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'As paisagens conhecidas'

Dupla Os Arrais lança terceiro trabalho e faz turnê pelo Brasil

Destaque no mercado gospel, irmãos usam metáfora da navegação para tratar dos dilemas da vida. ''Estamos todos num barco da experiência humana'', diz Tiago Arrais

Abner Barbosa

Irmãos se apresentam no Teatro Bradesco, em BH, com a participação do produtor Andy Gullahorn - Foto: Abner Barbosa/EM/D.A PressTiago e André Arrais, dupla gospel conhecida no cenário musical como Os Arrais, embarcam em turnê de lançamento do seu terceiro trabalho autoral, o EP As paisagens conhecidas.

O lançamento ocorreu no último 16 de outubro e alcançou, na mesma semana, o primeiro lugar no ranking de CDs mais baixados do Google Play. As pré-vendas, que começaram no dia 2/10 com preço promocional, também deram à dupla o topo dos álbuns mais acessados pelo iTunes.

Apesar de As paisagens conhecidas trazer apenas cinco canções (todas inéditas), a melancolia e o lirismo da dupla presentes no CD anterior Mais, lançado em 2014, marcam cada faixa. “Os Arrais hoje representam um estilo diferenciado dentro deste balaio de ritmos e propostas artísticas. Há um movimento novo, que vem crescendo no segmento artístico cristão, que inclui referências modernas e propostas de composições mais criativas e longe do lugar-comum da música gospel de até então. Os Arrais contam com uma influência forte do folk norte-americano, mas principalmente se diferenciam pelos temas que abordam em suas canções e pela própria complexidade de suas ideias”, afirma Maurício Soares, diretor da Sony Music.

 


Tiago Arrais afirma que o novo EP é uma continuação do CD Mais. No penúltimo trabalho da dupla, as canções – muitas vezes nascidas de experiências pessoais traumáticas – retratavam aflições que os irmãos passaram nos Estados Unidos.

“O último CD termina com todo mundo num barco, abrindo as velas e navegando na esperança de compreender, pela manhã, quem somos e a realidade que nos cerca. O novo EP começa com o desejo de respirar e avistar outras colinas, ou seja, essa busca pelo ideal, por essa realidade além do mar (que mais uma vez representa essa esperança humana)”, afirma Tiago.

Os dois CDs fazem parte de um projeto da dupla que deve se encerrar com o lançamento de mais um EP. “Ao contrário do CD Mais, que termina com essa viagem em busca do novo, As paisagens conhecidas termina com o barco atracando numa terra onde a ganância é lei. E agora, o que vamos fazer? O barco saiu um pouco do ideal para a realidade. O novo EP traz uma ideia de como viver nessa realidade”, conclui. O choque com essa realidade pode ser evidenciado pela musicalidade presente na última canção do EP. Em contraposição à serenidade e à leveza do início da embarcação, na primeira música, Fogo abre espaço para a bateria, notas pesadas e um ritmo muito mais intenso. Agora, os navegadores pisam em terra firme, ouvem o choro da angústia de um povo escravo e precisam atear fogo no que resta de sua embarcação para que não sejam tentados a abandonar a missão.

Os Arrais já se apresentaram em Belo Horizonte, Manaus e Rio de Janeiro e seguem com a turnê para João Pessoa, Recife e São Paulo. A última apresentação será em Arujá-SP, na qual vão participar da terceira edição do Rock No Vale, evento que propõe um momento de reflexão e resgate dos valores e princípios cristãos de cuidado e zelo com a Terra e, consequentemente, com os seres vivos que nela habitam. Além dos músicos, o evento terá a participação de artistas como Tiago Iorc, A Banda Mais Bonita da Cidade, Marcos Almeida, entre outros.

OS ARRAIS

Tiago e André Arrais acreditam que existe uma dimensão para o nome da dupla que vai além de um simples sobrenome. Arrais, no dicionário da língua portuguesa, significa “condutores de embarcações pequenas”. Coincidência ou não, esta é a conotação que mais se encaixa com sua música e poesia. “É uma temática que usamos bastante como metáfora para a existência humana.
Estamos todos num barco da experiência humana, sujeitos às intempéries, às tempestades, às nuvens, ao sol escaldante, ansiando por chegar nesse outro lado”, comenta Tiago.

Irmãos acreditam na proposta de um ritmo diferenciado, melancólico e lírico - Foto: Abner Barbosa/EM/D.A PressOs irmãos são de São Paulo. O primeiro contato da dupla com a música veio por meio da mãe, que é cantora e pianista. Ainda na infância, o primeiro instrumento que André aprendeu a tocar foi violino; Tiago, flauta transversal. Durante a adolescência, aprenderam a tocar violão e começaram a escrever as próprias músicas no fim do ensino médio.

