Se há um bom exemplo de personificação do mito da fênix na música pop recente é o de Janet Jackson. Irmã mais bem-sucedida de Michael Jackson, ela acaba de lançar Unbreakable, seu primeiro disco desde a morte de Michael, em 2009, e foi logo para o primeiro lugar das paradas de sucesso americanas. Além disso, foi indicada para entrar para o Rock’n’roll Hall of Fame em 2016, ano em que completa 50 anos de idade. E foi homenageada por vários cantores da nova geração da cena indie no álbum Dear Janet, com recriações de 16 de seus hits.
Nada mal para quem ficou sete anos sem gravar e parecia estar com a carreira comprometida. Em 2004, durante uma transmissão ao vivo do Superbowl, momento de maior audiência da TV americana, um problema com sua roupa deixou um seio à mostra, provocando reação negativa no conservador público americano.
Coincidência ou não, seus dois discos posteriores, 20 Y O (2006) e Discipline (2008), foram fracassos artísticos e comerciais. E ela ainda se separou de um marido, Germaine Dupin, e, recentemente, esteve no Brasil para visitar o pai, que veio para fazer uma grande festa de seu 87º aniversário e acabou internado num hospital em São Paulo.
No álbum, o 11º de uma carreira bem-sucedida, ela teve a sorte e a habilidade de reencontrar a dupla de produtores Jimmy Jam & Terry Lewis, habituais colaboradores de Prince e responsáveis por definir, há três décadas, sua sonoridade – e fundamentais para obter números impressionantes de vendagem, como a marca de mais de 160 milhões de discos vendidos, com 46 músicas em charts da Billboard, sendo 18 top 10 consecutivos.
LADO A/LADO B Longo para os padrões da música pop, com 18 músicas divididas em “lado A” e “lado B”, Unbreakable retoma o misto de r’n’b, funk, música eletrônica, temas para animar pistas de dança e canções românticas, com timbres muito bem definidos e timing perfeito para rádios, dispositivos móveis e tablets.
Casada, desde 2012, com o bilionário empresário Wissam Al Mana, do Qatar, Janet tem como maiores trunfos, além da personalidade marcante, a voz segura que contrasta com os excessos e malabarismos da maioria das atuais estrelas da cena pop. Com isso, ela consegue apresentar temas para pistas de dança, como Burnitup (com Miss Elliot), Damn Baby e a faixa-título, um funk com groove irresistível, sem parecer fazer muito esforço para soltar a voz.
Do outro lado, soa convincente na balada de levada country Lessons learned, na balada/canção de ninar After you fall, e na doce 2 be loved, que lembra um tema de musical ou de filme da Disney. Lembra o estilo do irmão em dois temas matadores, The great forever e Take me away; trata da perda de Michael em Broken hearts heal e reverencia os ídolos Isley Brothers (na faixa Dream maker/Euphoria) e Sly Stone (Gon’b alright) e mostra que é boa de tocar no rádio com o primeiro single, No sleeep, com o rapper J. Cole. E ainda tem a ousadia de gravar um balada de voz e piano (After you fall).
Unbreakable é, em síntese, o que se chama disco de indústria. Não provoca revoluções, não apresenta maiores ousadias, mas confirma a habilidade de ser pop e comercial de uma musa das décadas de 1980 e 1990. Em tempos de muita histeria e pouca melodia, um alento.