Semana passada, o compositor mineiro Marco Antônio Guimarães resolveu criar um perfil pessoal no Facebook – justo ele, que se tornou conhecido pelo jeito reservado e sempre foi avesso a entrevistas. Pois anteontem, o fundador do Uakti e idealizador dos inusitados instrumentos musicais que viraram marca registrada do grupo – feitos com materiais como PVC, borracha, vidro e madeira –, publicou mensagem comunicando o fim do Uakti, após 37 anos da vitoriosa carreira, que começou em Belo Horizonte e ganhou o mundo.
Na rede social, Guimarães escreveu: “O Uakti acabou. Problemas internos, pessoais tornaram impossível a continuidade do grupo”. A isso acrescentou que colocará em prática seu “plano A”, aulas de criação artística que dará na sede do grupo, no Bairro Prado, voltadas não apenas a músicos, mas também para artistas de outras áreas, professores e leigos. O plano B é colocar à venda todo o acervo que reuniu nos últimos 45 anos de atividade musical.
“Todos os instrumentos, todas as esculturas sonoras, material e método que criei para iniciação musical de crianças, toda a oficina com ferramentas e estoque de material para manutenção dos instrumentos, além de desenhos e projetos de peças que não cheguei a construir. Não pretendo vender instrumentos ou objetos avulsos – a ideia é negociar todo o acervo. Se alguém souber de pessoas ou entidades que possam se interessar em adquirir todo esse material, favor enviar contatos”, afirma na postagem.
“Em breve novo site” é o que anuncia a página do grupo na internet, mas, na realidade, não é o que parece estar prestes a acontecer – o restante do conteúdo, inclusive, está indisponível. O último show foi em agosto, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e está previsto para o mês que vem o lançamento do disco Planetário, o 13º da carreira do grupo, que tem inéditas de Andrés e Santos e participação de formação de cordas integrada por músicos das orquestras filarmônica e sinfônica de Minas Gerais. Gravado este ano, será distribuído pela Sonhos e Sons.
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Com isso, outros projetos ligados ao Uakti estão com futuro incerto. O principal é o da sede do grupo, anunciada em 2011: seria em terreno próximo ao Hospital da Baleia (que já havia cedido a área), no Bairro Saudade, na capital mineira, com espaços para construção e exibição dos instrumentos, estúdio, salas de aula, teatro e apartamentos para abrigar artistas residentes. Na mesma ocasião, os músicos comentaram sobre a possibilidade de gravar outro álbum com o compositor norte-americano Philip Glass, parceiro no disco Águas da Amazônia (1999).
O anúncio do fim do Uakti foi feito cerca de sete meses depois do desligamento de Décio Ramos, que, na época, declarou não ter interesse em seguir carreira solo nem com outro grupo. Em julho, os músicos Kristoff Silva, José Henrique, Josefina Cerqueira, Regina Amaral e Alexandre Andrés (filho de Artur) acompanharam Andrés e Santos em show na Praça Floriano Peixoto, em BH. Marco Antônio Guimarães deixou os palcos nos anos 1990, mas permaneceu nos bastidores como diretor artístico, principal compositor e construtor dos instrumentos.
Artur Andrés e Paulo Santos têm outros projetos musicais, mas preferiram não falar sobre os destinos de suas carreiras no momento. O primeiro, por exemplo, mantém duo com a mulher, a pianista Regina Amaral, dedicado à obra do compositor armênio George Gurdjieff e com discos lançados. Já o segundo desenvolve trilhas sonoras para espetáculos e vídeos, atua com o videoartista Eder Santos e a banda paulistana Hurtmold e é diretor da ONG Instituto Kairós, em Macacos (MG).