminina. “Nós sempre fomos muito amigos e havia um respeito mútuo enorme. Comigo presente, até as conversas ficavam mais leves”, lembra.
Além de presença marcante no palco, ela compunha e coassinava canções, tais como Misteriosa atração, as quais interpretava com a voz doce e suave que ainda a caracterizam. “Isso tudo continua vivo. Natiruts fará parte de mim eternamente”, declara.
Relação afetiva
“Quem fala de Izabella Rocha, também fala de Natiruts.” Essas são palavras dela. Durante os 10 anos em que subiu ao palco com o grupo, Izabella afirma ter vivido uma relação de família com os integrantes: “De muito amor e desavenças, como acontece em qualquer relacionamento de muita convivência”.
A carreira profissional da cantora coincide com o nascimento do grupo. “Foi minha primeira experiência de banda e onde formei minha base musical”, afirma. Segundo ela, tal vivência foi fundamental na construção da artista que é hoje. “Nós éramos quase todos da mesma idade. Tínhamos gostos e ideais parecidos e vivemos a juventude juntos, na estrada, realizando um sonho em comum”, conta.
Mãe de dois filhos e à espera do terceiro, a cantora tem quatro discos assinados pelo In Natura — dupla de reggae com o marido, Bruno Dourado (que também fez parte do Natiruts, como percussionista) — e um solo, lançado no fim do ano passado. “Como eu e o Bruno somos um casal, nossos interesses pessoais são os mesmos. Minha carreira, hoje, vai na velocidade das minhas necessidades”, explica.