MC Orochi, do estado do Rio de Janeiro, saiu como o grande vencedor da noite, levando para casa R$ 5 mil. Natural da cidade de São Gonçalo, o rapper é cria da Batalha do Tanque e do Festival de Rap da Praça Trindade, além de fazer parte do grupo ModestiaParte. Ele passou por Arllan (PA) e Noventa (ES) antes de chegar ao confronto final.
“O sonho de todo MC é ganhar essa parada. E esse é sem dúvida o maior evento de rap que tem no Brasil. É papo de pô: milhares de pessoas o vendo. E a visibilidade que vai proporcionar para o seu trabalho é grande.
Orochi, assim como Clara Lima, representante de Minas Gerais, tem apenas 16 anos e faz parte da nova geração de MCs. Só de citarem o nome de Clara no palco o viaduto tremia, mas apesar da grande torcida, a rapper mineira perdeu ainda na primeira fase para Noventa (ES). “Acho que ela rima à beça. E tem que ter uma mina que representa. Ela chegou no nacional, ‘tá ligado?’ Perdeu em casa, mas era favorita”, ressalta o campeão.
Mas, para Orochi, o favoritismo não dita a batalha. “Tem dia que o MC está bem e outros em que está ruim. Emicida, para mim, foi o melhor e ele já perdeu várias vezes. Hoje foi o meu dia, mano. Tem vários aí melhor que eu. Eu soube aproveitar. Estou felizão”, disse.
Na final contra MC Alves, do Distrito Federal, Orochi deixou o público extasiado diante de seu estilo de improviso suingado e com dezenas de rimas disparadas por segundo. Ele soube observar seu adversário para atacar. Brincou com a religiosidade de Alves, que usava uma bandana escrita Jesus e uma camisa com uma cruz estampada.
Em outra provocação, disse: “Você criou conflito/ Seu short é camuflado/ Seu talento escondido”. Alves, mais experiente na cena, fez rimas mais conscientes e também mandou bem. O público, dividido e fascinado, quase implorou pelo terceiro round.
RECADO
A batalha de rimas é a grande atração do encontro, mas o Duelo é, especialmente, espaço para reflexão em torno de questões sociais por meio da arte. Monge, mestre de cerimônia, criticou o extermínio da juventude negra e abriu espaço para duas jovens de ocupações de BH darem seu recado em forma de rap e poesia.
“Não me sinto à vontade para celebrar enquanto os meus estão morrendo. Está na hora de começar a mudar essa parada. A arte é uma forma. A reunião de pessoas em prol de objetivos iguais é a melhor forma”, disse Monge.
Já a mulherada “divou” no palco ao lado da rapper Bárbara Sweet. O show foi um dos pontos altos do evento. Com seu discurso feminista, ela reafirmou o lugar da mulher no hip-hop. “Amor não é contrato, meu bem.
Negra Lud, Sarah Guedes, Clara Lima, Paula Ituassu, Kaká e Paige, além do trio de dança Lipstick, se revezaram na cena e agitaram o público presente. Nivea Sabino, artista que participa de campeonatos de poesia falada, no Slam Clube da Luta, mandou o recado: “MC Machista será cobrado na pista”.
Houve ainda o show da experiente dupla Dokttor Bhu e Shabê, que apresentou a nova música Contraplano, uma crítica à corrupção institucionalizada. “Quem está indignado com essa ‘lama’ vai se identificar”, avisou Shabê antes da canção.
O evento também contou com o grafite ao vivo de Viber e Binho Barreto, enquanto os DJs Junin Bumbep e Sense ditaram o ritmo das batalhas com seus beats..