 

Ao entrar para a faculdade, a dupla intensificou a produção das composições, porém, sem ainda alcançar projeção. No fim de 2005, fizeram a primeira apresentação para alguns amigos e conhecidos. Em 2007, lançaram o primeiro CD, Introdução.

Tiago Arrais viajou para os EUA para dar continuidade aos estudos teológicos e finalizou o doutorado em Antigo Testamento e Filosofia Cristã na Andrews University, no interior de Michigan. De volta ao Brasil, Tiago é professor na Universidade Adventista de São Paulo - Engenheiro Coelho (Unasp-EC).

Graduado em direito e com mestrado em teologia, André Arrais é pastor de duas igrejas Adventistas do Sétimo Dia na região de Albuquerque, no Novo México.

Cinco anos depois do lançamento do primeiro CD, em 2014, Os Arrais gravaram seu segundo álbum (Mais) pela gravadora Sony Music, na cidade de Nashville, no Tennessee. Com menos de 24 horas de lançamento, o álbum chegou ao primeiro lugar geral no iTunes Brasil.

A dupla acredita que o novo EP é um ponto de encontro para todas as pessoas – ou melhor, embarcações. “O sofrimento é algo que conecta todo mundo.

Todo mundo sofre e todo mundo tem momentos de alegria. As pessoas se identificam com esse sofrimento e essa esperança. Todo mundo tem essa carência e necessidade de buscar algo maior, que muitas vezes não vêm. É um ponto para refletirmos sobre a nossa condição humana de paz, esperança, tristeza, alegria etc.”, afirma André.

Tiago Arrais acredita que não conseguiria viver apenas da música, porque teria que cantar algumas canções , por obrigação. “Tem coisas que não cicatrizaram ainda. Ter que cantar algumas músicas muitas vezes e falar as coisas quando isso virar mecânico, não sei como lidaria com isso".

Ele cita que a música O Bilhete e o trovão foi composta num momento de grande tristeza. “No ano de 2014, eu e minha esposa estávamos no mar da nossa existência, quando nossas embarcações passaram por uma tempestade. Ela estava grávida de gêmeos. Ficamos felizes. Pouco tempo depois, minha esposa teve uma complicação na gestação e perdeu os bebês. Nós os enterramos perto da nossa casa”, conta, emocionado.

Apesar de ser a música mais difícil para o músico tocar, ele acredita que precisa compartilhar isso com pessoas que estejam passando por alguma tribulação. “No meio da tormenta, escrevi essa música, depois de muitos meses sem escrever nada", conta. O Bilhete e o trovão é a segunda canção do EP As paisagens conhecidas.

LETRA:
No silêncio
Na calmaria que antecede a dor
No escuro
Na pausa entre a chuva e o primeiro trovão

SEJA minha canção
Estrofe, ponte e refrão

Quando a porta
Recusa a se abrir e eu bato em vão
Quando vejo
De longe o trem partir com o bilhete em minhas mãos

SEJA minha canção
Estrofe, ponte e refrão

Quando o lápis
Resiste obedecer e eu tento me impor
Quando o copo
Balança em minhas mãos e eu temo compor

SEJA minha canção
Estrofe, ponte e refrão

SEJA minha canção
O primeiro trovão
Seja minha canção
O bilhete em minhas mãos

SEJA tudo que perdi
SEJA o que está por vir
SEJA o que está por vir

SONY MUSIC GOSPEL

O mercado de música gospel vem a cada dia crescendo em visibilidade e importância dentro da Sony Music. De acordo com Maurício Soares, diretor da A&R da indústria, no Brasil, a gravadora foi pioneira na implantação de um departamento dedicado à área entre todas as filiais da companhia no mundo e hoje este projeto já está servindo como modelo para países como Portugal, Colômbia, México e Espanha. “Nos últimos dois anos, a área de música gospel representou 20% do resultado líquido da empresa no Brasil, o que é um número fantástico se levarmos em consideração que o projeto tem apenas cinco anos de implantação e pela qualidade do restante do cast da gravadora na área secular”, conta.

A Sony Music entrou no mercado gospel no Brasil em 2010 e vem se destacando por trabalhar com diferentes artistas. “A música gospel não é um estilo único, muito pelo contrário. Dentro do gênero há uma riqueza significativa de estilos, formatos, sonoridades” comenta o diretor, que também desenvolve projetos com Leonardo Gonçalves, Mariana Valadão, Paulo César Baruk e outros representantes da música gospel. “Somos um povo musical e o segmento evangélico parece potencializar ainda mais esta característica”, conclui.

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