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Em homenagem

Banda Nenhum de Nós relembra a criação de 'O astronauta de mármore', versão da música de Bowie

Grupo gaúcho recebeu a aprovação do próprio músico britânico na época do lançamento

Daniel Seabra
- Foto: Eduardo Tavares/Divulgação
O ano era 1989. A banda gaúcha Nenhum de Nós já tinha estourado pelo Brasil com a música Camila, camila, lançada em 1987, no disco homônimo. Estavam em estúdio gravando seu segundo trabalho, Cardume, quando tiveram um pequeno problema. “Por uma coisa boba, nem me lembro por qual motivo, nos desentedemos rapidamente com o produtor do disco. Aí todo mundo iria sair do estúdio, dar um tempo para retomar. Mas então resolvemos tocar algumas músicas, só para dar uma aliviada no clima e pedimos para serem gravadas. E uma delas foi Starman, do David Bowie”, revela o baterista da banda Sady Homrich.

Para a suspresa geral, assim que o mal-estar foi contornado, o produtor ouviu a gravação e tomou uma decisão que mudaria a vida do então trio, formando ainda pelo vocalista e baixista Thedy Corrêa e pelo guitarrista Carlos Stein. “Ele gostou da nossa versão, mas pediu para fazermos em português.
Se não desse certo, iria em inglês mesmo, mas a música estaria no disco”, disse o músico.

Os três então se debruçaram na letra e compuseram aquele que seria seu maior hit, a música mais tocada naquele ano no Brasil, O astronauta de mármore. “Fizemos a letra e aí começou todo o trâmite legal com a gravadora. O próprio Bowie solicitou uma tradução da letra, já que a versão não é uma tradução literal do poema dele. Tudo aprovado, gravamos a música”, lembra. Na ocasião, a própria gravadora apostou em outra faixa como música de trabalho, Eu caminhava, que abre o disco. “Mas então um locutor da Rádio Cidade do Rio de Janeiro tocou O astronauta e aí tudo explodiu.”

Segundo o baterista, o cantor já era figurinha fácil nos ensaios do Nenhum de Nós. “Sempre tocamos muitas músicas do David Bowie. É uma das grandes referências para todos da banda”, frisou. “Era comum fazermos Starman, Lady stardust, Life on mars, China girl, Ashes to ashes e várias outras.” E o próprio Bowie reconheceu a homenagem. Em sua primeira passagem pelo Brasil, ele anunciou que tocaria uma música que as pessoas conheceriam por meio da versão, e convidou a todos que cantassem em português, se quisessem.
 
Justamente por isso, por ter influenciado tanto as composições quanto a vida da banda, a morte do cantor britânico, ocorrida no último dia 10, deixou todos muito abalados. “Ontem (dia 9), terminei de ler a biografia do Cerati (Carlos Cerati, vocalista da banda argentina Soda Stereo, morto em 4 de setembro de 2014) e tive imensa dificuldade em dormir, pensando na perda. No meio da noite, minha filha me acordou para contar do Bowie. A vida e suas sincronias”, lamentou Thedy.
“Tivemos a sorte de ter sido contemporâneos desses gênios e herois da arte. E mais do que isso, de alguma forma, fazer parte de seu legado.”
 
HISTÓRIA
 
Mais que um bastião de um estilo ou de um modismo, o cantor passeou, em alto estilo, por várias vertentes da arte. Criou moda, alterou comportamentos, gravou hits, apareceu bem nas telonas, mudou, se reinventou, influenciou, foi regravado por inúmeros artistas, desde Information Society a Bruce Dickinson. Ainda esteve em parceiras com nomes enormes da música internacional, como Queen e Mick Jagger, por exemplo. Conquistou o respeito do Show Business mundial.
 
E sempre com seu trabalho à frente, sem se promover, sem tirar proveito de nenhuma situação, inclusive da doença, na hora da morte. Saiu de cena da mesma forma como começou, discreto, sem alarde. “Referências não se perdem, se somam”, reflete Sady, lembrando que, acima de tudo, a obra permanece para futuras gerações.
 
Bowie atravessou praticamente cinco décadas em alta, passando do tradicional rock’n’roll, dos anos 60, ao psicodelismo dos 70, alcançando o glam e chegando ao seu personagem mais famoso, Ziggy Stardust. Nos ‘animados’ 80, também não passou batido, alcançando o mega-estrelato com o disco Let’s dance, que tinha a música título, além de Modern love e China girl, invadindo, ou arrombado o mundo pop, saindo do cult e atingindo o popular, com clipes futuristas para a época, auge da MTV. Ainda passou pelos 90 e chegou aos 2000 brincando com o eletrônico e acertou em cheio, jogando na cara de todos a sua situação na reta final da vida com Blackstar.
 
Muita gente garante que o cantor morreu. Outros dizem que ele foi visto entrando em seu disco voador e retornando ao seu planeta natal.
Veco Marques, guitarrista do Nenhum de Nós, garante que trata-se de “mais um heroi voltando para casa”. Mas no final, será que faz diferença?
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