Ela, brasileira.
Em meio aos preparativos para o lançamento do primeiro disco, no ano que vem, Chris Martins sinaliza – também, naturalmente – com um longínquo “pode ser” a chance de alguma canção em português. “A minha vontade é de não ficar presa. Adoro a língua espanhola, o francês. Acho que não tem barreira e nem precisa ter”, diz a cantora.
É cada vez mais frequente entre as bandas da nova geração de Belo Horizonte uma relação espontânea com outros idiomas.
“Nunca escolhi ‘agora vou cantar em inglês’. Sempre foi natural”, afirma o guitarrista JP Cardoso. Desde a adolescência, as canções gringas sempre foram as preferidas. Além disso, Cardoso viveu um tempo no Canadá e até deu aulas do idioma no Brasil. “Pelo menos no caso das pessoas com quem tenho contato, cantar em outro idioma tem muito mais a ver com a história de vida do que qualquer outro motivo”, justifica.
JP Cardoso reconhece que cantar no idioma globalizado pode abrir caminhos no exterior. Ele lembra também que essa não é regra. Se Cansei de ser sexy é um caso de banda bem-sucedida que fez carreira no estrangeiro cantando em inglês, recentemente, há o caso da goiana Boogarins que contradiz quem pensa que o sucesso fora está ligado ao idioma. O conjunto do vocalista Dinho, Benke Ferraz, Raphael Vaz e Ynaiã Benthroldo acaba de voltar de uma turnê de um mês na Europa.
“Não acho que cantar em inglês ou em português seja um fator de virada do jogo para um disco ter grande circulação fora do Brasil”, opina JP Cardoso. Para ele, o mais importante é o fato de atingir número maior de pessoas com o conteúdo das letras. A previsão é que o primeiro disco de JP chegue às redes e lojas no primeiro semestre do ano que vem.
Henrique Cunha conta fazer parte da geração que começou a ouvir rock local com a banda Diesel, nos anos 1990, que depois trocou o nome para Udora. O grupo despontou no cenário internacional, chegou a se transferir para Nova York, mas o projeto no exterior não vingou. De Minas, o maior exemplo de projeção no exterior é o Sepultura, que também sempre cantou em inglês.
Aos 27 anos, Henrique acredita que a atual cena independente de Belo Horizonte reflete o comportamento de uma geração que, mesmo sem grandes pretensões globais, faz música da maneira mais natural para cada um. “Ao mesmo tempo em que tem bandas que tocam só instrumental, tem outras que tocam MPB, como o Graveola e o Lixo Polifônico, e tem gente que canta em inglês”, diz. É simples assim.
Tão longe, tão perto
A sonoridade é uma mistura de hard rock, heavy metal, rock psicodélico e acid rock. O grupo surgiu em 2012 com repertório totalmente autoral. “Em Natal, é bem comum as bandas de rock cantarem em inglês e a gente foi meio no fluxo também. Nos sentimos confortáveis”, diz a guitarrista Cris Botarelli. Assim como os mineiros, ela também acha que cada vez menos a língua é barreira. “As pessoas estão mais interessadas na música”, acrescenta.
Como atualmente é possível acompanhar onde as músicas estão sendo ouvidas, os integrantes se surpreenderam com o alcance que a banda tem tido involuntariamente. Há 15 dias, faixas do segundo disco da Far from Alaska ocupavam o segundo lugar no ranking das mais ouvidas no gênero no México e na Colômbia. “Não conhecemos ninguém lá”, frisa a guitarrista.
Cris defende que as bandas devem cantar no idioma que melhor lhes convier. Mas ressalta: é preciso ter cuidado com a pronúncia. “Tem que rolar um cuidado para que as pessoas entendam o que se está falando”, reforça. Para 2016, a Far from Alaska prepara novo disco e também a primeira turnê pelos Estados Unidos, a partir de março, e inclui apresentações em San Diego, Los Angeles, Las Vegas e, talvez, Austin.
OUTROS CANTOS 'IN ENGLISH'
MALLU MAGALHÃES
Foi em 2008, ainda na época de ouro do MySpace, que Mallu Magalhães apareceu com o hit em inglês 'Tchubaruba'. Em diversas entrevistas, afirmou a facilidade que tem em compor nesse idioma. Mallu começou a estudar inglês aos 13 anos e, desde então, o hábito de consumir produtos do mainstream estrangeiro fez com que criasse intimidade com a língua. Entre as 13 faixas do primeiro disco, apenas duas são em português. A mistura dos idiomas é uma constância nos três álbuns lançados na carreira.
CLARICE FALCÃO
Com um timbre de voz muito parecido com o de Mallu, Clarice Falcão sempre cantou mais em português do que em inglês. Mas no primeiro disco ela mesma fez uma versão para 'Fred Astaire', de sua autoria. Este ano, a atriz/cantora ex-integrante do coletivo Porta dos Fundos fez sucesso nas redes com a versão para 'Survivor', do grupo Destiny’s Child.
TIAGO IORC
Até os 5 anos de idade, Tiago Iorc viveu na Inglaterra com a família. Daí a explicação para ele se sentir tão à vontade em lançar a carreira no Brasil cantando exclusivamente em inglês. Ele apareceu para o público em 2008, quando a música 'Blame' entrou na trilha sonora da novela 'A favorita', de João Emanuel Carneiro. O primeiro álbum, 'Let yourself in' (2007), foi lançado no Brasil e no Japão. Já no quarto disco, Tiago agora mistura canções em inglês e em português.
RODRIGO AMARANTE
Antes de se lançar em carreira solo, o ex-integrante do Los Hermanos Rodrigo Amarante foi um dos participantes do projeto internacional da banda Little Joy. 'Cavalo', lançado em 2013, foi o primeiro disco solo, com cinco entre as 11 faixas interpretadas em inglês.
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