Erasmo – aquele do pode vir quente que eu estou fervendo – está lá, assim como Mr. Catra – aquele do papai chegou. Mas quem chegou chegando em #Sarniô, novo disco de Naldo Benny, foi Mano Brown, que juntou seu rap ao funk carioca do anfitrião. Essa alquimia flow-batidão horrorizou fãs mais tradicionais do líder do Racionais MCs, o grupo mais importante do hip-hop nacional. Alguns deles foram às redes sociais desancar o ídolo, antecipando ironicamente a “parceria” de Brown com Anitta. “Tanto criticava esses cara q rebola e pintava o cabelo, daqui a pouco vc tah igual a eles”, desabafou Marcello Viana da Silva na página de Brown no Facebook. “Os guardinhas do rap vão ter um AVC”, contra-atacou Alisson Fontoura, em defesa da dobradinha.
“Sempre original, sempre/É o crime de la creme”, diz a letra de Benny e Brown, com batidas envolventes e sonoridade assinada por Naldo para celebrar o empoderamento dos negros brasileiros – seja na roda de samba, no baile funk, no pistão da balada ou no flow do rap. “Respeitamos as críticas, polêmica sempre vai existir”, contemporiza Naldo. Mas avisa: a parceria chegou para ficar – e não vai parar na primeira faixa de #Sarniô. Novidades vêm por aí, e que se preparem os algozes de Brown. O videoclipe da dupla, que começou a ser rodado anteontem, em Sampa, chega à pista em dezembro. Fotos dos bastidores estão na página do autor de Vida loka no Facebook.
“Nossa parada é de irmãos”, afirma Naldo, lembrando que ele e o novo parceiro vieram da favela, têm as mesmas raízes. “Brown vestiu a camisa e me disse: ‘É diferente de tudo que já fiz’. Não é questão de grana, mas de criar um som louco, contemporâneo. A gente já chegou chegando. A música fala da Vila Pinheiro, a minha quebrada, e da São Paulo dele, além de Jorge Ben, do Tim Maia. A gente não saiu dando orelhada. Cantamos o que acreditamos, não o que querem nos impor. A gente faz a moda acontecer”, diz Naldo.
Conhecido por sua lendária cara de poucos amigos, Mano Brown desenvolve projeto solo bem diferente da marca Racionais. Apaixonado por soul e funk das antigas, o rapper aposta em letras românticas, batidas suingadas e dançantes. Resumindo: “Brown solo” tem a ver com o funk pop de Naldo Benny.
CARETA A polêmica provocada pela parceria Brown-Benny, iniciada quando a faixa de abertura #Sarniô foi divulgada na internet e reforçada na semana passada, com a publicação da foto dos dois no Facebook do rapper paulistano, vai continuar.
Neste domingo, Mano Brown explicou, em reportagem publicada no jornal O Globo, por que decidiu "fechar" com o projeto de Naldo. "Como o público do Racionais ficou muito careta, muito engessado, tenho que fazer por fora. Sou obrigado a fazer. Não que eu queira quebrar o grupo (...). Esse movimento careta não me agrada. Quando comecei a fazer essa porra, fiz para ter liberdade. Não para ser carcereiro de ninguém. Os caras (que criticam) são carcereiros, eu sou ladrão. Pulo o muro e vou embora. Gravei com o Naldo e 'roubei a brisa' deles. Não sabem nem o que falar", declarou ao repórter Mateus Campos.
O líder do Racionais também defendeu o funk carioca. "O funk é revolucionário. Doa a quem doer. Tem libertinagem, mas tem liberdade. É uma coisa que o hip-hop começou a tirar das pessoas. Ao contrário do funk, o hip-hop hoje tem uma bíblia de regras que um jovem não aceita. O jovem quer ultrajar. Quando o funk chegou a São Paulo, falei para os rappers: 'Vocês vão ficar para trás, estão escrevendo música para a minha avó ouvir'.
SONHO Com 17 músicas, produção de Naldo e Batutinha e capa assinada pelo artista plástico Romero Britto, #Sarniô traz um ídolo do anfitrião na faixa Primeira vez: Erasmo Carlos. “Ouço esse cara desde criança, ele e o Roberto Carlos. Foi um sonho quando Erasmo chegou na minha casa para gravar”, conta. Além do Tremendão – que ganhou uma cafeteira só para ele no estúdio, a “caferasmo” –, MC Guimê, K. Rose e Mr. Catra se juntaram ao bonde.
Autor de Amor de chocolate e Exagerado, hits de verão que estouraram quatro anos atrás, Naldo minimiza o noticiário sobre a queda de seus cachês. Argumenta que oferece vários formatos de apresentação: da mais modesta, para boates menores, a espetáculos médios e megashows, com bailarinos e banda completa. Sua agenda para os próximos dias inclui os Estados Unidos. O lançamento de #Sarniô está marcado para quinta-feira, no Rio de Janeiro. Em abril, Naldo volta aos EUA e vai se apresentar na Europa.
EMPREENDEDOR O funkeiro pop é dono do próprio nariz. Grava discos no estúdio que montou em casa, mantém equipe para cuidar das finanças e comanda a Benny Entertainment, dizendo prezar qualidade e profissionalismo. Não revela cifras, mas garante que investiu “bastante grana” em seu projeto. A recessão não o assusta. “Na crise, a gente cria. Isso é normal para qualquer empreendedor, obrigado a lidar com altos e baixos. Você pode negociar cachê, oferecer vários formatos de show, repensar estratégias”, recomenda.
Orgulhoso, diz que ajudou a reduzir o preconceito em relação ao funk carioca por meio de seus megashows com banda, figurino, dançarinos e produção caprichada. “Mostramos que nosso trabalho é digno e decente, como qualquer grande espetáculo”, afirma, enfatizando que trabalhou muito para se impor. “Canto, toco, danço. Cheguei chegando, apesar das portas fechadas”, conclui.
DISCOGRAFIA
Na veia (2009)
Na veia tour (2012)
Verão (EP, 2014)
#Sarniô (2015)
#SARNIÔ
. De Naldo Benny
. Naldo Music/Radar Records
. Preço médio: R$ 20