Amanhã, BNegão e a banda Seletores de Frequência chegam a BH para lançar o disco Transmutação – o terceiro do coletivo, depois de Enxugando gelo (2003) e Sintoniza lá (2013). Bernardo diz que o novo trabalho traduz a necessidade urgente não só do brasileiro, mas do mundo, de se transformar diante da energia pesada destes tempos. A crise é global, defende ele, alertando que ela não se resume a nosso país. “Dá para transmutar. A gente consegue pegar esse limão transgênico azedaço e fazer uma bela vitamina orgânica. Se não for assim, a violenta pressão econômica e energética que está enlouquecendo o planeta vai implodir as pessoas”, prevê.
MICROPARTE “Tá na hora de evolucionar”, convoca ele em No momento (100%). “A sua microparte é mais importante do que você pensa.” O músico trata seus gurus como “jardineiros da sabedoria e da esperança”: Milton Santos, Martin Luther King, Dalai Lama, Tom Zé, Gandhi e Darcy Ribeiro. “Pra mim, ele é como um tio distante”, diz o fã do antropólogo mineiro, ambos escorpianos nascidos em 26 de outubro. BNegão afirma que chegou a hora de repensar profundamente o país, criticando o “clima Galo e Cruzeiro” em que o Brasil mergulhou, marcado pela intolerância. “A revolução real começa em cada um de nós, de dentro para fora”, acredita.
Transmutação aposta na profunda conexão entre o coração das pessoas, suas atitudes concretas e o mundo. São 10 faixas autorais, parcerias dele com os companheiros do Seletores, além da releitura de Fita amarela, clássico de Noel Rosa que zomba alegremente da morte.
Sobrinho do mestre do samba-jazz J. T. Meirelles (1940-2008), Bernardo se define como “objeto sonoro não identificado”. A “prateleira” do rap, há muito tempo, ficou pequena para esse fã de Racionais MCs, Public Enemy, Thaíde e DJ Hum, que ultimamente tem se juntado a D2 para revivals do Planet Hemp.
ÁFRICA BNegão explica que seu negócio é “música negra universal”, a partir das matrizes africanas. Fortemente marcado pela percussão e a sonoridade do candomblé, Transmutação chega com consistência melódica e forte presença dos metais.
Além de Bernardo, a banda reúne Pedro Selector (trompete), Fabiano Moreno (guitarra), Fábio Kalunga (baixo) e Robson Riva (bateria). O show está marcado para este sábado, às 22h, na Spasso Escola de Circo, Av. Francisco Sá, 16, Prado. Ingressos: R$ 35 (1º lote) e R$ 40 (2º lote). Informações: (31) 3275-1205.
B Negão é um alquimista de sons e ideias. Cria do underground carioca, fundador da banda The Funk Fuckers e linha de frente do Planet Hemp ao lado de Marcelo D2 até 2001, o cantor e compositor Bernardo Santos, de 42 anos, sabe mesclar rap, funk setentista, samba, reggae, rock e tambores da Mãe África. E com uma vantagem: o rapaz tem assunto. Místicas e politizadas, suas letras convocam a trocar o baixo-astral militante pelo desafio de mudar o mundo. Sem soar a clichê bicho-grilo, sem ser panfletário.