Even flow, um dos grandes hits da banda norte-americana Pearl Jam, foi tocado entre 50 e 100 vezes no estúdio até que seus integrantes ficassem satisfeitos com uma versão para gravar.
Essas são algumas das curiosidades apenas em torno da gravação do disco Ten, clássico álbum de estreia da banda. Elas estão espalhadas entre os muitos textos, depoimentos, fotos e documentos do recém-lançado livro Pearl Jam twenty (BestSeller), que funciona como biografia do quinteto de Seattle, abrangendo desde o período anterior à sua formação, nos anos 1980, até 2010 – a obra foi publicada originalmente em 2011, nos Estados Unidos.
Não por acaso, Crowe, que também dirigiu Singles (filme em que membros da banda aparecem, de 1992), assina o prefácio, no qual informa que os textos se baseiam em entrevistas feitas desde o início da banda. Um dos maiores conhecedores do quinteto, ele guarda caixas com todo tipo de material a respeito, de bilhetes a fitas amadoras.
A divisão do livro obedece ordem cronológica, com um capítulo dedicado a cada ano (e subdivisões em dias, como num diário) e seções exclusivas para bastidores de todos os álbuns da banda até Backspacer (2009).
Há também páginas duplas sobre a formação musical de cada um dos integrantes do grupo, que respondem às mesmas cinco perguntas, como a respeito do primeiro instrumento que tocaram. O baixista Jeff Ament, por exemplo, só desistiu da percussão e do coral da escola quando ouviu Ramones.
Cada um dos músicos da banda têm voz no livro, além os quatro bateristas que passaram por ela, Dave Krusen, Matt Chamberlain (que ficou menos de um ano), Dave Abbruzzese e Jack Irons.
No meio de tantas lembranças, falas tocantes como a de Dave Krusen, que deixou as baquetas do grupo pouco depois das gravações de Ten para se internar numa clínica de reabilitação para alcoólatras: “O Pearl Jam me deu tantas oportunidades para me recuperar e eles foram muito bondosos com relação a isso, sem nunca me forçar e me confrontar. Era tanta coisa acontecendo naquela época. Eu tinha um relacionamento que não ia muito bem, e estava prestes a ter um bebê”.
EQUIPE
No quesito ativismo, o PJ é sempre lembrado pelo engajamento que o difere da maioria das demais bandas. Do apoio ao aborto enquanto direito da mulher às críticas ao ex-presidente George W. Bush, incentivando o voto (que nos Estados Unidos não é obrigatório) e alertando sobre a doença de Crohn. A briga com a Ticketmaster (acusada – na Justiça – pelo quinteto de cobrar mais caro do que deveria por ingressos), provavelmente a maior confusão em que o grupo se meteu até hoje, também é abordada ao longo do livro.
Os capítulos dessa novela já foram muito debatidos, de maneira que é o depoimento do empresário da banda, Kelly Curtis, o que mais desperta interesse, tendo em vista que o PJ voltou a se apresentar em casas com ingressos vendidos pela empresa. “Tínhamos sido escalados como as pessoas a salvar o mundo, mas ninguém nos ajudou. Aquela não era a nossa luta. Era uma luta dos consumidores. Então pensamos que deveríamos apenas voltar a fazer shows em casas que fossem convenientes, confortáveis e tivessem banheiros”, diz Curtis.
Falam também da morte dele, em 1994, bem como dos nove fãs que perderam a vida durante confusão num show na Dinamarca, em 2000, fato que fez com que a banda demorasse a fazer novos shows em grandes arenas.
Bem pensado, bonito, fartamente ilustrado e recheado com muitos dados curiosos e histórias pouco conhecidas, o livro tem material o suficiente para satisfazer o mais voraz dos fãs do grupo. São horas e horas de mergulho nas profundezas de uma das maiores bandas de rock do planeta.
TRECHO
“Nós acordávamos, tomávamos uma xícara de café e íamos até o estúdio tocar até ficarmos com fome. Então saíamos, comíamos um burrito vegetariano, voltávamos e continuávamos mandando ver. (…) Era um assunto de tempo integral. Eram 16 horas fazendo música, e fizemos isso durante cinco dias.”
• Jeff Ament
Pearl Jam twenty
• Editora Best Seller
• 384 páginas, R$ 99.