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Mamacita fala

Karol Conka sobre racismo e machismo: ''Tapei os ouvidos e segui meus instintos''

Fã do Duelo de MCs, autora do hit 'Tombei' dá detalhes da relação com BH e adianta o que se deve esperar do novo álbum: mais rap e menos pop

Bossuet Alvim

Para ler ouvindo:

 

Quando fala em Belo Horizonte, Karol Conka imediatamente se lembra do movimento de hip hop e rap que reocupou o centro da capital mineira, causando um tombamento.

"Hoje, depois de viajar o mundo todo, tenho certeza que não existe no Brasil um evento igual ao Duelo de MCs", garante a paranaense, que se apresenta de novo para os belo-horizontinos nesta sexta-feira, 13, pelo festival Chacoalha — que leva ainda Violentango e Iconili ao mesmo palco.

 

A primeira passagem pela cidade foi à época do álbum de estreia, Batuk freak (2013), a convite do mineiro Kdu dos Anjos, destaque da cena independente no estado. "Kdu entrou em contato comigo via MSN e levou uns três meses até me convencer de que não era uma pegadinha", recorda a artista. Ela ainda não entendia como podia ter conquistado público tão distante da cidade natal. "Foi a primeira vez que fiz show fora de Curitiba e percebi que minha música estava se expandindo. Desde então, tenho uma história de amor com BH", declara. ''Foi a primeira vez que fiz show fora de Curitiba e percebi que minha música estava se expandindo. Desde então tenho uma história de amor com BH'', diz paranaense sobre retorno à capital mineira - Foto: Rodrigo Marques/DivulgaçãoQuando a Mamacita se apresentou sob o Viaduto Santa Tereza, ainda não era a cantora do hit Tombei e sequer tinha alcançado o reconhecimento nacional de que desfruta no último ano. Agora, emociona-se ao saber que a finalista belo-horizontina para a etapa nacional do Duelo de MCs é Clara Lima, de 16 anos: "Fiquei até arrepiada quando você me contou isso".

Representatividade feminina e negra na música é essência da Karol que atualmente toma os palcos porque ontem foi necessidade para a pequena Karoline, em um bairro pobre de Curitiba.

"Hoje já é possível termos artistas negras como referência. Na minha infância era difícil, me inspirava muito nas americanas. Brasil tem esse lance de americanizar tudo e nos ensinar que o que vem de fora é melhor", ela lamenta.

 

Também tô carregada de argumento — "Do lugar de onde eu vim, de uma família humilde na periferia, só ouvia coisas negativas. Se fosse depender do que ouvi na minha infância eu não seria essa pessoa que inspira outras", admite.

 


Peguei sua opinião/ 1, 2 pisei: Karol explica que ignorou o desencorajamento racista e machista para tornar-se autora de letras que convocam o público jovem a se amar mais, se aceitar nas diferenças e exigir respeito. "Fiz uma escolha, que era não escutar essa negatividade. Hoje eu canto essa mensagem positiva, mas já fui a pessoa que precisava ouvir tudo isso alguns anos atrás".

A chance de ser essa voz vem em um momento propício já que, para Karol, o conflito entre preconceituosos e minorias ganhou contornos de guerra graças ao anonimato da internet. "As pessoas mostram mais o que querem falar e, com isso, a gente acaba vendo o quanto ainda existe preconceito. A internet expõe perfis fakes para ofender negros, gays e mulheres", observa.

Mas Enquanto mamacita fala, vagabundo senta — "Vivemos uma fase boa e ruim. Boa porque a gente vê as pessoas rejeitadas tendo voz, nunca vivenciei um momento tão transparente no Brasil. Mas também é muito triste porque parece que tá rolando uma guerra, gente querendo voltar a tempo em que a mulher nem podia respirar direito".

 

 

Se bater de frente, perigo é cair

Ainda sobre o passado, Karol Conka tem muito a dizer sobre o machismo que domina a cena de rap e hip hop.

"Não precisei conquistar meu espaço tão na marra porque levo as dificuldades com leveza, mas senti o absurdo desde o começo. Os homens acham que a menina chega no rolê e está disponivel para uma noite de amor ou transa, apenas por estar ali", ela se recorda. "Me deixava chateada quando eu fazia uma rima e os caras pediam meu telefone, para me chamar para sair. Sempre fui mais dura, direta: isso durava cinco minutos e depois saíam fora, porque eu estava ali trabalhando".

 

A ascensão também veio acompanhada do julgamento preconceituoso, ela lembra. "O que aconteceu depois foi um milagre: um rapaz de Curitiba me colocou para abrir shows de rap já no comecinho. Aí falavam que eu só estava naquela posição, sobre o palco, porque tinha me relacionado com vários caras", aponta Conka. A despeito das críticas, ela seguiu em frente e pretende continuar: "Eu sabia o que vim fazer no mundo. Tapei os ouvidos e segui meus instintos". Karol enfrentou críticas com trabalho: ''Fiz uma escolha, não escutar a negatividade. Hoje eu canto essa mensagem positiva, mas já fui a pessoa que precisava ouvir tudo isso alguns anos atrás'' - Foto: Rodrigo Marques/DivulgaçãoEntão fala direito
A Karol Conka que retorna a Belo Horizonte tem muito mais bagagem e experiência que a visitante da primeira vez. Nos últimos doze meses, ela tornou-se fenômeno nacional com canções pop baseadas em parcerias — bota esse som no talo.

Com o DJ paulista Boss in Drama foram Toda doida (2013) e Lista VIP (2015), que juntas somam mais de 1,5 milhão de visitas no Youtube. Tombei, o hit definitivo, veio com o duo Tropkillaz, que também assina a direção geral do próximo álbum de Conka. "Quis me jogar, gosto de me aventurar e não me sinto presa a um estilo só", ela diz sobre sua incursão nas pistas de dança.

Dá1Like, com a Banda Uó, é o lançamento mais recente. "São parcerias muito pop porque Boss in Drama e Banda Uó são desse meio. Lista VIP não é uma música que eu faria para lançar no meu disco, faria somente com o Boss porque foi criada pensando nesse universo pop, para esse público que me chama de diva", diz Karol.

 

 

A primeira faixa de divulgação da nova obra já está pronta e ela promete que chega ainda esse ano para os fãs. Apesar da onipresença dos Tropkillaz, a cantora adianta que não terá muito do hit no disco de inéditas. "O estilo do novo single é totalmente diferente de Tombei e dos outros lançamentos recentes, tem uma pegada mais Batuk freak", ela antecipa, referindo-se ao álbum de estreia lançado em 2013. Um dos colaboradores é Diplo, DJ norte-americano que responde por sucessos de popstars como Madonna e Beyoncé — além de dominar as pistas alternativas com os projetos Major Lazer e Jack Ü.

 

O retorno de Karol ao rap e hip hop do primeiro trabalho acontece de forma natural e ela comemora por perceber que os fãs conquistados nas pistas de dança estão dispostos a fazer a viagem de volta a seu lado. "O público pop já descobriu o Batuk pela internet e está me pedindo esse estilo. É interessante quando o artista leva o público, e não o contrário", ela vibra.

 

 

 

Festival CHACOALHA

Shows de Carol Conka, Violentango e Iconili. Sexta-feira, 13 de novembro, a partir das 22h na Quadra da Escola de Samba Cidade Jardim (Rua do Mercado, s/nº - Conjunto Santa Maria). Ingressos a R$ 25 antecipados e R$ 30 na portaria. Vendas pela internet. Mais informações na página do evento no Facebook.

 

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