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O dia foi da nova música de Adele, mas por quanto tempo 'Hello' tem relevância?

Primeiro single do álbum '25' melhora a cada audição, mas luta para não soar genérica

Agência Estado

A luta contra a expectativa é a mais cruel de todas. Talvez porque a vitória seja impossível. Sair vencedor diante de tudo aquilo que se imagina, seja para si próprio, seja pelas pressões externas, é tarefa hercúlea, digna apenas dos grandes. Dos gênios. Sempre foi essa a questão para britânica Adele. É genial? É brega? Ambos? Nenhum deles? Ou apenas uma garota com boa voz, bons produtores e com talento para versos agridoces?



Para qual lado correr depois de 21, disco mais vendido no globo por dois anos seguidos? Não gostaria de estar na pele dela ao longo destes anos - é claro, não recusaria ter uma conta bancária cheia de milhões de libras, entenda que a questão aqui é a busca de identidade artística após um sucesso massivo. Adele é, sem dúvida, a maior artista da indústria fonográfica desta geração. Ninguém foi tão bem aceito por público e crítica como ela, então com 21 anos e um coração partido.

 

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Ela nunca escondeu que as canções melancólicas de 21, segundo álbum dela, eram baseadas em experiências pessoais. Seu coração inglês foi partido em pedaços microscópicos. E, com um vozeirão incomum, ela colocou tudo para fora. Atingiu a todos. Um por um. Mas, como ela mesma escreveu em um comunicado, "a vida aconteceu" para Adele. Virou mamãe, casou-se. Viveu seu conto de fadas colorido que parecia distante no cinzento presente de 21.

''Sofrência'' da britânica ainda é executada com perfeição, mas pode soar menos realista
Veio, então, 25 (sim, ela gosta de colocar sua idade no título de seus álbuns, mas já prometeu parar depois deste). E, como primeiro single, lançou Hello. A primeira canção desde Skyfall (faixa-tema do último filme do espião James Bond, outro sucesso popular estrondoso) é corajosa, embora careça de impacto.

Diferentemente de Someone like you, Rolling in the deep, Set fire to the rain, torpedos do álbum de 2011 que entravam pelos ouvidos e se dirigiam diretamente para o coração, na tentativa de quebrá-lo tanto quanto o de Adele na época, o primeiro single do disco a ser lançado em 20 de novembro é indireta.

Melhora a cada audição, é verdade. Cresce como uma sombra no pôr do sol. Estica-se enquanto o astro se despede, até a escuridão total. As comparações com Hello, de Lionel Ritchie, espalharam-se pelas redes sociais porque, afinal, parece que é para isso que elas foram criadas: reproduzir as bobagens divertidas e tirar sarro da vida. Mas não é preciso levá-las a sério.

Hello de Adele, contudo, é um grito de conciliação, como ela mesma disse. Suas palavras são literais e desenham essa tentativa de reencontro entre dois ex-amantes separados pelo mundo, pelos anos, pelas vidas adultas que cada um precisou seguir.

 

Arrependimento atormenta aquele que está do lado de cá da ligação telefônica. Pede perdão. Implora. Mas não sabemos a resposta ou se há, de fato, alguém do outro lado da linha.

Não há inovação estética na faixa, assinada por ela e pelo produtor Greg Kurstin. A voz da cantora ainda troveja, assentada confortavelmente por arranjos minimalistas. Cordas são ouvidas ao fundo nos versos mais serenos, enquanto pratos anunciam as chegadas dos momentos mais explosivos. Ainda assim, é um alívio perceber que a vida atual da britânica não tirou o amargor de suas canções. Com a repetição, percebe-se que ela não soa genérica. Pelo contrário. Adele não perdeu o vazio no peito que fez dela quem é - pelo menos, sua figura artística ainda sobrevive sob uma paleta de cores acinzentada.