Blocos de carnaval divulgam nota de repúdio à ''camarotização'' e à PBH

Para foliões, administração municipal e empresas buscam lucrar com festa democrática e espontânea. Prefeitura lamenta "distorção de informações"

por Shirley Pacelli 24/11/2015 17:41

Euler Júnior/EM/D.A Press
Bloco Alcova Libertina passa pela Av. dos Andradas; evento privado promete vista exclusiva (foto: Euler Júnior/EM/D.A Press)
“É o momento de repudiar camarotes e seus abadás laranjados (sic), suas pulseirinhas cítricas e suas práticas excludentes. A nossa festa não vai ser tomada”, afirma nota assinada por representantes de 45 blocos de carnaval de Belo Horizonte, divulgada no Facebook. Eles reclamam da tentativa de "camarotização" da festa popular.

Um dos principais alvos de descontentamento é o evento Camarote Belô, promovido pela DM Produções, previsto para ocorrer entre 5 e 9 de fevereiro, na Serraria Souza Pinto. A festa, que segue o molde do camarote de Salvador, prevê shows de diferentes artistas, open bar e serviços exclusivos.

O material de divulgação do Camarote Belô diz que o evento contará com “cinco diferentes ambientes e três andares com vista para a Avenida dos Andradas”, local por onde passam blocos tradicionais, como a Alcova Libertina. O passaporte para o evento custa R$ 600 (feminino) e R$ 700 (masculino).

Na avaliação dos grupos de foliões que assinam a nota, o prefeito de BH, Marcio Lacerda, e a empresa de eventos buscam lucrar com uma festa democrática e espontânea, que ganhou força e adesão popular a partir de 2009.

“É uma luta antiga nossa: um carnaval inclusivo. A gente tem preocupação grande com esse carnaval extremamente comercial. Lacerda tende a privatizar tudo em BH, parque, praça…”, afirma o jornalista Gustavo Caetano, fundador do Unidos do Samba Queixinho, escola de samba de rua.

Além do Queixinho, outros blocos que arrastam milhares de foliões, como Peixoto, Então Brilha!, Mama na Vaca e Moreré assinam o texto. Representantes dos grupos têm participado de reuniões com a Belotur.

Entre as reivindicações entregues ao órgão municipal está o desarmamento da Polícia Militar durante o evento. “É uma festa da alegria, de confraternização. Eles (policiais) poderiam ser mais gerenciadores de crise do que usarem a força como manutenção da ordem”, diz Caetano.


OUTRO LADO

Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte lamentou “a distorção de informações nas redes sociais sobre a postura da Administração Municipal em relação ao carnaval de BH”. No documento, a PBH ressalta que o Camarote Belô é um evento organizado pela iniciativa privada, particular, de uma empresa que está licenciada. A prefeitura destaca que o evento será realizado em um espaço que não pertence à administração municipal, portanto não integrando a programação oficial do evento.

A PBH informou ainda que foi criada a Comissão Especial do Carnaval, com a participação de 19 órgãos públicos municipais, para garantir à cidade a infraestrutura necessária para a realização do evento. Afirmou também que atua de forma transparente e democrática na negociação com todos os agentes do carnaval, por meio de reuniões periódicas.

A DM Produções foi procurada pela reportagem do Estado de Minas, mas os responsáveis não estavam disponíveis para entrevista.


REPERCUSSÃO
O post de repúdio dos bloco alcançou 1.550 compartilhamentos até a tarde desta terça, 24. Entre os 196 comentários, muitas pessoas questionaram se o bloco Baianas Ozadas teria se “vendido”, já que participará do evento privado na Serraria. Renata Chamilet, organizadora do bloco, respondeu a cada um, ressaltando que o grupo também é contra o fenômeno de “camarotização” do carnaval de BH. “A banda do Baianas irá tocar. Assim como em outros eventos. Isso não impede de colocar o nosso bloco na rua na segunda de carnaval e ser a favor da democracia. Inclusive, no carnaval”, respondeu.

Confira o post da nota de repúdio:

#NENHUMCAMAROTE| Nota de repúdio de blocos de rua do carnaval de BH contra o prefeito e o camarote |Desde 2009, a...

Posted by Carnaval de rua BH on Segunda, 23 de novembro de 2015




Confira a íntegra da nota de resposta da PBH:


"A Prefeitura de Belo Horizonte lamenta  a distorção de informações nas redes sociais sobre a postura da Administração Municipal em relação ao carnaval de nossa cidade, e esclarece que:
 
1) O carnaval é uma festa que ressurgiu e cresceu pelas mãos da população da cidade e, que cabe ao órgão público municipal garantir a infraestrutura necessária para a manifestação espontânea dos foliões.
 2) A PBH vem atuando de forma transparente e democrática na negociação com todos os agentes do carnaval de Belo Horizonte, por meio de reuniões periódicas, em busca de consenso quanto à realização da festa, de forma a garantir segurança aos participantes e a mobilidade da cidade para que todos possam desfrutar da alegria e descontração que caracterizam o evento.
3) Para acompanhar esse crescimento popular, a Prefeitura criou a Comissão Especial do Carnaval, com a participação de 19 órgãos públicos municipais, objetivando dotar a cidade de infraestrutura necessária para a realização do evento.
4) Por fim, a Prefeitura esclarece que vem planejando suas ações para o carnaval de 2016 de forma a garantir o direito da população de realizar a festa de rua, da família, da confraternização geral, autêntica e gratuita. E que o Camarote Belô é um evento organizado pela iniciativa privada, particular, de uma empresa que está licenciada e irá realizá-lo  em um espaço de eventos que não pertence à administração municipal, não integrando, portanto, a programação oficial do evento."
 

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