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Lançamento

Nasi, integrante do Ira!, lança disco solo

O álbum resgata batidas africanas de Fela Kuti e homenageia a boa música brasileira

Correio Braziliense

Novo CD de Nasi tem os pés em sonoridades setentistas, como o blues, que, segundo ele, reforça a origem negra do rock, hoje esquecida. - Foto: Marcelo Rossi/Divulgação

Esqueça o Nasi que chocou o país ao agredir o irmão Airton Valadão, em 2007. Ou as confusões em que se meteu por conta do temperamento intempestivo, a ponto de familiares tentarem interditá-lo judicialmente. Os dilemas da vida pessoal, como o vício em drogas e o conturbado relacionamento com Marisa Monte, também estão enterrados no passado, assim como as brigas com integrantes do Ira!, com quem fez as pazes e está de bem.


Nasi agora se centra na música e nos prazeres que ela lhe proporciona. Há pouco tempo, lançou no mercado mais um disco solo, Egbe, em que a cultura religiosa afro-brasileira é celebrada. Em faixas como Egbe onire, o roqueiro Nasi faz menção a Fela Kuti, nigeriano que criou e apresentou o afrobeat ao mundo. Segundo o paulista, ainda há um forte preconceito contra esse tipo de manifestação sociocultural no Brasil. A intolerância religiosa, na visão do cantor, pode trazer graves consequências ao país. “Temos que estar muito atentos, principalmente depois dos fatos que aconteceram agora no mundo.

Setores religiosos do Brasil devem prestar atenção ao que está acontecendo na Europa, que pode vir a ocorrer por aqui”, alerta.

 

Além da clara influência africana, o novo CD de Nasi tem os pés em sonoridades setentistas, como o blues, que, segundo ele, reforça a origem negra do rock, hoje esquecida. “Isso ficou muito dissociado, é muito raro ver bandas com integrantes negros tocando rock. Não podemos esquecer a origem do movimento. Isso é uma maneira de traduzir o que quero fazer com a música. Quero rock com negritude”, afirma.

 

O que o ao vivo te proporciona em comparação com os discos de estúdio?

Tenho uma banda de músicos que me acompanham e são dirigidos por mim. Apesar de ser um disco de solo de cantor, foi feito com uma banda, não é aquela coisa de um arranjador em que os músicos vem e só executam. É difícil explicar o que se faz na música, ela não é tao racional quando é produzida, é algo mais espontâneo, por isso decidi tocar ao vivo. Isso é uma evolução de um modo de produção que comecei no Vivo na cena com o Roy Cicala, um dos responsáveis pelo estúdio Record Plant, de NY, onde foram gravados John Lennon e outros ícones americanos, do pop ao soul. O grande talento dele é ao vivo, de shows e discos com essa pegada, sem muitos overdubs. Isso da uma perfeição maior, mas tira algo que é essencial, que é o drive. Fui nessa linha de gravação que considero muito interessante para bandas de rock.

O publico contamina no bom e no malsentido, dando mais adrenalina para o artista, mas também atrapalha um pouco a questão da acústica, do ruído, de gritos, de aplausos. Tentei achar um equilíbrio entre o estúdio e o ao vivo.

 

Essa volta ao orgânico tem sido o norte de muitos artistas ao gravar novos álbuns. Por quê?

Porque sugere encontros. A tecnologia chegou em um ponto em que se esgota. Por isso se usa muito o termo orgânico, porque o digital e o PC, que foram e ainda são importantes em produções, acabaram esfriando a coisa. Quando o Ira! produziu o Acústico MTV, um dos melhores da banda e do projeto, tivemos uma reunião com a direção da emissora e ela nos deixar a vontade para fazer do jeito que quissemos. Ela só nos deu uma opinião – todos os acústicos gravados com artistas que refizeram partes do álbum estúdio não tiveram o resultado do que aqueles que aceitaram as imperfeições. Os últimos tiveram um resultado comercial melhor, passaram uma verdade. Algo que parece muito subjetivo, porque, a princípio, a não ser que a edição seja muito tosca, você não percebe se foi regravado ou não.

Existe alma, e é preciso achar alma de novo dentro da máquina, e a alma, na música, está muito exposta.

 

A sonoridade do disco passeia principalmente por country, folk e blues?

Faço um passeio por gêneros musicais que não são tão distantes assim. O country, folk e o blues são os pais do rock, eles têm um DNA em comum – aliás, eu gosto da música americana, principalmente a música negra. Muito da música brasileira pode ser traduzida nessa tríade É o caso do Alceu Valença, artista do qual regravo a faixa Sol e chuva, de uma fase bem roqueira dele, na década de 1970, e Dois animais na selva suja, música de Taiguara escrita para o Erasmo Carlos, e que dei uma tintura de rock'n'roll maior que a original.

 

Como está a sua relação com o Ira! hoje?

Está excelente. O Ira! voltou há um ano e meio, e foi intenso. Na nossa volta, tocamos para 50 mil pessoas, praticamente desidratamos. Voltamos em todas as capitais, sempre lotadas, foi uma das melhores expectativas. E olha que a gente tinha grandes expectativas, se não, não voltaríamos com a banda. Esse sangue novo foi importante. Não foi só uma mudança na formação da banda, mas a integração de músicos que já estavam muito entrosados comigo e com o Edgard Scandurra. Essa volta trouxe a nossa liderança, porque havia um desleixo da gente, ficamos difuso dentro da banda, e não dava para uma banda ser liderado por quatro. Diz o ditado: cachorro que tem muita dono morre de fome.

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