O show do Boogarins nesta sexta-feira, no Baixo Centro Cultural, faz parte do Festival Chacoalha, que tem também as bandas Mentol e Gato Feio como atrações. Em sua quinta passagem pela capital mineira, o grupo contabiliza saldo positivo das experiências anteriores. “Não deu tempo de conhecer muita coisa, mas a impressão que temos é de que é um lugar muito quente, onde as pessoas consomem música nova no cotidiano”, diz o vocalista.
E a proximidade com Minas não para por aí. Uma das referências dos integrantes da banda é o Clube da Esquina. “Temos muito essa coisa mineira, da canção do Lô, do Beto Guedes.
O Boogarins defende que, tanto Manual quanto o antecessor, As plantas que curam, são discos essencialmente de canção, mesmo com todas as camadas de experimentação sonora. “Nosso objetivo é deixar a canção fluida, de uma maneira boa para o ouvido. Por mais que a gente defenda a canção, não gostamos de fazer uma letra dura”, afirma. “Buscamos gravar de uma forma mais simples. Simplificar o que é complicado e conseguir fazer pequenas grandes canções”, define.
NOVO DISCO Manual foi lançado oficialmente em 30 de outubro, mas pôde ser ouvido com exclusividade alguns dias antes no site do jornal The New York Times. O disco teve críticas favoráveis de jornais e revistas estrangeiros – The Guardian e a NME Magazine entre eles.
A repercussão fora do país já é uma constante na ainda curta carreira dos goianos. O primeiro disco – gestado em casa pelos colegas de escola Dinho e Benke – saiu primeiro nos EUA e na Europa, depois que o guitarrista enviou o material para vários sites especializados. As plantas que curam só foi prensado no Brasil pouco antes do lançamento de Manual, pelo selo da Skol Music. A novidade é que o primogênito ganhou três faixas bônus: Refazendo, À sua frente (gravada no estúdio da Lolipop Records, em Los Angeles) e um registro ao vivo da música Doce, feito no Festival Bananada de 2014.
Já Manual foi gravado em fita no Estudio Circo Perrotti, de Jorge Explosion, na Espanha, e finalizado no Brasil, no estúdio caseiro de Benke. Assim como os outros membros da banda, Dinho considera o trabalho recém-lançado como a verdadeira estreia. “Foi a primeira vez que todos nós compusemos juntos. Antes, era uma coisa mais minha e do Benke.
Nesse intervalo, o grupo passou por uma importante mudança. O baterista Hans Castro deixou as baquetas para cuidar das filhas gêmeas. Quem assumiu foi o experiente Ynaiã Benthroldo, ex-Macaco Bong. A presença do cuiabano é uma das diferenças das performances ao vivo, já que o álbum tem a maioria das faixas gravadas por Hans. “Acho que é sempre assim. No disco é uma coisa. No palco, as músicas ganham outras cores”, afirma Dinho. Mesmo com todos os elogios ao álbum de estúdio, é no palco que os Boogarins mostram sua força, adicionando momentos de improviso que transformam as já psicodélicas canções em jams alucinantes. “Acho que descobrimos um prazer verdadeiro na capacidade de experimentação ao vivo”, justifica.
Afago nos parisienses
Jovens rapazes de Goiânia, os integrantes do Boogarins vêm experimentando o frisson de ter um disco considerado relevante e incensado pela crítica em tempos de muitas produções. A banda é apontada por publicações especializadas em música como "a mais nova promessa do rock brasileiro". Tantos elogios não tiram os pés de Dinho do chão. “Até agora, não aconteceu nada que mostrasse que minha vida mudou muito. Claro que estou fazendo coisas que nunca imaginei fazer, mas a nossa base é a amizade. Quando a amizade é forte, as coisas permanecem as mesmas.”
Ele lembra que Goiânia já teve bandas de destaque internacional, mas que não necessariamente foram um estouro. “Soubemos da repercussão do nosso disco pelo Facebook. Pela bolha de timeline”, brinca. “Mas é aquela coisa: um espaço cheio de amigos e fãs. Sabemos que não representa totalmente a realidade. Só conseguimos saber mesmo se nossa música está sendo ouvida quando visitamos as cidades, fazemos shows”, comenta.
Sem querer assumir a pecha da promessa de sucesso, o cantor e guitarrista reconhece a importância da trajetória da banda. “O fato de estarmos tocando muito já é bom, porque coloca a galera da cidade para se mexer. Isso deixa raízes, umas pedrinhas pelo caminho. E talvez as pessoas mais novas, que chegam com mais sede, vão alimentar cada vez mais a cena alternativa”.
Cantando em bom português, o Boogarins conseguiu atingir públicos de diversos países. A recente turnê pela Europa teve 18 apresentações, no estilo old school. “Fizemos a turnê de van, dirigindo muito. Foi um show atrás do outro e até brincamos que nosso trabalho nunca foi tão parecido com o de escritório.”
A última apresentação do tour foi em Paris, cinco dias depois dos atentados da sexta-feira, 13, que atingiram, entre outros lugares, a casa de shows Bataclan. “Como estávamos na correria, não deu muito para sentir o clima pesado. Mas fomos parados por quatro viaturas da polícia, que nos abordaram, mas foram supergentis”, conta. Dinho aposta que Paris não vai se deixar abater pela tragédia. A apresentação, ele conta, foi bem tranquila. “Acho que pegamos um clima triste. Mas foi como se o público fosse aquela pessoa que fica no cantinho, querendo ganhar um carinho.”
Ouça Manual, do Boogarins:
CHACOALHA
Shows de Boogarins, Mentol e Gato Feio. Nesta sexta-feira, às 22h, no Baixo Centro Cultural, Rua Aarão Reis, 554, Centro. Ingressos: R$ 15 (lote 1); R$ 20 (lote 2); R$ 25 (lote 3) por meio do site www.sympla.com.br. Na portaria, R$ 30. Mais informações: www.facebook.com/festivalchacoalha.