Com a maioria das nove faixas com vídeos disponíveis na internet, Rio de choro é bem comportado, no melhor dos sentidos, e ensolarado como as fotos de capa e divulgação, mostrando jovens sorridentes e de bem com a vida, que parecem ter acabado de sair do banho. Com uma sonoridade que lembra Céu da Boca, Nós & Voz e outros coletivos vocais dos anos 1980, 1990 e 2000, o CD abre com uma brasileiríssima fusão dos choros André de sapato novo (André Correa) e Tico-tico no fubá (Zequinha de Abreu) e amplia o leque logo na segunda faixa. O Baião de quatro toques, homenagem de Zé Miguel Wisnik e Luiz Tatit a Luiz Gonzaga e Beethoven, ganha reforço de Brasileirinho (Waldir Azevedo) e realça a sensação de demolir muros entre gêneros e estilos.
Um chorinho em Cochabamba, dos conterrâneos Rogério e Caetano, recebe letra inédita e uma levada de salsa que convida a pelo menos bater o pezinho e batucar na mesa. A seriedade volta com a versão de Linda Flor (Henrique Vogeler e Luiz Peixoto). Considerado o primeiro samba-canção gravado, recebe citação do grupo americano Take Six no final. Coisa de especialista, emendada com versão à capela da Rosa de Pixinguinha, num arranjo cheio de filigranas.
Numa entrevista antiga, Ordine classificou os ensaios do sexteto como “lúdicos até demais”, com referência ao bom astral da trupe. Essa descontração aparece nitidamente no samba Tipo zero, de Noel Rosa, e ajuda a tirar um pouco da solenidade do Choros 1, de Villa-Lobos, que ganha percussão de bateria de carnaval, a cargo de Mateus Xavier, parceiro de outras empreitadas nos blocos Sargento Pimenta e Pipoca e Guaraná.
Já no choro Santa morena (Jacob do Bandolim), o tempero extra fica por conta do tratamento espanholado e da conexão com o flamenco. Como num musical, a faixa de encerramento é a ufanista Vide gal (Carlinhos Brown), hit de Marisa Monte e Daniela Mercury em que o Ordinarius arrisca uma leve conexão com o funk e que ganha, em vídeo, imagens do Rio de Janeiro alusivas ao aniversário de 450 anos da cidade.