Foi numa manhã carioca e com uma bela vista para o Cristo Redentor que tive uma conversa bem interessante e proveitosa com meu tio Fernando Brant.
É praticamente unanimidade que 2015 não foi fácil. Pelo que se ouve nas ruas, a grande maioria das pessoas está contando os minutos para 2016. E eu também não sou exceção. Não só por todos os acontecimentos tristes e complicados que marcaram o Brasil e o mundo ao longo desses 12 meses, mas, principalmente, pelo aspecto pessoal. Iniciar um ano com a perda de um ente querido é uma pancada.
Ao longo de toda a minha trajetória jornalística, desde os primórdios, quando ingressei na faculdade, sempre contei com o apoio do meu querido tio, que, por sinal, também foi um profissional de imprensa, chegando a trabalhar em veículos como a extinta revista O Cruzeiro e tem duas filhas que seguiram esse caminho.
No meu discurso de formatura na PUC-MG, onde ele estava presente, ao som de uma de suas músicas, Durango Kid (Esse jornal é o meu revólver/Esse jornal é o meu sorriso), iniciei minha oratória e citei outra de suas composições, Ponta de areia, resultado de reportagem dele sobre o fim da estrada de ferro Bahia-Minas, publicada em O Cruzeiro.
Vira e mexe, tinha que recorrer a ele para alguma matéria. A última vez foi em abril e pedi para que tio Fernando fosse uma das fontes para uma reportagem especial sobre os 85 anos de Alguma poesia, obra-prima de Drummond. Sempre soube de sua admiração pelo poeta e de como ele havia se tornado referência em sua vida. “Quando li esse livro, foi um espanto, diferente de toda a poesia que eu lera antes. Me apaixonei, fiquei deslumbrado. Foi um farol em minha vida. É a revelação de um gênio”, declarou na ocasião.
ABALO
Fernando Rocha Brant nasceu em 9 de outubro de 1946, em Caldas, no Sul de Minas. Minha avó sempre contava que nesse dia houve um tremor de terra na cidade, algo raríssimo. Era o primeiro dos “impactos” que meu tio causaria. Um homem que revolucionou para sempre a história da música mineira e brasileira. Quis o destino que ele fizesse sua Travessia em 12 de junho, dia em que se celebra o amor e Santa Yolanda, curiosamente, o nome de sua mãe.
E é com uma homenagem a ela e ao meu avô Moacyr, feita por ele num texto que está no disco Caçador de mim, de 1981, que encerro esse depoimento: “A caminho da utopia, aqui na esquina acaba de morrer um humanista (Melo Cançado, professor da generosidade). Na televisão e nos jornais, o mestre Alceu dá um banho de vida e lucidez.
Nosso querido Dindilim (seu apelido de infância), você que nos ensinou que a vida é feita de Encontros e despedidas. Aqui continuamos com a “estranha mania de ter fé na vida”. E mesmo em tempos tão sombrios, vamos seguir o seu conselho entoado na letra de Credo, em parceria com seu grande amigo Milton “Bituca” Nascimento: “Acendendo a esperança e apagando a escuridão”..